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segunda-feira, 25 de março de 2019

A Procissão do Senhor Jesus dos Passos de Mafra


Mais um fim-de-semana na Vila de Mafra com o objetivo de participar na Missa e Procissão do Senhor Jesus dos Passos de Mafra, no dia 17 de fevereiro, 2019. Tinha lugar pelas 15h30 na Real Basílica de Nossa Senhora e de Santo António no Real Edifício de Mafra. Esta procissão, que constitui uma antiga devoção mafrense, remontando ao século XVIII, também é igualmente conhecida como a Procissão do Encontro, uma vez que há dois cortejos litúrgicos que saem de diferentes locais: da Real Basílica de Nossa Senhora e de Santo António, de onde sai o andor do Senhor Jesus dos Passos, e da Igreja de Santo André (antiga matriz da vila de Mafra), sai o andor de Nossa Senhora da Soledade, que fora transportado na véspera da Basílica para esta Igreja. A certa altura os dois cortejos encontram-se, unem-se e seguem posteriormente para a Igreja de Santo André. Decidi fazer uma caminhada até à Basílica. Estava ansiosa por observar a imagem de Nossa Senhora da Soledade, vestida com o seu magnifico vestido novo, cópia precisa do antigo, feita por um artesão na cidade de Sevilha e que tinha ficado uma verdadeira preciosidade. Contudo, depois de uns dias de primavera, a tarde apresentava-se agora com alguma nebulosidade, augurando um tempo menos favorável. Pensei interiormente ao entrar na Basílica: ”Deus permita que não chova, já que as imagens dos andores são de roca, e sendo assim a procissão não poderia sair. Fui admirando o enorme trabalho de retaguarda. Os andores encontravam-se todos preparados, com as imagens vestidas, para saírem nas diferentes nas quatro procissões que têm lugar nos domingos da Quaresma. Esta será a primeira. Entregaram-me uma linda pagela com a Imagem do Senhor Jesus dos Passos de Mafra de cujo texto reproduzo um excerto: De todo o coração Vos adoro, Vos louvo e Vos dou graças. Pelo peso da Vossa cruz, perdoai os meus pecados, ouvi as minhas súplicas e, pela Vossa paixão, conduzi-me convosco à vida eterna. Lindo e muito adequado. Presidirá hoje à celebração o Bispo Auxiliar do Patriarcado de Lisboa, Sua Excelência Reverentíssima o Senhor Dom Daniel Henriques, oriundo precisamente de Santo Isidro, Mafra. Feliz coincidência!

O evangelho deste II Domingo da Quaresma, refere a subida de Jesus ao Monte Tabor (Mt 17, 1-9), a Sua transfiguração, em que o Seu rosto ficou brilhante como o Sol, e que as vestes tornaram-se-Lhe brancas como a Luz. Apetece-nos muito dizer: Vultum tuum, Domine requeiram (Senhor, desejo ver o vosso rosto), ou seja, almejamos ver Jesus, nos acontecimentos diários da nossa vida. Dom Daniel (ouso agora referir algumas frases, segundo o meu modesto entender) convidou-nos a posicionarmo-nos perante o mistério da cruz, a permanecermos, enquanto discípulos, junto da Cruz. A subirmos com Jesus ao Monte Tabor, recordando as palavras de Jesus: Quem quiser seguir-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Acolher Jesus com Amor, ou sofrer com desespero. Somos chamados pelo nome pessoal, abraçados com amor, por uma feliz e bem-amada cruz que nos salva, a quem é capaz de ter um olhar de esperança e não de desespero. Recordou ainda o convite de Deus a Abraão: “Sai da tua casa. Contempla na noite as estrelas do céu. Vê se as consegues contar…” Quando saímos durante a noite temos noção de que nada somos na nossa pequenez e somos chamados a uma dignidade tão grande, ou seja, o valor que nós temos aos olhos de Deus. Rejeitar a Cruz de Cristo, é rejeitar a nossa cruz de todos os dias. Jesus chama-nos pelo nosso próprio nome. Convida-nos a subir com Ele. Temos de estar dispostos à canseira da subida, atitude certa de quem abraça a Cruz com amor, aprendendo d´Ele.

Na verdade, questiono como será a nossa vida no Céu, extinta de todos os temores, face a face com toda a beleza, bondade, sem qualquer inquietação, na glória que nos espera, depois de tantas vicissitudes terrenas, em que carregámos a nossa cruz de todos os dias. Já o Apóstolo dizia: “Nem olho viu, nem ouvido ouviu. A missa termina. A chuva chegou. A procissão não poderá sair ao Encontro da Nossa Senhora da Soledade. Nem sempre é possível concretizar o que temos em mente. Temos muitas vezes de nos ajustar a novas realidades. O cortejo será dentro da Basílica, realizando-se o que estava previsto ser feito na rua.


Olhei para o altar. Senti que recuava em sonhos vários séculos, visualizando a existência atrás do presbitério de uma primorosa grade hoje desaparecida devido à incúria dos homens, atrás da qual a Família Real, assistia à Santa Missa em conjunto com os religiosos. Os tempos mudaram, agora vivemos uma nova realidade adequada ao momento que vivenciamos. Mas é bom recordar a nossa história da qual muito nos orgulhamos. Voltei ao momento presente.

Haveria seguidamente a leitura comovente de três estações da Via Sacra. Estes escritos, cheios de sincera piedade, trazem-nos à mente o Filho de Deus. Homem como nós e Deus verdadeiro, que ama e sofre, na Sua carne, pela Redenção do mundo. Deus quer-nos contentes e a Seu lado, ainda que em nenhum momento nos falte a Cruz. E ao Seu lado, Sua mãe, Mãe nossa também, que nos concederá a fortaleza de que necessitamos para seguirmos atrás dos passos do seu Filho. Depois de cada uma das estações, Verónica entoaria o seu cântico de dor em latim, que nos trespassaria a alma. Vós todos que passais pelos caminhos, parai e vede se há dor maior do que a minha dor. Os coros da Basílica abrilhantaram a cerimónia. Dom Daniel faria um breve comentário que se encontrava previsto para o momento do Encontro, agora sem Encontro, adequado à nova situação, referindo que a chuva não constituía um motivo de desolação. A chuva é um bem, mesmo que altere os planos. O Encontro é com o Filho do homem. É o encontro permanente que nos envolve e nos convida a segui-Lo. Recordou a necessidade de estarmos com Maria. Maria uniu-se ao Filho e tornou-se corredentora da humanidade. No Calvário foste o lírio dos líriosE quando a morte chegar que eu vos possa louvar à sombra da Cruz. A banda da Escola de Música Juventude de Mafra acompanhou, com os seus acordes, o cortejo litúrgico. Fica expresso um agradecimento muito reconhecido, à Real Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra, pelo seu trabalho e esforços desenvolvidos para que, discretamente, tudo corresse pelo melhor. Gostaria ainda de dar ênfase a um momento vivenciado, que teve lugar quando Sua Excelência Reverentíssima incensou o Lignum Crucis que a Real Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra tem à sua custódia desde o reinado de S.M.R. o Senhor D. José I. Graças a Deus! De enaltecer igualmente o Pároco sempre muito empenhado em que os fiéis acompanhassem com fé as cerimónias, e a vida da sua paróquia. E ainda a todos os que de algum modo contribuíram para que as Procissões da Quaresma se tornem uma realidade, com, ou sem chuva.

Maria Helena Paes



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