Na aula de Camila,
com 23 alunos, apenas quatro não são filhos de pais separados. Naquele dia
estranhou o comportamento de Georgina. Num dos intervalos entre aulas, chamou-a
a uma sala livre para lhe falar. Que se passava? Quase de imediato, a pequena
começou a chorar e foi entre soluços que lhe explicou os seus receios de que os
pais se viessem a separar, pois na véspera tinha-os ouvido discutir muito.
O episódio causa
pena, sobretudo por ser uma atitude tão comum no tempo e lugar em que vivemos.
Não tem por que ser assim; não deve ser assim, por mais que nos falem dos
direitos das mulheres ou dos homens. Não terá chegado o momento de falarmos de
obrigações e de responsabilidades?
Jordan Peterson,
psicólogo clínico canadense, recordava que o casamento é uma instituição que,
além do mais, está ao serviço dos filhos: para os gerar, proteger e educar. E
acrescentava: “If you are happy, good for you” – (“Se és feliz, tanto melhor
para ti”).
De facto, o
matrimónio é a vocação humana que se destina a fazer-nos esquecer de nós (dos
nossos direitos) para tornar os outros felizes, começando pelas pessoas da
nossa família; mesmo da sogra. Quando conseguimos que os sogros gostem da nossa
companhia, certamente o nosso cônjuge estará feliz e os filhos também. Isto não
significa que a vida em família seja um mar de rosas. Significa, isso sim, que
é uma vida muito interessante e cheia de aventuras inesperadas que pedem o uso
da inteligência, a prática das virtudes humanas e imensa criatividade, criatividade
essa que pode passar por saber distinguir os momentos próprios para guardar
silêncio ou para saber dar uma resposta elegante e bem-humorada. Que fácil é
teorizar! Passemos a uma família concreta.
Recordemos a
família de S. José. É certo que se trata de três pessoas especiais, uma das
quais é o próprio Deus. Pois é esta a família que devemos tomar como exemplo.
Antes de mais, chama-nos a atenção a generosidade com que Maria e José acolhem
a sua particular vocação. Quem pensa, hoje em dia, em casar para ser santo e
ter filhos santos? Por outras palavras, quem pensa em casar para fazer a
vontade de Deus? E é precisamente assim que deve ser; e é precisamente nisto
que a Sagrada Família nos serve de exemplo. Maria tinha pensado em casar, mas
permanecendo virgem de acordo com o jovem José. Mas, ao tomar conhecimento do
que Deus esperava dela, pela embaixada do Arcanjo S. Gabriel, imediatamente
aceitou ser mãe e mudar o seu projeto. O mesmo sucedeu com S. José. Admirado,
ao aperceber-se da gravidez de sua esposa, propunha-se abandoná-la em segredo.
Mas logo se dispôs a levá-la para sua casa, ao perceber por um sonho
(imagine-se!), que a criança que estava para nascer era o Messias esperado e
que seria ele, um humilde carpinteiro, o seu pai adoptivo. Depois, foi uma vida
cheia de emoções e aventuras, como as nossas: perseguições de Herodes, fuga
para o Egipto (sem sequer avisar os pais e sogros!) e perda de emprego; retorno
à pátria, mas ainda com necessidade de cuidados especiais para proteger o
Menino. Para José e Maria, o importante não foi buscarem a felicidade. Foram
felizes porque queriam, e com que cuidados, proteger e cuidar do bem-estar do
próprio Deus.
Que exemplo! Que
valentia! Que tenacidade! Seremos nós capazes de ter a mesma coragem e
capacidade de entrega? Sim, se aceitarmos acolher Jesus no nosso lar.
Isabel
Vasco Costa
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