Teólogos ortodoxos sobre Ucrânia
Mais de 500 teólogos, presbíteros e académicos de todo o mundo e de várias denominações cristãs, na grande maioria ortodoxos, já assinaram um texto, sob o título “uma Declaração sobre o Ensino do ‘Mundo Russo’ (Russkii Mir)”, no qual criticam de forma dura “a invasão russa da Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022”, apresentando-a como “uma ameaça histórica para um povo de tradição cristã ortodoxa”.
Entre os signatários estão alguns dos nomes mais importantes da teologia ortodoxa em países anglo-saxónicos – como Andrew Louth, Nicholas Denysenko, Paul Gavryluk, Paul Meyendorff e George Demacopoulos – e católicos conhecedores dessa realidade.
Segundo o texto, promovido por teólogos ortodoxos de vários países e divulgado pelo site Public Orthodoxy, “mais preocupante ainda para os crentes ortodoxos, a hierarquia sénior da Igreja Ortodoxa Russa recusou-se a reconhecer essa invasão, emitindo declarações vagas sobre a necessidade de paz à luz dos ‘eventos’ e ‘hostilidades’ na Ucrânia, enfatizando a natureza fraterna de os povos ucraniano e russo como parte da Santa Rus’, culpando o malvado ‘Ocidente’ pelas hostilidades, e até mesmo orientando as suas comunidades a orar de maneira a encorajar ativamente a hostilidade”.
As críticas são muito violentas, também ao patriarca Cirilo, de Moscovo: “O apoio de muitos da hierarquia do Patriarcado de Moscovo à guerra do presidente Vladimir Putin contra a Ucrânia está enraizado em uma forma de fundamentalismo religioso etnofilético ortodoxo [deriva étnica das igrejas ortodoxas], de caráter totalitário, chamado Russkii mir ou mundo russo, um falso ensinamento que está a atrair muitos na Igreja Ortodoxa e foi também adotada pela extrema-direita e pelos fundamentalistas católicos e protestantes.”
Cirilo tem usado a argumentação o Presidente da Rússia, e esta Declaração aponta o dedo a esta relação. “Os discursos do presidente Vladimir Putin e do patriarca Cirilo (Gundiaev) de Moscovo (patriarcado de Moscovo) repetidamente invocaram e desenvolveram a ideologia mundial russa nos últimos 20 anos. Em 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia e iniciou uma guerra por procuração na região de Donbas, na Ucrânia, até ao início da guerra total contra a Ucrânia, Putin e o patriarca Cirilo usaram a ideologia do mundo russo como principal justificação para a invasão.”
O texto, denso teologicamente e carregado de referências bíblicas, aponta seis “verdades” sobre os acontecimentos e a fé cristã ortodoxa, para deixar outras tantas condenações de situações “não-ortodoxas”.
Os autores rejeitam “qualquer ensinamento que pretenda substituir o Reino de Deus visto pelos profetas, proclamado e inaugurado por Cristo, ensinado pelos apóstolos, recebido como sabedoria pela Igreja, estabelecido como dogma pelos Padres, e experimentado em cada Santa Liturgia, com um reino deste mundo, seja a Santa Rus’, a Sagrada Bizâncio, ou qualquer outro reino terrestre”.
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