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quarta-feira, 20 de março de 2019

Procuram-se Pais

Na aula de Camila, com 23 alunos, apenas quatro não são filhos de pais separados. Naquele dia estranhou o comportamento de Georgina. Num dos intervalos entre aulas, chamou-a a uma sala livre para lhe falar. Que se passava? Quase de imediato, a pequena começou a chorar e foi entre soluços que lhe explicou os seus receios de que os pais se viessem a separar, pois na véspera tinha-os ouvido discutir muito.

O episódio causa pena, sobretudo por ser uma atitude tão comum no tempo e lugar em que vivemos. Não tem por que ser assim; não deve ser assim, por mais que nos falem dos direitos das mulheres ou dos homens. Não terá chegado o momento de falarmos de obrigações e de responsabilidades?

Jordan Peterson, psicólogo clínico canadense, recordava que o casamento é uma instituição que, além do mais, está ao serviço dos filhos: para os gerar, proteger e educar. E acrescentava: “If you are happy, good for you” – (“Se és feliz, tanto melhor para ti”).

De facto, o matrimónio é a vocação humana que se destina a fazer-nos esquecer de nós (dos nossos direitos) para tornar os outros felizes, começando pelas pessoas da nossa família; mesmo da sogra. Quando conseguimos que os sogros gostem da nossa companhia, certamente o nosso cônjuge estará feliz e os filhos também. Isto não significa que a vida em família seja um mar de rosas. Significa, isso sim, que é uma vida muito interessante e cheia de aventuras inesperadas que pedem o uso da inteligência, a prática das virtudes humanas e imensa criatividade, criatividade essa que pode passar por saber distinguir os momentos próprios para guardar silêncio ou para saber dar uma resposta elegante e bem-humorada. Que fácil é teorizar! Passemos a uma família concreta.

Recordemos a família de S. José. É certo que se trata de três pessoas especiais, uma das quais é o próprio Deus. Pois é esta a família que devemos tomar como exemplo. Antes de mais, chama-nos a atenção a generosidade com que Maria e José acolhem a sua particular vocação. Quem pensa, hoje em dia, em casar para ser santo e ter filhos santos? Por outras palavras, quem pensa em casar para fazer a vontade de Deus? E é precisamente assim que deve ser; e é precisamente nisto que a Sagrada Família nos serve de exemplo. Maria tinha pensado em casar, mas permanecendo virgem de acordo com o jovem José. Mas, ao tomar conhecimento do que Deus esperava dela, pela embaixada do Arcanjo S. Gabriel, imediatamente aceitou ser mãe e mudar o seu projeto. O mesmo sucedeu com S. José. Admirado, ao aperceber-se da gravidez de sua esposa, propunha-se abandoná-la em segredo. Mas logo se dispôs a levá-la para sua casa, ao perceber por um sonho (imagine-se!), que a criança que estava para nascer era o Messias esperado e que seria ele, um humilde carpinteiro, o seu pai adoptivo. Depois, foi uma vida cheia de emoções e aventuras, como as nossas: perseguições de Herodes, fuga para o Egipto (sem sequer avisar os pais e sogros!) e perda de emprego; retorno à pátria, mas ainda com necessidade de cuidados especiais para proteger o Menino. Para José e Maria, o importante não foi buscarem a felicidade. Foram felizes porque queriam, e com que cuidados, proteger e cuidar do bem-estar do próprio Deus.

Que exemplo! Que valentia! Que tenacidade! Seremos nós capazes de ter a mesma coragem e capacidade de entrega? Sim, se aceitarmos acolher Jesus no nosso lar.


Isabel Vasco Costa



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