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quarta-feira, 22 de outubro de 2014

A adopção corre o risco de desaparecer se não contar com um forte testemunho

O flagelo da esterilidade é curado pelo acolhimento de um filho; o flagelo do abandono é curado pela proximidade dos pais


Roma, 21 de Outubro de 2014 (Zenit.org) Osvaldo Rinaldi


As estatísticas sobre as adopções na Itália no primeiro semestre de 2014 são alarmantes: forte queda de 30% no número de processos concluídos. São números que denunciam a situação de abandono do desejo da missão adoptiva por parte das famílias.

Neste contexto, é quase natural a pergunta: por que a fertilização homóloga, a fertilização heteróloga e a barriga de aluguel parecem exercer mais fascínio do que a opção pela adopção de crianças que já existem e que precisam de pais?

O que parece estar em questão não é apenas um tipo de acolhimento, mas a própria maneira de se pensar sobre o sentido da vida.

A família que escolhe a missão adoptiva passa da aceitação da esterilidade biológica ao maduro desejo de fecundidade espiritual. A família adoptiva entendeu que a paternidade e a maternidade podem existir sem a concepção. É possível ser mãe ou pai sem ter procriado. Os pais adoptivos se sentem chamados a cuidar de uma vida nascente abandonada a si mesma.

E parece ser exactamente este o aspecto que desencoraja muitos casais. A idade das crianças adoptáveis ​​está ficando cada vez mais alta. Muitos têm medo de ser rejeitados ou de ter que suportar muitas rebeliões das crianças. A incorporação dos filhos adoptivos à família requer dos pais uma santa paciência que é continuamente testada pelos desafios contínuos das crianças, que, desta forma, expõem os seus próprios medos e procuram constantes reafirmações de afecto.

O filho adoptivo vive uma contradição: por um lado, ele quer mostrar a sua identidade com as atitudes típicas da fase adolescente; por outro, ele procura as protecções e reafirmações características da infância.

Mas todas essas situações estão presentes, talvez em menor grau, também nas crianças que vivem com a família biológica.

Então por que é descartada, com frequência cada vez maior, a escolha da adopção por parte das famílias que descobrem a sua esterilidade biológica?

Talvez a questão mais profunda diga respeito à visão da vida e à fé. As histórias bíblicas de duas pessoas adoptadas, como Moisés e Ester, mostram que a adopção é um chamado de salvação não apenas pessoal, mas também para os próprios pais adoptivos e para toda a nação a que se pertence.

Ester salvou não só o seu pai, Mardoqueu, mas todo o povo de Israel que estava disperso pelo vasto reino do rei Assuero. Antes de tudo, porém, não devemos nos esquecer de que Ester também foi salva, através da adopção, pelo pai adoptivo Mardoqueu. Este é um luminoso exemplo da reciprocidade de salvações que existe na adopção.

Por estas razões, a esterilidade de um homem e de uma mulher encontra a resposta mais humana e mais natural na adopção, porque a alegria vem do serviço generoso e altruísta de cuidar dos mais vulneráveis, as crianças abandonadas.

Em conclusão, o remédio para fazer a adopção sobreviver é convidar ao testemunho as poucas famílias que foram chamadas a proclamar que é possível viver bem mesmo quando os filhos nasceram em outro continente; é possível compreender-se e amar-se mesmo quando não se viveu uma vida longa juntos; é possível chamar de mãe e de pai também aqueles que não deram à luz essas criaturas humanas a quem, porém, eles nunca abandonaram.

A missionariedade de uma família adoptiva não está apenas em aceitar um ao outro e em procurar a harmonia e a partilha em família, mas também em dialogar com todos os que rejeitam a adopção a priori.

O diálogo deve servir principalmente para destacar os vários aspectos de alegria e de esperança que brilham numa família adoptiva. O testemunho é eficaz quando não esconde as dificuldades, mas, ao mesmo tempo, exalta as muitas vantagens e os muitos aspectos positivos que tornam a adopção um projecto de acolhimento, amor e salvação.

A adopção é realmente convincente quando torna visível aquele renascimento interior testemunhado pelos rostos de pais e filhos, curados espiritualmente graças ao enriquecimento mútuo proporcionado pelas suas feridas.

Este é o milagre da adopção: a dor da esterilidade dos pais curada pela chegada de um filho, e a dor do abandono curada pela proximidade, pela compaixão e pela esperança dos pais adoptivos.

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