Baptizavam, missionavam e logo pediam sacerdotes
O número de católicos coreanos multiplicou-se por dez nas últimas décadas. |
Actualizado 31 de Julho de 2014
Aleteia
O Papa Francisco visitará a Coreia de 14 a 18 de Agosto para encontrar-se com a juventude católica da Ásia, reunida em torno do tema Juventude da Ásia, desperta! A glória dos mártires brilha sobre ti!, assim como para fortalecer na fé a Igreja da Coreia. Em 18 de Agosto celebrará uma missa em Seul para a beatificação de 124 mártires coreanos assassinados por ódio à fé entre 1791 e 1888.
A agência informativa das Missões Estrangeiras de Paris Églises d’Asie propõe aos seus leitores submergir-se na história do nascimento da Igreja na Coreia para entender como este país situado no coração do nordeste da Ásia se fez em parte cristão, e a Igreja católica conte hoje com algo mais de 10% dos 50 milhões de sul-coreanos, enquanto os protestantes alcançam quase o 20% da população do país.
Aleteia
O Papa Francisco visitará a Coreia de 14 a 18 de Agosto para encontrar-se com a juventude católica da Ásia, reunida em torno do tema Juventude da Ásia, desperta! A glória dos mártires brilha sobre ti!, assim como para fortalecer na fé a Igreja da Coreia. Em 18 de Agosto celebrará uma missa em Seul para a beatificação de 124 mártires coreanos assassinados por ódio à fé entre 1791 e 1888.
A agência informativa das Missões Estrangeiras de Paris Églises d’Asie propõe aos seus leitores submergir-se na história do nascimento da Igreja na Coreia para entender como este país situado no coração do nordeste da Ásia se fez em parte cristão, e a Igreja católica conte hoje com algo mais de 10% dos 50 milhões de sul-coreanos, enquanto os protestantes alcançam quase o 20% da população do país.
Monsenhor René Dupont em 1982. |
O autor do texto é monsenhor René Dupont, membro da Sociedade das Missões Estrangeiras de Paris desde 1953 e primeiro bispo de Andong, diocese erigida em 1969. Bispo aos 39 anos de idade, dirigiu esta diocese até Outubro de 1990, data a partir da qual as 16 dioceses da Igreja na Coreia do Sul (15 dioceses mais uma diocese no exército) se confiaram aos bispos locai. Missionário atento às realidades sociais e políticas do seu país de adopção, monsenhor Dupont vive em Andong.
Este é o seu escrito.
Monsenhor René Dupont, sobre a Igreja na Coreia
Pessoas valentes que acolhem a fé cristã espontaneamente por si mesma! Uma vez baptizados, baptizam comunidades, também por si mesmos, depois procuram sacerdotes para que se ocupem destas comunidades! Assim é a incrível e maravilhosa história do nascimento da Igreja na Coreia.
São Paulo não tinha previsto isto quando explicava, na sua epístola aos romanos, que para crer na Boa Nova primeiro era necessário tê-la escutado, e que não se a podia escutar se um missionário não tinha sido primeiro enviado a proclamá-la.
Na China: sábios... E sacerdotes
Todo começou há uns 220 anos, numa época próxima à da Revolução francesa. A Coreia era então vassala da China. Na corte do imperador, a China acolhia europeus, especialistas em ciências da época, quer dizer, em geografia, astronomia, matemáticas,… Que por sua vez eram especialistas em religião porque eram sacerdotes católicos.
Enquanto o governo coreano fechava hermeticamente todas as portas ao exterior, jovens intelectuais coreanos, entusiastas de ideias novas e desejosos de servir o seu país, passavam secretamente livros chineses, alguns deles cristãos, como os escritos dos séculos antes pelo padre Matteo Ricci e os seus companheiros jesuítas.
É certo que tinham algumas ideias políticas por detrás, mas como tampouco se tratava de falar publicamente deles, pensavam que em primeiro lugar tinham que formar-se.
Um tal Hong Yu-han, por exemplo, que nunca recebeu o baptismo, leu vários livros cristãos e desde o princípio o conquistaram! Até ao ponto de tomar, por sua conta, hábitos de oração; inclusive celebrava, à sua maneira, uma vez por semana um “dia do Senhor” e punha em prática a caridade partilhando generosamente os seus bens.
Este é o seu escrito.
Monsenhor René Dupont, sobre a Igreja na Coreia
Pessoas valentes que acolhem a fé cristã espontaneamente por si mesma! Uma vez baptizados, baptizam comunidades, também por si mesmos, depois procuram sacerdotes para que se ocupem destas comunidades! Assim é a incrível e maravilhosa história do nascimento da Igreja na Coreia.
São Paulo não tinha previsto isto quando explicava, na sua epístola aos romanos, que para crer na Boa Nova primeiro era necessário tê-la escutado, e que não se a podia escutar se um missionário não tinha sido primeiro enviado a proclamá-la.
Na China: sábios... E sacerdotes
Todo começou há uns 220 anos, numa época próxima à da Revolução francesa. A Coreia era então vassala da China. Na corte do imperador, a China acolhia europeus, especialistas em ciências da época, quer dizer, em geografia, astronomia, matemáticas,… Que por sua vez eram especialistas em religião porque eram sacerdotes católicos.
Enquanto o governo coreano fechava hermeticamente todas as portas ao exterior, jovens intelectuais coreanos, entusiastas de ideias novas e desejosos de servir o seu país, passavam secretamente livros chineses, alguns deles cristãos, como os escritos dos séculos antes pelo padre Matteo Ricci e os seus companheiros jesuítas.
É certo que tinham algumas ideias políticas por detrás, mas como tampouco se tratava de falar publicamente deles, pensavam que em primeiro lugar tinham que formar-se.
Um tal Hong Yu-han, por exemplo, que nunca recebeu o baptismo, leu vários livros cristãos e desde o princípio o conquistaram! Até ao ponto de tomar, por sua conta, hábitos de oração; inclusive celebrava, à sua maneira, uma vez por semana um “dia do Senhor” e punha em prática a caridade partilhando generosamente os seus bens.
Santo André Kim (1821-1846) |
Santo André Kim, o primeiro sacerdote coreano, morto mártir 70 anos mais tarde, disse-se dele que foi “o primeiro coreano que praticou a religião cristã”, o que não é de todo exacto, porque dois séculos antes, nas carroças de um exército japonês invasor, vários missionários estrangeiros tinham baptizado coreanos, mas… Ironias do destino – ou melhor sorriso do Bom Deus -, estes primeiros cristãos desapareceram sem deixar rasto!
A história de Lee Byeok
Outro, um tal Lee Byeok, vai mais longe. Fascinado de alguma maneira pelo cristianismo que vislumbrou nos livros, quis saber mais. Sem dúvida, para saber mais havia que ir à China, a Pequim, e encontrar-se ali com alguns destes “sábios” ocidentais.
Para isso era de todo necessário formar parte do grupo de embaixadores nomeados pelo rei que iam, no final de cada ano lunar, mostrar lealdade ao imperador da China e receber dele o calendário do ano seguinte.
Como não era possível fazer-se nomear ele mesmo, teve a ideia de dirigir-se a um jovem amigo da sua idade que devia acompanhar o seu pai nomeado secretário de embaixada. Esse amigo chamava-se Lee Seung-hun: tinha 27 anos.
Lee Byeok mostrou-lhe os livros que tinha e pediu-lhe que fosse procurar outros a Pequim. Inclusive aconselhou-o a fazer-se baptizar.
Lee Seung-hun, depois de um tempo de vacilação, acabou aceitando. E assim foi como em Pequim se encontrou com três jesuítas: um português, o padre D’Almeida, e dois franceses, os padres Grammont e De Ventavon.
Ele falava coreano, eles chinês; ele aprendeu alguns caracteres chineses, eles também: só se entendiam por escrito.
Ele pediu o baptismo e foi o padre Grammont quem empreendeu o ensinamento. Bom, um ensinamento rudimentar que não durou mais que três semanas! Finalmente os dois franceses fizeram-no passar um exame de catecismo… Que foi satisfatório.
Pediram-lhe então o consentimento do seu pai, que aceitou. Lee Seung-hun foi baptizado pelo padre Grammont, que lhe pôs o nome de Pedro para que fosse a pedra angular da Igreja coreana. Era um dos últimos dias de Janeiro de 1784.
Quando regressou à Coreia, levava os braços cheios de livros de astronomia, matemáticas, geometria… E religião.
Lee Byeok estava encantado. Ele e os seus amigos lançaram-se de cabeça ao estudo do cristianismo, até tal ponto que em princípios do Inverno desse mesmo ano 1784, Pedro Lee considerou que podia baptizar os três mais avançados, entre eles Lee Byeok.
Espírito missionário
Pouco depois, outro grupo recebeu o baptismo, e outros mais depois. Os primeiros baptizados davam o baptismo aos catecúmenos, quando os consideravam preparados, e os convidavam a formar o que agora se chamaria comunidades de base.
Em seguida, os livros mais importantes, muitos deles livros de oração, traduziram-se ao coreano e difundiram-se amplamente. Porque estes novos cristãos tinham espírito missionário: com melodias tradicionais faziam passar a mensagem, inventavam histórias alegóricas,… Para os pequenos!
E maravilha! As comunidades cresciam aqui e além como setas, sem a presença de nenhum missionário!
Começa a perseguição
Mas rapidamente também, se murmurou nos meios oficiais que elementos perigosos se reuniam secretamente e podiam alterar a ordem pública.
O assunto estalou um grande dia quando polícias entraram na casa de um tal Thomas Kim que reunia os cristãos, no centro de Seul, no lugar da catedral actual.
Tendo escutado ruídos desde o exterior, esses polícias acreditaram encontrar-se perante um bando de traficantes que jogava ilegalmente jogos de azar! O assunto fez muito ruído: a comunidade foi dispersada e Thomas Kim enviado para o exílio.
Pedro Lee (Lee Seung-hun) deu a conhecer estas notícias ao padre Grammont através de outro amigo que formava parte da embaixada seguinte. Este último voltou com todavia mais livros, que foram confiscados na fronteira pelas autoridades. Os cristãos já eram indesejáveis e começaram as perseguições…
Esta é a canção que preparou a Igreja coreana para receber o Papa
A história de Lee Byeok
Outro, um tal Lee Byeok, vai mais longe. Fascinado de alguma maneira pelo cristianismo que vislumbrou nos livros, quis saber mais. Sem dúvida, para saber mais havia que ir à China, a Pequim, e encontrar-se ali com alguns destes “sábios” ocidentais.
Para isso era de todo necessário formar parte do grupo de embaixadores nomeados pelo rei que iam, no final de cada ano lunar, mostrar lealdade ao imperador da China e receber dele o calendário do ano seguinte.
Como não era possível fazer-se nomear ele mesmo, teve a ideia de dirigir-se a um jovem amigo da sua idade que devia acompanhar o seu pai nomeado secretário de embaixada. Esse amigo chamava-se Lee Seung-hun: tinha 27 anos.
Lee Byeok mostrou-lhe os livros que tinha e pediu-lhe que fosse procurar outros a Pequim. Inclusive aconselhou-o a fazer-se baptizar.
Lee Seung-hun, depois de um tempo de vacilação, acabou aceitando. E assim foi como em Pequim se encontrou com três jesuítas: um português, o padre D’Almeida, e dois franceses, os padres Grammont e De Ventavon.
Ele falava coreano, eles chinês; ele aprendeu alguns caracteres chineses, eles também: só se entendiam por escrito.
Ele pediu o baptismo e foi o padre Grammont quem empreendeu o ensinamento. Bom, um ensinamento rudimentar que não durou mais que três semanas! Finalmente os dois franceses fizeram-no passar um exame de catecismo… Que foi satisfatório.
Pediram-lhe então o consentimento do seu pai, que aceitou. Lee Seung-hun foi baptizado pelo padre Grammont, que lhe pôs o nome de Pedro para que fosse a pedra angular da Igreja coreana. Era um dos últimos dias de Janeiro de 1784.
Quando regressou à Coreia, levava os braços cheios de livros de astronomia, matemáticas, geometria… E religião.
Lee Byeok estava encantado. Ele e os seus amigos lançaram-se de cabeça ao estudo do cristianismo, até tal ponto que em princípios do Inverno desse mesmo ano 1784, Pedro Lee considerou que podia baptizar os três mais avançados, entre eles Lee Byeok.
Espírito missionário
Pouco depois, outro grupo recebeu o baptismo, e outros mais depois. Os primeiros baptizados davam o baptismo aos catecúmenos, quando os consideravam preparados, e os convidavam a formar o que agora se chamaria comunidades de base.
Em seguida, os livros mais importantes, muitos deles livros de oração, traduziram-se ao coreano e difundiram-se amplamente. Porque estes novos cristãos tinham espírito missionário: com melodias tradicionais faziam passar a mensagem, inventavam histórias alegóricas,… Para os pequenos!
E maravilha! As comunidades cresciam aqui e além como setas, sem a presença de nenhum missionário!
Começa a perseguição
Mas rapidamente também, se murmurou nos meios oficiais que elementos perigosos se reuniam secretamente e podiam alterar a ordem pública.
O assunto estalou um grande dia quando polícias entraram na casa de um tal Thomas Kim que reunia os cristãos, no centro de Seul, no lugar da catedral actual.
Tendo escutado ruídos desde o exterior, esses polícias acreditaram encontrar-se perante um bando de traficantes que jogava ilegalmente jogos de azar! O assunto fez muito ruído: a comunidade foi dispersada e Thomas Kim enviado para o exílio.
Pedro Lee (Lee Seung-hun) deu a conhecer estas notícias ao padre Grammont através de outro amigo que formava parte da embaixada seguinte. Este último voltou com todavia mais livros, que foram confiscados na fronteira pelas autoridades. Os cristãos já eram indesejáveis e começaram as perseguições…
Esta é a canção que preparou a Igreja coreana para receber o Papa
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