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quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Vaticano: é preciso ver o rosto humano da migração

27 milhões de pessoas vivem na escravidão. O Observador Permanente da Santa Sé na ONU considera como a globalização afecta a migração


Roma, 29 de Outubro de 2014 (Zenit.org)


Quando a globalização "une as pessoas como parceiros iguais, cria resultados mutuamente benéficos" e proveitosos para todos. Caso contrário, agrava as desigualdades, gerando "marginalizações, exploração e injustiça". O arcebispo Bernardito Auza, observador permanente da Santa Sé na ONU, tem sido o responsável por transmitir esta mensagem em seu discurso em Nova York na sessão 69ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre o tema: "Globalização e independência". Assim Dom Auza destacou durante seu discurso - publicado em parte na Radio Vaticano – o fenómeno das migrações e do papel da cultura.

Dessa forma, o prelado recordou que "um dos maiores desafios da globalização é a migração". Começando do desafio central para as metas de desenvolvimento em 2015, ou seja, garantir a todos os benefícios da globalização, o observador do vaticano lembrou que hoje em dia “só uma colaboração sistemática e activa entre os Estados e as organizações internacionais pode ser capaz de regular e gerir de forma eficaz os movimentos migratórios”.

Por outro lado, lembrou que o desafio da migração afecta a todos, “não só por causa da entidade do fenómeno, mas também pelos problemas sociais, económicos, políticos, culturais e religiosos que gera”. Da mesma forma, demonstrou a sua preocupação por “evidenciar os casos especialmente preocupantes de tráfico de seres humanos e de formas contemporâneas de escravidão" geradas pelas migrações: 27 milhões de pessoas vivem em condições de escravidão em todo o mundo, por causa da exploração sexual, trabalho forçado e negação de direitos fundamentais.

O prelado observou que estima-se que a cada ano cerca de dois milhões de mulheres são vítimas do tráfico para fins sexuais e muitas pessoas, incluindo crianças, estão no centro do tráfico ilegal de órgãos. Ainda mais são o que trabalham em fábricas por longas horas, mal pagos e sem protecção social e legal.

Por esta razão, Dom Auza afirmou que "estas formas de escravidão são o oposto de uma globalização impulsionada pela cultura do encontro e dos valores da solidariedade e da justiça". Aliás, disse que o papa Francisco afirma que estas formas de escravidão moderna "são um crime contra a humanidade e uma ferida aberta no corpo da nossa sociedade contemporânea".

Conhecendo a complexidade do fenómeno migratório, o observador do Vaticano disse que "é sempre necessário ver o rosto humano da migração, ver o imigrante como outro ser humano” dotado dos nossos mesmos direitos e dignidade. Porque só assim – afirmou – será possível “responder à globalização da migração com a globalização da solidariedade e da cooperação" acompanhando-a com "esforços para levar a paz para regiões de conflito e uma ordem económica e mundial mais igualitária."

Concluindo seu discurso, o arcebispo explicou que um dos principais motores da globalização e da interdependência é a cultura. "O turismo cultural é responsável por 40 por cento das entradas de turistas em crescimento no mundo. Mas a ênfase não é colocada só na economia, mas também nos benefícios intangíveis e não monetários", observou. Como por exemplo, o que acontece quando "se aprofunda o conhecimento sobre povos e lugares”, promove-se a "compreensão mútua" e uma "maior inclusão social”, amplia-se a consciência da necessidade de "proteger maravilhas naturais". Em síntese – esclareceu o arcebispo – a cultura é veículo privilegiado para expressar e compartilhar a nossa humanidade”. 

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