O flagelo da esterilidade é curado pelo acolhimento de um filho; o flagelo do abandono é curado pela proximidade dos pais
Roma, 21 de Outubro de 2014 (Zenit.org) Osvaldo Rinaldi
As estatísticas sobre as adopções na Itália no primeiro
semestre de 2014 são alarmantes: forte queda de 30% no número de
processos concluídos. São números que denunciam a situação de abandono
do desejo da missão adoptiva por parte das famílias.
Neste contexto, é quase natural a pergunta: por que a fertilização
homóloga, a fertilização heteróloga e a barriga de aluguel parecem
exercer mais fascínio do que a opção pela adopção de crianças que já
existem e que precisam de pais?
O que parece estar em questão não é apenas um tipo de acolhimento, mas a própria maneira de se pensar sobre o sentido da vida.
A família que escolhe a missão adoptiva passa da aceitação da
esterilidade biológica ao maduro desejo de fecundidade espiritual. A
família adoptiva entendeu que a paternidade e a maternidade podem existir
sem a concepção. É possível ser mãe ou pai sem ter procriado. Os pais
adoptivos se sentem chamados a cuidar de uma vida nascente abandonada a
si mesma.
E parece ser exactamente este o aspecto que desencoraja muitos casais.
A idade das crianças adoptáveis está ficando cada vez mais alta.
Muitos têm medo de ser rejeitados ou de ter que suportar muitas
rebeliões das crianças. A incorporação dos filhos adoptivos à família
requer dos pais uma santa paciência que é continuamente testada pelos
desafios contínuos das crianças, que, desta forma, expõem os seus
próprios medos e procuram constantes reafirmações de afecto.
O filho adoptivo vive uma contradição: por um lado, ele quer mostrar a
sua identidade com as atitudes típicas da fase adolescente; por outro,
ele procura as protecções e reafirmações características da infância.
Mas todas essas situações estão presentes, talvez em menor grau, também nas crianças que vivem com a família biológica.
Então por que é descartada, com frequência cada vez maior, a escolha
da adopção por parte das famílias que descobrem a sua esterilidade
biológica?
Talvez a questão mais profunda diga respeito à visão da vida e à fé.
As histórias bíblicas de duas pessoas adoptadas, como Moisés e Ester,
mostram que a adopção é um chamado de salvação não apenas pessoal, mas
também para os próprios pais adoptivos e para toda a nação a que se
pertence.
Ester salvou não só o seu pai, Mardoqueu, mas todo o povo de Israel
que estava disperso pelo vasto reino do rei Assuero. Antes de tudo,
porém, não devemos nos esquecer de que Ester também foi salva, através
da adopção, pelo pai adoptivo Mardoqueu. Este é um luminoso exemplo da
reciprocidade de salvações que existe na adopção.
Por estas razões, a esterilidade de um homem e de uma mulher encontra
a resposta mais humana e mais natural na adopção, porque a alegria vem
do serviço generoso e altruísta de cuidar dos mais vulneráveis, as
crianças abandonadas.
Em conclusão, o remédio para fazer a adopção sobreviver é convidar ao
testemunho as poucas famílias que foram chamadas a proclamar que é
possível viver bem mesmo quando os filhos nasceram em outro continente; é
possível compreender-se e amar-se mesmo quando não se viveu uma vida
longa juntos; é possível chamar de mãe e de pai também aqueles que não
deram à luz essas criaturas humanas a quem, porém, eles nunca
abandonaram.
A missionariedade de uma família adoptiva não está apenas em aceitar
um ao outro e em procurar a harmonia e a partilha em família, mas também
em dialogar com todos os que rejeitam a adopção a priori.
O diálogo deve servir principalmente para destacar os vários aspectos
de alegria e de esperança que brilham numa família adoptiva. O
testemunho é eficaz quando não esconde as dificuldades, mas, ao mesmo
tempo, exalta as muitas vantagens e os muitos aspectos positivos que
tornam a adopção um projecto de acolhimento, amor e salvação.
A adopção é realmente convincente quando torna visível aquele
renascimento interior testemunhado pelos rostos de pais e filhos,
curados espiritualmente graças ao enriquecimento mútuo proporcionado
pelas suas feridas.
Este é o milagre da adopção: a dor da esterilidade dos pais curada
pela chegada de um filho, e a dor do abandono curada pela proximidade,
pela compaixão e pela esperança dos pais adoptivos.
(21 de Outubro de 2014) © Innovative Media Inc.
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