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domingo, 3 de março de 2019

Toda Uma Série de Acontecimentos

Existe toda uma série de acontecimentos à nossa volta que muito gostaria de referir. Uns positivos outros menos. Mas como começar, por qual optar? Pareço mesmo um peixe inquieto com falta de oxigénio, no fundo de um oceano cada vez mais poluído, rodeada de plástico, entre outros materiais poluidores dos oceanos. Procuro o sol. Subo então à superfície onde felizmente o sol ainda brilha renovando a esperança num futuro melhor. Resolvo pesquisar. Navego na internet. Tanta publicidade. “Fake News”. Onde se encontra a inspiração, a motivação. Procura-se mesmo algo que faça sentido, ou seja, o sentido da narrativa. Esvaziada de ideias, ou apenas cansada, faço uns rabiscos, que não passam disso mesmo rabiscos! O telefone toca. Um convite para um almoço familiar. Aceito de bom grado. E parto rumo ao futuro. Entro em casa da minha familiar. Estava feliz com a minha presença. Afinal, se Deus quiser, encontrava-se a ultrapassar um período de doença extremamente complicado. Era motivo de gáudio. A mesa estava muito bonita. O almoço também. Estávamos felizes. Quando fui colocar água no copo reparei na toalha de uma enorme alvura, toda bordada com raminhos de violetas. De imediato comentei: “Conheço esta toalha”. “Era de casa da mãe!” À memória associado, surgiu um momento passado em Espanha, onde vivíamos na altura. O filme “La Violetera”, com Sarita Montiel, estava então em voga. Recordei a sua música: “Como aves percussoras da primavera, em Madrid aparecem as violeteiras que apregoando: “Leve-o senhorito que não vale mais que um real. Compre-me este raminho para exibir na lapela…”. Sempre que esta toalha era utilizada lembrávamo-nos dessa canção, que mais uma vez surgiu como por encanto recordando que tínhamos sido felizes em Espanha. Recordo a solenidade da Semana Santa, vivida a rigor, em que maravilhada assistia às suas belíssimas procissões. Quando alguém numa varanda surgia a cantar, a procissão parava no sentido de se ouvir a força do canto. Emocionante, indescritível simplesmente! Durante o almoço partilhámos memórias familiares. Quem diria que uma simples toalha bordada à mão com raminhos de violetas traria à memória tantas recordações de há muito anos atrás, ajudando a dar o mote, para sair do impasse em que me tinha posicionado. A vida tem destas coisas! Contudo, pouco depois, recebo um pedido de apoio pelo telefone. Com a greve da função pública a minha neta não teria aulas, e mais uma vez fica interrompida a narrativa. Mas constitui um prazer ficar com a minha neta que ao chegar a casa declarou com muita graça, manifestando um sentimento de alegria semelhante, por ficar com a avó: “Cheguei ao paraíso!”

E foram mesmo dias intensos de alegria e de boa disposição, coincidindo com o lançamento de uma coletânea denominada “Três Quartos de Um Amor”, promovida pela Chiado Books, e que teve lugar no Hotel Pestana Palace. Na verdade, estava mais feliz por ter a companhia da minha neta do que por mais um lançamento de uma coletânea cujo texto que escrevera lhe era dedicado. No dia do evento, muito curiosa, quis chegar mais cedo para conhecer o antigo Palácio do Marquês de Vale Flor, que esteve no esquecimento durante muito tempo, e que agora brilha em todo o seu esplendor, após um intenso trabalho de restauro de cinco anos, que conseguiu devolver toda a sua beleza e brilho original, não só das fachadas bem como dos espaços interiores, classificado em 1997 como monumento nacional. À chegada, depois de passar pela receção do hotel, não quis utilizar o elevador, mas sim subir a escadaria, sentindo-se uma verdadeira princesa. Muito comunicativa, ao aperceber-se que estava a ser rodado um filme publicitário nos diferentes salões, com atores vestidos com fatos da época, rapidamente foi muito bem acolhida podendo assistir a uma parte das filmagens. Passeou nos jardins admirando as diferentes flores, as árvores de grande porte e toda a sua beleza. Admirou a paisagem. Depois chegou a hora de nos dirigirmos para a Sala Belém onde iria decorrer o evento. À entrada deparámo-nos com um antigo coche em exposição. Pediu autorização para entrar o que foi autorizado recomendando o máximo cuidado. Quando saiu do coche, exclamou; “Agora sim, sinto-me uma verdadeira princesa!” Não há nada melhor para nos revigorar do que observar a alegria manifestada por uma criança. Com muito interesse e curiosidade folheou os dois livros produzidos, face ao elevado número de autores que aderiram ao convite para participar na coletânea, “Três Quartos de Um Amor”. Procurava o texto que lhe tinha dedicado, denominado: “Minha querida netinha”. Depois tirou fotografias, ouviu e gostou muito do concerto de piano que deu início à sessão de lançamento. Assistiu à apresentação dos livros, à descrição do trabalho realizado com profissionalismo e qualidade pela equipa que compõe a editora. Pediu um certificado de participação na cerimónia de lançamento. E cansou-se… Já eram horas de fazer um lanchinho. Queria ir ver o rio Tejo, observar a paisagem, o movimento dos barcos a passar, os aviões a fazerem-se à pista do aeroporto, a ponte sobre o Tejo, o céu, as gaivotas a esvoaçar, ver se havia algum peixe…

Senti que a companhia da minha neta constitui, na realidade, uma janela aberta para o mundo que nos rodeia, sempre à descoberta de novos estímulos e horizontes, constituindo uma enorme riqueza com a capacidade de transformar momentos menos bons numa participação ativa, dando mais sentido à vida. Nada dura para sempre. Como refere o ditado: “Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”. São os diferentes ciclos da vida a passar pedindo para valorizarmos as pequenas ocorrências que acontecem ao nosso redor.

Maria Helena Paes



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