Existe toda uma série de
acontecimentos à nossa volta que muito gostaria de referir. Uns positivos
outros menos. Mas como começar, por qual optar? Pareço mesmo um peixe inquieto
com falta de oxigénio, no fundo de um oceano cada vez mais poluído, rodeada de
plástico, entre outros materiais poluidores dos oceanos. Procuro o sol. Subo
então à superfície onde felizmente o sol ainda brilha renovando a esperança num
futuro melhor. Resolvo pesquisar. Navego na internet. Tanta publicidade. “Fake News”. Onde se encontra a
inspiração, a motivação. Procura-se mesmo algo que faça sentido, ou seja, o
sentido da narrativa. Esvaziada de ideias, ou apenas cansada, faço uns
rabiscos, que não passam disso mesmo rabiscos! O telefone toca. Um convite para
um almoço familiar. Aceito de bom grado. E parto rumo ao futuro. Entro em casa
da minha familiar. Estava feliz com a minha presença. Afinal, se Deus quiser,
encontrava-se a ultrapassar um período de doença extremamente complicado. Era
motivo de gáudio. A mesa estava muito bonita. O almoço também. Estávamos
felizes. Quando fui colocar água no copo reparei na toalha de uma enorme
alvura, toda bordada com raminhos de violetas. De imediato comentei: “Conheço
esta toalha”. “Era de casa da mãe!” À memória associado, surgiu um momento passado
em Espanha, onde vivíamos na altura. O filme “La Violetera”, com Sarita
Montiel, estava então em voga. Recordei a sua música: “Como aves percussoras
da primavera, em Madrid aparecem as violeteiras que apregoando: “Leve-o
senhorito que não vale mais que um real. Compre-me este raminho para exibir na
lapela…”. Sempre que esta toalha era utilizada lembrávamo-nos dessa canção, que
mais uma vez surgiu como por encanto recordando que tínhamos sido felizes em
Espanha. Recordo a solenidade da Semana Santa, vivida a rigor, em que
maravilhada assistia às suas belíssimas procissões. Quando alguém numa varanda
surgia a cantar, a procissão parava no sentido de se ouvir a força do canto.
Emocionante, indescritível simplesmente! Durante o almoço partilhámos memórias
familiares. Quem diria que uma simples toalha bordada à mão com raminhos de
violetas traria à memória tantas recordações de há muito anos atrás, ajudando a
dar o mote, para sair do impasse em que me tinha posicionado. A vida tem destas
coisas! Contudo, pouco depois, recebo um pedido de apoio pelo telefone. Com a
greve da função pública a minha neta não teria aulas, e mais uma vez fica interrompida
a narrativa. Mas constitui um prazer ficar com a minha neta que ao chegar a casa
declarou com muita graça, manifestando um sentimento de alegria semelhante, por
ficar com a avó: “Cheguei ao paraíso!”
E foram mesmo dias intensos de
alegria e de boa disposição, coincidindo com o lançamento de uma coletânea
denominada “Três Quartos de Um Amor”, promovida pela Chiado Books, e que teve lugar no Hotel Pestana
Palace. Na verdade, estava mais feliz
por ter a companhia da minha neta do que por mais um lançamento de uma
coletânea cujo texto que escrevera lhe era dedicado. No dia do evento, muito
curiosa, quis chegar mais cedo para conhecer o antigo Palácio do Marquês de
Vale Flor, que esteve no esquecimento durante muito tempo, e que agora brilha
em todo o seu esplendor, após um intenso trabalho de restauro de cinco anos,
que conseguiu devolver toda a sua beleza e brilho original, não só das fachadas
bem como dos espaços interiores, classificado em 1997 como monumento nacional.
À chegada, depois de passar pela receção do hotel, não quis utilizar o
elevador, mas sim subir a escadaria, sentindo-se uma verdadeira princesa. Muito
comunicativa, ao aperceber-se que estava a ser rodado um filme publicitário nos
diferentes salões, com atores vestidos com fatos da época, rapidamente foi
muito bem acolhida podendo assistir a uma parte das filmagens. Passeou nos
jardins admirando as diferentes flores, as árvores de grande porte e toda a sua
beleza. Admirou a paisagem. Depois chegou a hora de nos dirigirmos para a Sala
Belém onde iria decorrer o evento. À entrada deparámo-nos com um antigo coche
em exposição. Pediu autorização para entrar o que foi autorizado recomendando o
máximo cuidado. Quando saiu do coche, exclamou; “Agora sim, sinto-me uma
verdadeira princesa!” Não há nada melhor para nos revigorar do que observar a
alegria manifestada por uma criança. Com muito interesse e curiosidade folheou
os dois livros produzidos, face ao elevado número de autores que aderiram ao
convite para participar na coletânea, “Três Quartos de Um Amor”. Procurava o
texto que lhe tinha dedicado, denominado: “Minha querida netinha”. Depois tirou
fotografias, ouviu e gostou muito do concerto de piano que deu início à sessão
de lançamento. Assistiu à apresentação dos livros, à descrição do trabalho
realizado com profissionalismo e qualidade pela equipa que compõe a editora.
Pediu um certificado de participação na cerimónia de lançamento. E cansou-se…
Já eram horas de fazer um lanchinho. Queria ir ver o rio Tejo, observar a
paisagem, o movimento dos barcos a passar, os aviões a fazerem-se à pista do
aeroporto, a ponte sobre o Tejo, o céu, as gaivotas a esvoaçar, ver se havia
algum peixe…
Senti que a companhia da minha
neta constitui, na realidade, uma janela aberta para o mundo que nos rodeia,
sempre à descoberta de novos estímulos e horizontes, constituindo uma enorme
riqueza com a capacidade de transformar momentos menos bons numa participação
ativa, dando mais sentido à vida. Nada dura para sempre. Como refere o ditado:
“Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”. São os diferentes
ciclos da vida a passar pedindo para valorizarmos as pequenas ocorrências que
acontecem ao nosso redor.
Maria Helena Paes |
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