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segunda-feira, 28 de março de 2022

Inquietares-te? Nunca

O despertador toca. É dia 21 de Fevereiro e são 6:30h da manhã. Sinto uma pontada de desapontamento. Segunda-feira: mais um dia de estágio, mais um deadline de um trabalho que termina hoje. Tento corrigir esta linha de pensamento: segunda-feira! Uma nova semana! Mais um dia nesta Terra! Uma nova oportunidade de ajudar os meus doentes! Mais um trabalho para entregar, mais conhecimento que ganho! Sendo totalmente honesta, não funciona muito bem. Penso que com uma chávena de café talvez a coisa vá ao sítio. A casa está escura, a cozinha vazia. Está toda a gente a dormir, é segunda-feira e eu odeio comer sozinha. O café anima-me um pouco… até ao momento em que me lembro, não preparei o almoço! E o stress começa, porque tenho que sair em 20 minutos, se não perco o Metro, e depois perco o comboio e depois chego atrasada e, ai de mim, que o dia inteiro já foi por água abaixo. Ainda bem que sobrou arroz, ainda bem que há ovos em casa. Vinte minutos depois, fecho a porta de casa atrás de mim. Na rua, está frio. Porque é que só tenho camisas de manga curta? Um casaco por cima não é definitivamente suficiente. A caminho do metro, consigo ver o nascer do sol, uma das minhas coisas preferidas nesta vida. Mas não posso parar, se não atraso-me… o sol fica atrás de mim e o caminho à minha frente ainda está escuro. Que dia! No Metro, de repente, fica um calor que não se suporta. Porque é que trouxe este casaco? Olho à minha volta. Toda a gente no telemóvel. Caras de sono, caras inexpressivas, caras maldispostas… Honestamente, acho que as pessoas podiam sorrir um pouco mais! Ainda que seja segunda- feira e 7:10h da manhã. Ah, afinal há ali uma cara bem disposta. E agora sou eu que estou chateada… se aquela pessoa tivesse à frente o dia que eu tenho, já não sorriria assim. Agora, esperar 10 minutos pelo comboio. É uma boa oportunidade para estudar… mas não me apetece. Mas vá, tem que ser. O comboio vai cheio, como sempre. Não fazia ideia de que tanta gente ia para Sintra, às 7:30h da manhã. Não há lugares, como sempre. Só mais caras mal dispostas e ninguém da minha idade. Identifiquei uma contrariedade? Ofereço-a por quem precisa. Depois, passo os cinco minutos seguintes a queixar-me a Jesus: se não tiver cuidado tornar-se-á uma nova rotina. Saio do comboio e tenho que subir uma rua enorme para chegar ao Centro de Saúde (é realmente uma rua grande). E eu que odeio exercício físico! Não basta acordar cedo e correr para não chegar atrasada, tenho que escalar 800 metros de tijolos mal calcados! É segunda-feira, 7:50h e isto começa a parecer um complô contra mim. Chego ao Centro de Saúde e o carro do meu orientador já lá está. Ai Jesus, ai Nossa Senhora, é desta que ele me dá menos um ponto na avaliação. Começo a receber os doentes. Hoje estão mais agressivos que o habitual, ou é impressão minha? Os meus irmãos dizem que sou dramática, por isso, talvez seja de mim. Mas, bem, alguém tem que ser! Já passaram sete horas. Já não consigo ver doentes à frente. Posso ir para casa? Posso. Dramática, digo à minha colega que nunca me tinha sentido tão feliz na vida. E, ao chegar a casa, depois de comboio, metro e subida (outra?) a felicidade já se foi, porque tenho que terminar o tal trabalho. Lá se vai o episódio do “The Crown” que tinha antecipado. Num instante, são 18h da tarde. Tenho os olhos em bico de tanto olhar para o computador, mas lá terminei os meus diagnósticos. Releio o trabalho e penso que não aprendi nada, para além de que ressinto profundamente a senhora que inventou a NANDA, NIC e NOC. São 18:15h. São horas de ir à Missa e “Jesus, desculpa, não me apetece nada”. Mas Jesus leva a melhor, e lá corro até à Igreja. Tenho a impressão que corro para todo o lado hoje em dia.  Horas depois, já é de noite outra vez. Sento-me na cama. Mais um dia… acabou por nem ser assim tão mau. Jesus olha-me cepticamente lá de cima. Penso novamente. Na verdade, até foi bom! Calma, pára tudo! Mentira, afinal foi mesmo péssimo, porque acabei de me lembrar que tinha-me proposto escrever um artigo, e não o escrevi. Bem, a esta hora já não faço nada, não há maneira. Abro o Caminho. “Inquietares-te? Nunca… Porque é perder a paz.” (Ponto 705). Hoje inquietei-me? Jesus olha-me lá de cima. Pois… Amanhã farei melhor, Jesus. Amanhã serei melhor. Porque “Eu estarei convosco, até ao fim dos tempos”.  E, com esta certeza, que importa um 16 de nota final de estágio? Bem…Talvez deixe esta pergunta em aberto. Olho para Jesus lá em cima. Bem, afinal talvez responda à pergunta. A resposta é “nada”. Não importa nada.


Rosário Martins
estudante de Enfermagem




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