Páginas

domingo, 3 de março de 2019

Por todo o bem que fizermos, recebemos muito mais

Esta frase sensibilizou-me bastante. Contudo é difícil de entender quando parece que tudo à nossa volta se está a desmoronar por diferentes motivos. Passa pela aceitação do sofrimento e pela nossa mobilização. Pensar que tudo concorre para o bem, mesmo quando não o entendemos. Já sabemos que um dia mais tarde, se tornará claro, far-se-á luz, compreenderemos então na presença de Deus o que Ele pretendia de nós, perante situações concreta, algumas vezes custosas, mantendo uma fé ativa que não se deixa arrastar pelos acontecimentos, ou seja, uma verdadeira sabedoria, com uma confiança plena e integra. Alguém que muito admiro, referia que o importante é fixar o olhar em Jesus. O resto pode ser secundário, mas igualmente importante, refiro-me aos Serviços de Saúde. O exemplo de alguém que conheço bem é comovente. Vítima de doença oncológica, todos os tratamentos suportou com imensa dignidade. Manteve sempre uma tranquilidade impressionante. Referia que queria cumprir todas as indicações que lhe davam, com grande esperança no futuro, mesmo quando o seu olhar procurava no nosso olhar perspetivar esse futuro, encontrar apoio, um palavra amiga, um incentivo para não desanimar e continuar a sua luta pela sobrevivência. E todos os seus familiares se aglutinaram ao seu redor para que em momento algum desfalecesse, o que não é fácil em certas ocasiões em que tudo parece confluir para uma fase mais negativa. Ainda assim é preciso encontrar um horizonte risonho, palavras motivadoras mesmo que no nosso interior a esperança esteja a desfalecer e choremos amargamente, questionando o porquê de tanto sofrimento numa pessoa excelente, que ajuda o próximo, que tem uma fé enorme. Mas a família foi-se juntando ao seu redor. Lembravam-se das palavras do médico: “É preciso manter a esperança, ajuda muito no tratamento e na recuperação”. Um dia em que fui visitar esta minha amiga no IPO de Lisboa, passei por um lugar sombrio, cinzento, degradado, a carecer de recuperação. Comentei em voz alta para o pessoal de enfermagem e auxiliar que aí se encontrava numa pausa: “Este lugar precisa de alguma recuperação”. E alguém respondeu: “Mesmo assim, operam-se aqui milagres todos os dias”. Fiquei contente com a resposta. Observava pessoas motivadas e empenhadas que acreditavam no seu trabalho, nada fácil, que desenvolviam no seu dia-a-dia. Também me foi dado observar um aumento do número de casos desta doença destruidora. Por outro lado, as equipas desdobram-se confrontadas com dificuldades para a todos dar resposta.

Não consegui ficar alheia ao assunto, numa área prioritária ao nível da saúde em que a Constituição Portuguesa refere o direito de todos os cidadãos terem direito à proteção da saúde através do Serviço Nacional de Saúde. Do que constatei, não é bem assim pelo menos do que me foi dado observar. Serviços a rebentarem pelas costuras, doentes em macas nos corredores, por não haver disponibilidade de quartos ou instalados em zonas cedidas temporariamente pelas equipas (espaço de reunião), face à urgência e gravidade da situação, que requer uma resposta, sob pena da doença evoluir sem retrocesso. Bem sei que tudo o que diz respeito a esta doença é urgente, e que os tratamentos são bastante onerosos. Que nos encontramos em fase de recuperação da recessão económica/financeira. Observadora passiva, vejo o que se passa ao meu redor. Enquanto cidadã, tenho obrigatoriamente de passar a ter um papel ativo, procurando chamar a atenção para as necessidades existentes, não podendo de todo, ficar indiferente ao que se passa ao meu redor dando voz aos que a não têm. Ontem ao ligar a televisão ouvia as notícias. No parlamento discutia-se o Serviço Nacional de Saúde, a greve dos enfermeiros, também que as obras para o internamento das crianças no Hospital de São João no Porto deveriam arrancar no final do ano… Como se vive hoje em dia, num país evoluído, membro da Comunidade Europeia, numa democracia, com as cirurgias canceladas e adiadas (quando já são tão difíceis de agendar). Medicamentos que deixaram de ter comparticipação e que muitos idosos deixaram de tomar, porque as suas reformas não permitem a sua aquisição. Assisti ainda a um pai português emigrado na Venezuela, numa situação desesperada, com uma filha internada em estado muito grave, sem conseguir adquirir os medicamentos necessários que permitam a sua sobrevivência de modo a os levar para o hospital, que não dispõe dos mesmos face à situação existente no seu país. Também assisti à generosa mobilização dos cidadãos, dos voluntários, muito empenhados em tentar colmatar as lacunas existentes. Queremos ter orgulho no nosso Portugal que sempre soube dar a volta por cima ao longo da história. Que o Serviço Nacional de Saúde venha a constituir uma experiência positiva. É pedir muito a um nobre Povo, terra de Santa Maria? Basta querer, haver vontade e empenho de governantes por esta causa prioritária, bem como a mobilização dos cidadãos em prol da paz, do bem-estar, da democracia, da vontade de viver juntos e de partilhar os sonhos e objetivos comuns. Recordo a frase que dá o título a este artigo: “Por todo o bem que fizermos, receberemos muito mais”.

Santa Maria, Rainha da Esperança, ajuda-nos a concretizar este objetivo, intercedendo não só por Portugal, mas também pelo Mundo.

Maria Helena Paes



Sem comentários:

Enviar um comentário