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quinta-feira, 17 de março de 2022

Francisco rejeita “guerra santa” e pede apoio de Cirilo

Reunidos em vídeoconferência

 |16 Mar 2022 

Papa Francisco em videoconferência com patriarca cirilo a 16 março 2022 foto facebook de antonio spadaro sj

“Somos pastores do mesmo povo santo (…): por isso devemos unir-nos no esforço de ajudar a paz, de ajudar os que sofrem, de buscar caminhos de paz, para deter o fogo”, afirmou Francisco durante a videoconferência. Foto © Vatican media.

 

O Papa Francisco e o Patriarca Cirilo, da Igreja Ortodoxa Russa, estiveram reunidos pela primeira vez desde o início da guerra na Ucrânia. No encontro, que decorreu ao início da tarde desta quarta-feira, 16 de março, por videoconferência, o responsável da Igreja Católica rejeitou qualquer justificação para a agressão militar por parte da Rússia, afirmando que não se pode falar de “guerra santa” ou guerra justa. “As guerras são sempre injustas. Porque quem paga é o povo de Deus”, sublinhou.

“A Igreja não deve usar a linguagem da política, mas a linguagem de Jesus”, afirmou ainda o Papa Francisco, citado pelo Vatican News. “Somos pastores do mesmo povo santo que crê em Deus, na Santíssima Trindade, na Santa Mãe de Deus: por isso devemos unir-nos no esforço de ajudar a paz, de ajudar os que sofrem, de buscar caminhos de paz, para deter o fogo”. 

O Papa referiu ainda a doutrina da “guerra justa”, que a Igreja Católica já defendeu, para afirmar que também esse conceito deve ser ultrapassado: “No passado, também se falava, nas nossas Igrejas, de guerra santa ou de guerra justa. Hoje não se pode falar assim. Desenvolveu-se a consciência cristã da importância da paz.” E acrescentou: “Os nossos corações não podem deixar de chorar perante as crianças, as mulheres mortas, todas as vítimas desta guerra. A guerra nunca é o caminho. O Espírito que nos une pede-nos como pastores que ajudemos os povos que sofrem com a guerra.”

>Recorde-se que, no passado dia 10, como o 7MARGENS noticiou, o patriarca russo recusou mediar as negociações para um cessar-fogo na guerra da Ucrânia, em resposta a uma carta do secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) em que se mostrava alinhado com a estratégia do Presidente Vladimir Putin e responsabilizava os países da NATO pela eclosão do conflito.  

O jornal italianoAvvenire  refere que, de acordo com uma declaração do Patriarcado russo sobre o mesmo encontro, durante a conversa foi dada especial atenção aos aspetos humanitários da crise atual e às ações da Igreja Ortodoxa Russa e da Igreja Católica para superar as suas consequências. Ambas as partes “enfatizaram a excecional importância do processo de negociação em curso, expressando a sua esperança na rápida conquista de uma paz justa”, avança a notícia. E “algumas questões atuais da cooperação bilateral também foram discutidas”.

Embora Cirilo tenha expressado o seu desejo de que o conflito termine, em nenhuma declaração terá denunciado Putin ou as ações militares da Rússia contra a Ucrânia, pode ler-se no National Catholic Reporter. A mesma publicação dá conta de que, após o encontro, o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, celebrou uma missa pela paz na Basílica de São Pedro, com a participação do corpo diplomático do Vaticano.  

Na presença do embaixador da Rússia no Vaticano, Aleksandr Avdeyev, e do embaixador da Ucrânia, Andrii Yurash, Parolin repetiu as palavras do Papa Francisco na sua homilia de 6 de março: “Esta não é apenas uma operação militar, mas uma guerra”, rejeitando assim, mais uma vez e de forma explícita, as referências do governo russo relativamente às atividades na Ucrânia como sendo uma “operação militar especial”.


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