Páginas

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Era um jovem baptista, desde os 12 anos queria ser pregador: hoje é padre católico em ambulância

Sacerdote e capelão paramédico 

Lorenzo Hatch numa das suas primeiras missas com companheiros da sua promoção

Actualizado 7 de Outubro de 2014

P.J.Ginés/ReL

Na paróquia de Saint Stephen em Midland, Texas (uma população de 100.000 habitantes, com quase 40% hispânicos) não falta clero: contam com 3 sacerdotes e cinco diáconos, que atendem as suas 3 missas diárias e os domingos inclusive uma missa às 12:30 em espanhol.

A última aquisição da paróquia é o jovem padre Lorenzo Hatch, ordenado há um ano. Tem um par de peculiaridades.

Com os bombeiros e paramédicos
Por um lado, é capelão de um serviço de ambulâncias e tem um título de paramédico. Às vezes passa dois ou três dias seguidos entre ambulâncias e ambulatórios.

“Ir na ambulância afina as minhas habilidades. Vou com os bombeiros e com o pessoal de emergências médicas, ouço muitos em confissão, dou conselhos… O bichinho das emergências médicas nunca se me irá, encanta-me. Poder estar nisso e fazer um ministério eclesial à vez é uma grande bênção para mim, e para as pessoas, creio. Parece-me que gostam de ter alguém que fala a sua linguagem e sabe o que vivem”, explica o padre Lorenzo.

De família baptista anticatólica
A outra peculiaridade deste sacerdote é que se criou numa família protestante baptista de tradição muito anticatólica.

Desde menino quis servir a Deus como pregador, mas nessa época nunca pensou que finalmente o faria como sacerdote católico.

“De menino eu estava na igreja baptista cada vez que abria as suas portas. Inclusive mudámo-nos uma vez para estar mais próximo de uma igreja baptista, a um bloco de distância, para ir andando. Participámos em tudo”, recorda.

Ao jovem Lorenzo encantavam-lhe especialmente os acampamentos cristãos de Verão. “Eu era quase um profissional dos acampamentos de Verão”, brinca numa entrevista em Mrt.com.

Num desses acampamentos, quando tinha 12 anos, soube que Deus o queria para o fazer evangelizador. “Era o último dia do encontro, e o pregador dizia-nos ‘Deus os está chamando’. Era um sítio enorme com centenas de jovens, mas parecia que me falavam só para mim”.

- Sinto que Deus me está chamando para ser pregador – disse nesse momento a um monitor que tinha ao seu lado.

- Espera, sim?, só tens 12 anos – respondeu-lhe o monitor sem tomá-lo muito a sério.

Lorenzo foi procurar o pregador e disse-lhe o mesmo, que Deus o chamava. O pastor também lhe pediu para ter calma.

Mas Lorenzo decidiu nesse momento entregar-se a Deus.

Ofereci-me a Deus em dedicação… Mas logo voltei a casa, e passaram mil outras coisas, e essa decisão ficou como cozinhando-se a fogo lento nos bastidores…

Tocar o piano para católicos!
Aos 15 anos Lorenzo já trabalhava numa casa de cuidados a enfermos. Ali tocava o piano para entreter os pacientes. Uma enfermeira viu-o e convidou-o para tocar na sua igreja, para ser o organista. Inclusive pagar-lhe-iam por isso!

Mas Lorenzo descobriu que havia um gravíssimo problema: era numa paróquia católica!

“A igreja baptista à qual ia era fundamentalista, desde o púlpito falavam-nos de tempos a tempos das maldades do catolicismo. Essa era a minha mentalidade, inclusive diria que era um tipo de preconceito”, recorda.

Decidiu aceitar o cargo pago de organista para tocar nas missas.

Quando ensaiava na igreja, aproveitava para conversar com o sacerdote e colocar-lhe temas de doutrina e Bíblia.

Resultou que o pároco sabia a Bíblia na perfeição e podia justificar cada doutrina católica recorrendo à Escritura. “Porque não o comprovas na tua Bíblia em tal sítio?”, costumava dizer ao jovem baptista. Ali estavam Maria, a intercessão dos santos, o purgatório, o primado de Pedro e o seu ofício como Portador das Chaves, os sacramentos… Todos os temas que os protestantes foram perdendo desde o século XVI.

“Eu era do ‘cinturão bíblico’, e para mim, como baptista, era importante conhecer a Bíblia, e impressionou-me que um padre católico a conhecesse tão bem; que ele fosse capaz de responder muitas das minhas perguntas com a Bíblia era algo que eu valorizava muito”, recorda Hatch.

Durante um par de anos continuou indo à igreja baptista com a sua família, mas começou a sentir que o que de verdade o nutria espiritualmente era a Igreja Católica. “Toda a natureza sacramental do culto católico atraía-me mais e mais”.

O passo até ao catolicismo
Aos 17 anos decidiu fazer-se católico. “Tomar essa decisão foi duro para os meus pais e avôs. Os meus pais não tentaram impedi-lo, mas queriam que o pensasse muito cuidadosamente, como faria qualquer pai”. A sua avó sofreu mais, “rompia-lhe o coração”.

“Mas no dia que me fiz católico, eu estava um pouco nervoso porque não saberia quem viria, sabia que estariam o papá e a mamã mas assombrou-me ver que o meu tio, a minha tia e a minha avó se deixaram cair por ali. Era algo enorme para mim, porque eles tinham estado tão contra…”

Já como católico, começou a ajudar na paróquia e logo lhe sugeriram que talvez tinha vocação de sacerdote… E o chamado que tinha sentido com 12 anos reavivou-se.

Adiando o seminário... Um tempo
Acabou os estudos secundários em 2002… Mas não era um momento favorável para a vida vocacional nos EUA. Nessas datas, cada dia a imprensa publicava mais e mais escândalos de pedofilia na Igreja e de decisões ineptas que não protegeram os meninos e jovens. "Era uma época que nos assustou", recorda Hatch.

Lorenzo Hatch no dia da sua ordenação
Lorenzo decidiu explorar outra vocação: a dos estudos paramédicos e de enfermaria em ambulância. Era algo que o encantava, apaixonava-o… E sem dúvida, passados 3 anos, em 2005, convenceu-se de que o chamado a servir a Deus como sacerdote era o único que lhe ia dar felicidade.

Entendeu que ao menos devia dar uma oportunidade ao seminário. Assim o fez, perseverou, acabou os seus estudos, confirmou a sua vocação e finalmente foi ordenado em 2013.

A sua experiência como paramédico e a sua experiência como convertido de outra igreja cristã ajudam-no hoje a servir as muitas pessoas que recorrem a ele. “Abre a oportunidade a muitas pessoas que ouvem a minha história e vêem a minha viagem”, explica o padre Hatch.


in


Sem comentários:

Enviar um comentário