Médio Oriente
O compromisso “de viver como uma Igreja sinodal” significa empenhar-se em “aprender da escuta da palavra de Deus e da leitura dos sinais dos tempos” para “renovar a sua missão”. As palavras são do presidente do Conselho dos Patriarcas Católicos do Oriente, o cardeal maronita Mar Beshara Boutros Al-Rahi, na sessão de abertura da assembleia da fase continental do Sínodo sobre a sinodalidade, que aconteceu esta segunda-feira, 13, em Betânia, Harissa, no Líbano.
Boutros Al-Rahi, que também preside a esta assembleia, estava acompanhado por um grupo de presidentes gerais, superiores gerais, padres, monges, freiras e leigos da Síria, Egito, Jordânia e da Terra Santa, Iraque e Estados do Golfo, bem como pelo núncio apostólico no Líbano, o patriarca de Antioquia e outros hierarcas católicos, e também pelos cardeais Mario Grech e Jean-Claude Hollerich, respetivamente secretário geral e relator geral do Sínodo, recém-chegados da assembleia europeia, que decorreu em Praga na semana anterior.
Estiveram também presentes, como convidados, representantes dos siríacos ortodoxos, do patriarca da Cilícia para os ortodoxos arménios, do deputado católico para assuntos eclesiásticos e dos monoteístas drusos. Estiveram também o vice-chefe do Conselho Supremo Xiita, o presidente do Sínodo Supremo da Comunidade Evangélica na Síria e Líbano, o Secretário Geral do Sínodo dos Bispos, cardeal Mario Grech e o coordenador da próxima Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, cardeal Jean-Claude Hollerich,
Na sessão de abertura, foi evocada uma mensagem pastoral que os patriarcas católicos da região tinham enviado, em 1992, aos seus fiéis no Médio Oriente e aos que se encontram espalhados pelo mundo, intitulada: “A presença cristã no Oriente, testemunha e mensagem“.
Nela se exprimia uma identidade centrada numa presença, referenciada a Cristo e à Sua Igreja, encarnada “na língua e herança árabe de que somos construtores e na civilização árabe que ajudámos a estabelecer”.
Essa presença de uma confissão minoritária é feita “ao serviço da pessoa, sem distinção ou discriminação; é uma presença ecuménica para uma cooperação comum; é uma presença de diálogo com pessoas de boa vontade, muçulmanos e judeus”; e, finalmente, é uma presença de carácter global, graças aos fiéis “espalhados pelo mundo, porque é uma comunhão de fé, amor e pertença cívica onde quer que estejamos”, sublinhou-se nessa evocação.
O cardeal Hollerich sublinhou, na sua intervenção, que o Papa Francisco fez da sinodalidade “o foco central do seu pontificado” e ligou este facto com a “longa tradição” da sinodalidde ds igrejas do Medio Oriente, mostrando-se convencido de que iria aprender muito nestes dias de encontro e de que “a Igreja universal pode tornar-se mais sinodal, e que pode alargar o espaço da sua tenda”, para acolher a todos.
“Sabemos – prosseguiu o relator geral do Sínodo – que ‘caminhar juntos’ é um conceito fácil de expressar em palavras, mas não fácil de pôr em prática. Este ‘caminhar juntos’ é necessário no Médio Oriente, que celebra a realidade de muitas religiões e confissões religiosas, e esta diversidade é em si mesma uma riqueza e uma bela oportunidade que torna possível a sinodalidade, porque é uma questão de caminhar juntos e não de caminhar sozinhos”.
O cardeal Mario Grech fez, por seu turno, incidir a sua intervenção na ideia de que há duas condições necessárias para um processo sinodal bem-sucedido. “A primeira, explicou, diz respeito à necessidade da participação ativa do povo de Deus e dos pastores”, já que “a prática correta do Sínodo nunca coloca estes dois polos em competição”. A segunda condição, continuou Grech, está relacionada com a importância da escuta. “É uma questão de ouvir o que o Espírito Santo está a dizer à Igreja”, vincou. “O dito de que ‘a Igreja sinodal é uma Igreja de escuta’ não pode e não deve ser reduzido a uma frase retórica. Quando dizemos que todos são chamados a participar, queremos mesmo dizer todos, mesmo aqueles que estão longe”, sem excluir ninguém.
A este propósito fez notar que, a partir desta fase continental, “devemos estar mais atentos às vozes ‘dentro’ da Igreja, especialmente aquelas vozes que frequentemente perturbam o corpo eclesial. Somos todos chamados, em consciência, a dar as nossas respostas: desde os que estão profundamente convencidos até aos que ainda têm dúvidas, passando pelos que discordam abertamente. A ninguém é proibido falar”, concluiu o cardeal.
Na América Central, sob a égide de Óscar Romero
Na América Latina e Caraíbas também se iniciou esta segunda-feira a fase continental do Sínodo, naquela que é a primeira sessão regional. Dada a extensão do subcontinente, haverá quatro assembleias regionais, sendo, no fim, produzida uma única síntese, a exemplo do que acontecerá também na América do Norte.
Esta primeira cobre a América Central e inclui o México. Além deste país, estão presentes Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá. El Salvador, terra do mártir santo Oscar Romero, é o país anfitrião. E foi precisamente à capela em que este santo tombou, crivado pelas balas, quando celebrava a eucaristia, que os participantes na assembleia peregrinaram para a sessão de abertura num tempo de retiro espiritual.
Seguiu-se, depois, a eucaristia inaugural, na catedral metropolitana de São Salvador, na cripta onde se encontram os restos mortais de Óscar Romero, presidida pelo arcebispo de Trujillo (Perú) e presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (Celam), Héctor Miguel Cabrejos.
Durante a sua intervenção, o presidente do Celam referiu-se à igualdade dos baptizados “como critério estruturante para a configuração de todos os sujeitos eclesiais”, retomando assim os ensinamentos do Concílio Vaticano II e reconhecendo o “povo de Deus como sujeito discernente”.
Nesse sentido, o bispo insistiu que “a prática do discernimento em comunidade é essencial para crescer na sinodalidade e para realmente caminharmos juntos na nossa Igreja”, já que a sinodalidade “não é um conceito a ser estudado, mas uma vida a ser vivida”.
Referindo-se ao lugar da celebração, a ir. María Suyapa Cacho, membro da Pastoral Garífuna, nas Honduras, comentou que estar naquele lugar enchia os participantes “de emoção e gratidão a Deus” por ter sido ali que o “grande profeta bispo Romero derramou o seu sangue”. A religiosa comentou que sempre se sentiu motivada pelo testemunho de São Romero, destacando sua capacidade de “escutar o povo” para discernir a vontade de Deus diante dos sinais dos tempos. “Pedi a Deus, por intermédio de Dom Romero, que me permitisse continuar denunciando as injustiças que atingem o nosso povo e manter meu compromisso com a sociedade e com nossa Igreja”, concluiu.
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