Constanza Miriano fala sobre o recente Sínodo e promove as oportunidades díspares...
Roma, 22 de Outubro de 2014 (Zenit.org) Maria Gabriella Filippi
"O mundo tem as suas catequeses, que são mais poderosas que
as da Igreja” e passam por vários canais que nos falam de um amor
romântico, de uma simbiose de casais perfeitos... "Mas é possível amar
para sempre um príncipe de pantufas e uma princesa maquilhada?", disse
Constanza Miriano durante o encontro de ontem à noite sobre a esperança
da família. O Sínodo e depois, realizado na Universidade Europeia de
Roma. À margem do encontro, a jornalista e escritora respondeu a algumas
perguntas de ZENIT sobre o resultado da Assembleia sinodal – que ela
acompanhou como jornalista para a RAI Vaticano – e, no geral, sobre os
problemas da família de hoje.
***
ZENIT: Como você viveu essas semanas do Sínodo como jornalista e como mãe de família?
Constanza Miriano: Não tendo que prestar contas do Sínodo
diariamente, estou contente por ter ficado de fora dos mecanismos
jornalísticas, que, infelizmente, precisam de notícias, de exacerbar as
divisões, de ver tramas e conexões, mesmo onde não existem. Eu, na
verdade, até mais do que uma mãe, experimentei o Sínodo como um fiel,
confiando na sabedoria dos pastores da Igreja. Apesar de algumas
preocupações pelas coisas que ouvi, sempre faço o esforço de lembrar
que, apesar de tudo, eles são os pastores e são parte do rebanho. Se
tivesse que trabalhar como Vaticanista seria difícil manter esta
atitude: eu, pelo contrário, para a Rai Vaticano, lido com os especiais,
as coisas que não estão ligadas com a actualidade, portanto, pude manter
este olhar de fiel. Estou certa de que a Igreja é guiada pelo Espírito
Santo e que não se perderá.
ZENIT: Houve questões que, na sua opinião, poderiam ter sido tratadas mais a fundo?
Constanza Miriano: Como mãe, se eu tivesse que fazer uma pequena
observação, destacaria que se falou pouco das crianças, não só do ponto
de vista dos divorciados e recasados, mas também no geral; também no
discurso sobre casais homossexuais, acho que seja necessário virar a
questão do ponto de vista dos fracos, como faria Jesus. Também sobre a
questão do aborto, por vezes, nós, na Igreja, nos esquecemos de partir
dos mais fracos, das crianças antes do nascimento, não apenas os doentes
e deficientes, mas todas as crianças. Com mãe, espero que neste ano o
tema da infância seja trazido mais à luz, sem retórica, sem ‘pobres
crianças’, mas com a consciência de que elas são o futuro da Igreja e do
mundo: se eu fosse um chefe de Estado investiria antes de mais nada na
escola, na formação.
Quanto à família, eu acho que hoje em dia, uma assembleia
extraordinária sobre família tenha que começar não tanto pelos casos
extremos como aqueles dos poucos divorciados recasados, que têm um
caminho de fé muito profundo e muitos deles (mas não todos) sofrem pela
ausência da comunhão. Parece-me que o grande tema da família de hoje
seja, pelo contrário, o significado verdadeiro do amor, oposto ao
utilitarista do mundo: o amor cristão se baseia em uma relação de amor
com Cristo, que tem muito pouco de emocional e nem sempre é
gratificante. Assim, parece-me que um discurso útil para famílias que
continuam fiéis à sua labuta diária seja dizer: "Olha que este esforço
não é sinal de que tudo está errado, mas é a massa, a matéria com que é
feita a vida diária, de amor e da família”; “estamos contigo nesta luta,
te ajudamos a levar o peso por uma parte do caminho”, Acho que os
cristãos e os pastores tenham que fazer-se irmãos daqueles que se
esforçam dizendo que é um esforço bom e não um erro, um esforço que
salva e não um acidente. Todos se esforçam. A família do Moinho Branco,
onde as coisas funcionam sozinhas, não existe.
ZENIT: A mensagem da media sobre as divisões e conflitos entre os Padres sinodais corresponde à realidade dos factos?
Constanza Miriano: Acho que os Padres sinodais também são homens,
portanto, certamente, às vezes, tem havido entre eles a tentação de
alimentar a rivalidade. Porém, acho que, como disseram tantos e como já
aconteceu para o Concílio Vaticano II, houve o que realmente aconteceu e
o que foi dito, ou seja, o Concílio Mediático, o Concílio de papel: os
jornalistas fazem o seu trabalho, mas nós temos que confiar, esperar e
saber que a última palavra virá do Papa que é o nosso pastor. Fiz um
pouco de jejum mediático, não li muito, não ‘cisquei’ nos sites nesses
dias... me irrita quando se fala de progressistas, daqueles que fazem
propostas novas, de acordos, de jesuítas de um lado e outros do outro.
Em suma, não gosto e acho que não faça bem para a Igreja.
ZENIT: Fala-se muito do óleo da misericórdia nas feridas dos
enfermos, da Igreja como “hospital de campanha": qual é a sua
experiência de misericórdia na família?
Constanza Miriano: Acho que o amor se pareça muito com a
misericórdia, ao perdoar-se mutuamente as próprias imperfeições:
enquanto um for homem e a outra mulher, e haja uma profunda diferença e
não sobreposição entre masculino e feminino, que a cultura do género
quer eliminar, mas que, pelo contrário, é uma diferença fortíssima.
Compreender, por exemplo, que a mulher tem necessidade de escuta
enquanto o homem está sobrecarregado por seu excesso de comunicação (o
homem deve perdoar-nos por não sermos capazes de calar a boca). Amar uma
pessoa e uma criatura significa perdoá-la milhares de vezes por ser
assim tão limitada, tão falaciosa... O amor é como a Cinderela, a
abóbora e o beijo final: acho que, no entanto, o amor entre marido e
mulher se pareça com a misericórdia, a olhar com um sorriso para a
miséria do outro, e também para as nossas, obviamente, que são
diferentes, mas do mesmo peso.
ZENIT: Afastando-se do tema do Sínodo, sabemos que em Roma,
nos últimos dias, tem havido transcrição nos registros municipais de
uniões do mesmo sexo...
Constanza Miriano: Eu acho que é uma lágrima contra a lei, mas também
acho que seja necessário recomeçar dos direitos das crianças, porque
todos enchem a boca com a palavra "direitos civis", mas acredito que os
homossexuais já tenham a posse de todos esses direitos que, com razão,
lhes é negado. O que deve ser negada é a possibilidade de adoptar
crianças ou até mesmo de comprá-las com barrigas de aluguel: isto não é
absolutamente um direito civil, porque vai contra o direito das crianças
de ter um pai homem e uma mãe mulher. Aqui é necessário combater com a
própria vida, mas não será necessário, espero que o bom senso vença.
ZENIT: Ouvindo falar de cotas rosas, de incentivos às
mulheres (agora as empresas estão dispostas a pagar suas despesas para
congelar óvulos e fazerem carreira), você, pelo contrário, diz que é
pelas “oportunidades díspares”...
Constanza Miriano: Eu acho que o mundo do trabalho tenha regras de
funcionamento a parte, totalmente masculinas, e que nós mulheres, apesar
de tanto feminismo, lutamos para entrar neste mundo do trabalho, onde
sofremos bastante porque, se queremos avançar no trabalho temos que
‘amputar’ a nossa vida pessoal ou, em alternativa, fazer sofrer as
pessoas que nos foram confiadas; se, pelo contrário, queremos investir
nas pessoas queridas, temos que renunciar o trabalho (que pessoalmente
eu renunciaria também, mas nem sempre é possível fazê-lo, ou melhor,
quase nunca). Teremos que lutar para que o mundo do trabalho esteja na
medida da mãe e da mulher (embora mesmo as que não são mães sempre são
mães daqueles que lhes foram confiadas, porque assim está escrito no
coração da mulher). Como sempre, as batalhas feministas partem de uma
exigência justa, mas logo em seguida adoptam lógicas masculinas e erram
no objectivo, portanto, gostaria de buscar as “oportunidade díspares” e
adoptar discriminações que estejam a nosso favor.
(22 de Outubro de 2014) © Innovative Media Inc.
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