Páginas

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Estreia uma película sobre um muçulmano convertido a Cristo, mas não tem medo: está recém-baptizada

Cheyenne Carron dirigiu «O Apóstolo» 

Chayenne Carron introduziu-se como autodidacta no mundo do cinema, e
está-se tornando uma marca entre os directores com personalidade própria.

Actualizado 8 de Outubro de 2014

Carmelo López-Arias / ReL

Esta segunda-feira, a directora de L’Apôtre [O Apóstolo] (ver abaixo o trailer), Cheyenne-Marie Carron, confirmava a Risposte Catholique que as boas cifras de assistência à película na primeira semana da sua estreia em Paris iam levar o filme a uma segunda sala.

É o prémio do público à valentia desta cineasta de 38 anos que assina a sua quinta longa-metragem, além de algumas curtas, e que neste filme aborda uma questão nada cómoda: a conversão de muçulmanas ao catolicismo e a reacção das suas famílias.

Valente... Mas delicada
O Apóstolo conta a história de Akim, um jovem maometano que estuda para ser imã, como o seu tio. Um dia presencia a transferência do corpo de uma mulher assassinada, vizinha sua, e que resulta ser irmã de um sacerdote, que por sua vez é vizinho da família do assassino. Donde Akim esperaria ódio e desejos de vingança, encontra-se o comportamento misericordioso do pároco, e isso desconcerta-o e converte-se no seu primeiro contacto real com o cristianismo. Pouco a pouco, visitando a igreja, deixando-se seduzir pelo seu ambiente, pelas suas imagens, vai sentindo dentro, o mesmo, o amor de Cristo. Até que decide converter-se ao catolicismo. A película reflecte o drama familiar que isso supõe no seio de um lar bem aviado e observante do islão, onde quem menos entende a sua decisão é o seu irmão.

As personagens credíveis, humanos, afastados de tópicos e de maniqueísmos, cativaram os espectadores, e apesar dos seus modestos começos, O Apóstolo começa a ser um fenómeno cultural em França. Vem precedida de um grande êxito no festival internacional de cinema católico Mirabile Dictu 2014, onde recebeu um galardão com o qual a Fundación Capax Dei premia as películas de alto valor evangelizador. 

Boas críticas
E as críticas foram em geral positivas, destacando, como Noémi Luciani no Le Monde, que oferece "uma mensagem de esperança e tolerância como raras vezes se vê": "Uma película tão simples na forma como autêntica e, finalmente, bela no que mostra do homem". "Cheyenne Carron tem o estranho talento de poder ser por sua vez impulsiva e matizada, desatada e delicada", admira-se Le Figaro. E La Croix celebra que o tema da conversão ao catolicismo de um muçulmano, "um dos mais arriscados", o tenha planeado "com valentia, sem ceder à caricatura, planeando com sensibilidade a delicada questão da liberdade religiosa".

Mas não foi fácil rodar a película. Numa recente entrevista a Au féminin, explicava que, conhecendo o tema, muitos municípios negaram-lhe permissão para rodar: "Terminei por mentir a todo o mundo", confessa. E não encontrou precisamente parabéns onde melhor podia esperá-los: "Pedi ajuda às instituições cristãs para que me apoiassem quando saiu a película e me ajudassem a distribuí-la. O medo impediu-o". O medo a quem? Ao ataque dos anticlericais. De ser acusados de islamofobia.

Recém-baptizada: medos, nenhuns
Quando lhe perguntam se ela tem esses temores, a sua resposta é transparente: "Sou catecúmena. Fui baptizada na Vigília Pascal de 2014. Enfrentarei sem problemas os anticlericais!".

"De facto esta película para todos os que escolhem seguir os passos de Cristo e sofrem perseguições em qualquer lugar do mundo", explicava a Le Figaro: "Em todos os países de maioria muçulmana, no Oriente, em África, são condenados, às vezes à morte. Há que dizê-lo porque é verdade".

Cheyenne tem uma história de fé detrás, que corre paralela a essa carreira cinematográfica com a qual sonhou desde pequena e na qual entrou de forma autodidacta para dotar agora todas as suas obras, produzidas com escassos meios, de um toque pessoal reconhecido por todos.

O baptismo: um desejo que tardou em chegar

A sua vida arrancou com dureza. Foi maltratada de bebé e abandonada aos três meses de idade. Cresceu feliz na sua família de acolhimento, mas quando cumpriu os seis anos os assistentes sociais começaram a explicar-lhe que talvez teria que abandoná-los. No seu lar conviviam dois filhos biológicos e três acolhidos, mas Cheyenne não estava ainda adoptada legalmente, porque tinha aparecido a sua mãe biológica.

Na sua família de acolhimento iam todos juntos à missa (a sua mãe de acolhimento é uma fervorosa católica, ainda que "de esquerdas", e seu pai, mação, precisa em Famille Chrétienne) e os seus irmãos de acolhimento estavam baptizados. Mas ao não estar adoptada, os seus pais não podiam baptizá-la, e portanto não participava dos sacramentos. Assim esteve até aos onze ou doze anos, em que quis sair do banco onde tinha que ficar, na hora de comungar, cada vez que ia à missa. Pediu o baptismo, mas não podendo autorizá-lo os seus pais de acolhimento, passaram os anos sem que pudesse chegar esse momento.

E quando por fim chegou, perto dos seus vinte anos, e começou a preparar-se... Não se sentiu disposta a isso: "Acreditava não merecê-lo, porque nessa idade tinha que começar a ganhar a vida, e eu sabia que a vida está feita de mentiras e traições... Não me sentia capaz de receber o baptismo e levar uma vida conforme a esse baptismo. Porque eu, quando me lanço a algo, lanço-me a fundo. E eu tinha medo de que o baptismo me separasse dos meus objectivos [o cinema]. Quando começamos a estudar os Evangelhos, toca com os dedos o essencial. E o essencial não teria podido ser o cinema", acaba de contar Cheyenne no France Catholique de 3 de Outubro.

A decisão final
Há dois anos, ao terminar de rodar a sua película autobiográfica La fille publique, sentiu a necessidade de receber por fim o baptismo e encerrar esse processo, e pôs-se em contacto com o padre Faure, seu pároco, que a tinha acompanhado no seu caminho de fé desde menina e que faleceu logo nos dias da estreia de O Apóstolo. Junto com a sua mãe adoptiva, o sacerdote é a pessoa à qual Cheyenne mais agradece a fé que professou por fim publicamente na última Páscoa na sua paróquia de Valence (Drôme).

Então acrescentou um segundo nome a Cheyenne: Marie [Maria]. "Como catecúmena, sou exigente com os baptizados, e portanto comigo mesma perante o baptismo. Quero ser digna dele", explicou a Famille Chrétienne. Digna, e combativa como católica: "Defendo uma Igreja visível. Defendo a sotaina, o crucifixo nas escolas. E dado que há lojas halal ou kosher... Não vejo porque não poderia haver padarias cristãs!".




in


Sem comentários:

Enviar um comentário