Inaugurando o ano académico no Instituto João Paulo II para Estudos sobre o Matrimónio e Família, o cardeal Barbarin explicou a necessidade hoje de anunciar um "Evangelho do matrimónio"
Roma, 29 de Outubro de 2014 (Zenit.org) Federico Cenci
Começando do ensinamento de São Paulo, o cardeal Philippe
Barbarin, arcebispo de Lyon, descreveu o conceito de "Evangelho do matrimónio”, pedra fundamental da intervenção com a qual abriu,
terça-feira, 28 de Outubro, o ano académico no Instituto João Paulo II
para Estudos sobre o Matrimónio e a Família.
O cardeal francês explicou como o ''Apóstolo dos Gentios" use
muitas vezes fórmulas linguísticas em que o termo Evangelho é seguido
por outros conceitos – “da graça" (At 20, 24), “da glória" (2 Cor 4,4),
“da salvação" (Ef 1, 12) - a fim de "atrair a atenção de uma comunidade
sobre um elemento central" da sua pregação.
Bem, o elemento central para o qual o cardeal Barbarin quis chamar a
atenção em seu discurso é o de matrimónio. Tema de muita actualidade,
objecto muitas vezes de novas e arbitrárias interpretações. O arcebispo
de Lyon recordou a este respeito, como, para além dos Alpes, "os debates
sobre a família" tenham "inflamado" a opinião pública em 2013, após a
aprovação da controversa lei sobre mariage pour tous (casamento para todos).
O card. Barbarin destacou a mobilização maciça das multidões às quais
participaram "muitos católicos bastante comprometidos”. Uma reacção
determinada, embora repleta de vários questionamentos. Neste contexto –
perguntou-se o cardeal Barbarin - "qual tem sido o testemunho dos
cristãos?". E ainda: "Foram capazes de transmitir o Evangelho, a boa
nova do matrimónio?".
Daí a sua proposta para fazer um "exame de consciência" "à luz das
bem-aventuranças". Perguntar-se, portanto, se semelhantes batalhas
contra a “destruição social” e a “mentira de Estado” sejam realizadas em
nome do amor e da misericórdia ou das palavras "violentas e de desprezo
daqueles aos quais fomos levados a nos opor”. Com referência velada à
repressão por parte das autoridades em certos casos o cardeal Barbarin
também destacou que alguns dos manifestantes foram comparados com a
última das bem-aventuranças: "Bem-aventurados os perseguidos por causa
da justiça". "Esperamos que o Senhor - observou – tenha dado a eles a
possibilidade de vislumbrar algo do seu Reino durante estas provas!".
No entanto, "apesar das vicissitudes da história, os métodos ou as
iniciativas tomadas pelos governos", o que recordou o arcebispo de Lyon é
a necessidade de espalhar uma "mensagem sobre o matrimónio", cujo
"valor e força" nunca poderão ser “eliminados e nem sequer
desacreditados" por “correntes de pensamento” ou “maiorias
parlamentares”. Para provar isso, o cardeal Barbarin recordou que
“quanto mais a pessoa está profundamente ligada às próprias raízes, mais
é capaz de amplas aberturas”. Raízes que mantêm em estreita relação a
família com os filhos, os filhos com os pais, os pais com a aliança.
Essa última relação, porém, apresenta hoje algumas fragilidades que o
cardeal dirigiu a sua atenção. “Se o amor se limita ao sentimento,
então está sujeito a flutuações perigosas", disse. Partindo do
pressuposto de que "o desejo é mutável”, torna-se necessário encontrar
uma forma de "ajudar o homem a permanecer ele mesmo, a viver e a
expressar livremente o próprio desejo embora permanecendo em harmonia
com a razão, a vontade e o bem comum”.
A “mentalidade social” de hoje - uma análise do arcebispo - é vítima
de uma "tirania do desejo ante a qual tudo deve ceder". Daí a
"necessidade de mudar a lei para permitir que esses desejos se
realizem”. Para justificar tal cenário, de acordo com o cardeal
Barbarin, usa-se frequentemente um argumento "míope", ou seja, que "a
realização desses desejos não impede de nenhuma forma aqueles que não os
compartilham de continuar a viver como querem”.
Encontrando-nos diante de uma “profunda mudança do contexto social”,
deve-se enfatizar a “boa notícia” do matrimónio a partir da revelação
bíblica. "Na Bíblia – disse o cardeal Barbarin – tudo é nupcial”, porque
essa é, antes de tudo, uma história de aliança".
Por isso “a aventura à qual entram os esposos é uma imagem da
história de toda a humanidade, inscrita nas suas carnes e nas suas
histórias pessoais”. O prelado reconheceu que “as dificuldades e as
traições não faltam, mas a fidelidade de Deus dá à nossa fragilidade
humana uma esperança invencível”. Não se explicaria de outra forma que
“o sacramento do matrimónio seja apresentado como uma acção de Deus, que
sela o nosso amor sempre frágil na grande epopeia da Aliança entre Deus e
a humanidade, cujo apogeu situa-se no mistério pascal de Jesus".
Este plano de Deus se resume, assim, no conceito de "Evangelho do matrimónio". Afinal - a reflexão do cardeal - o "maior desejo" do homem é
que "a aventura do nosso amor triunfe”. E “é justamente a atenção a
esta felicidade que faz com que Deus se comprometa na nossa história”.
São muitos os episódios do Evangelho que nos falam do matrimónio. Das
figuras de José e Maria até o epílogo do apocalipse (Ap 22, 17 e 20),
passando pelas Bodas de Caná, pela Aliança da última Ceia e pelas
palavras que João disse à Herodes (Mc 6 , 18). Dar testemunho da
mensagem cristã é, portanto, "um presente de Deus para o mundo, sal que
dá sabor à vida, luz que revela a beleza da criação". Esta é – disse em
conclusão o cardeal Barbarin - "a maior alegria dos esposos cristãos,
quando sabem que o seu matrimónio é a graça da sua vida, portanto, a sua
missão”.
(29 de Outubro de 2014) © Innovative Media Inc.
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