O
despertador toca. É dia 21 de Fevereiro e são 6:30h da manhã. Sinto uma pontada
de desapontamento. Segunda-feira: mais um dia de estágio, mais um deadline
de um trabalho que termina hoje. Tento corrigir esta linha de pensamento: segunda-feira!
Uma nova semana! Mais um dia nesta Terra! Uma nova oportunidade de ajudar os
meus doentes! Mais um trabalho para entregar, mais conhecimento que ganho!
Sendo totalmente honesta, não funciona muito bem. Penso que com uma chávena de
café talvez a coisa vá ao sítio. A casa está escura, a cozinha vazia. Está toda
a gente a dormir, é segunda-feira e eu odeio comer sozinha. O café anima-me um
pouco… até ao momento em que me lembro, não preparei o almoço! E o stress começa, porque tenho que sair em 20
minutos, se não perco o Metro, e depois perco o comboio e depois chego atrasada
e, ai de mim, que o dia inteiro já foi por água abaixo. Ainda bem que sobrou
arroz, ainda bem que há ovos em casa. Vinte minutos depois, fecho a porta de
casa atrás de mim. Na rua, está frio. Porque é que só tenho camisas de manga
curta? Um casaco por cima não é definitivamente suficiente. A caminho do metro,
consigo ver o nascer do sol, uma das minhas coisas preferidas nesta vida. Mas
não posso parar, se não atraso-me… o sol fica atrás de mim e o caminho à minha
frente ainda está escuro. Que dia! No Metro, de repente, fica um calor que não
se suporta. Porque é que trouxe este casaco? Olho à minha volta. Toda a gente
no telemóvel. Caras de sono, caras inexpressivas, caras maldispostas… Honestamente, acho que as pessoas podiam sorrir um pouco mais! Ainda que seja
segunda- feira e 7:10h da manhã. Ah, afinal há ali uma cara bem disposta. E
agora sou eu que estou chateada… se aquela pessoa tivesse à frente o dia que eu
tenho, já não sorriria assim. Agora, esperar 10 minutos pelo comboio. É uma boa
oportunidade para estudar… mas não me apetece. Mas vá, tem que ser. O comboio
vai cheio, como sempre. Não fazia ideia de que tanta gente ia para Sintra, às
7:30h da manhã. Não há lugares, como sempre. Só mais caras mal dispostas e
ninguém da minha idade. Identifiquei uma contrariedade? Ofereço-a por quem
precisa. Depois, passo os cinco minutos seguintes a queixar-me a Jesus: se não
tiver cuidado tornar-se-á uma nova rotina. Saio do comboio e tenho que subir
uma rua enorme para chegar ao Centro de Saúde (é realmente uma rua grande). E
eu que odeio exercício físico! Não basta acordar cedo e correr para não chegar
atrasada, tenho que escalar 800 metros de tijolos mal calcados! É segunda-feira,
7:50h e isto começa a parecer um complô contra mim. Chego ao Centro de Saúde e
o carro do meu orientador já lá está. Ai Jesus, ai Nossa Senhora, é desta que
ele me dá menos um ponto na avaliação. Começo a receber os doentes. Hoje estão
mais agressivos que o habitual, ou é impressão minha? Os meus irmãos dizem que
sou dramática, por isso, talvez seja de mim. Mas, bem, alguém tem que ser! Já
passaram sete horas. Já não consigo ver doentes à frente. Posso ir para casa?
Posso. Dramática, digo à minha colega que nunca me tinha sentido tão feliz na
vida. E, ao chegar a casa, depois de comboio, metro e subida (outra?) a
felicidade já se foi, porque tenho que terminar o tal trabalho. Lá se vai o
episódio do “The Crown” que tinha antecipado. Num instante, são 18h da tarde.
Tenho os olhos em bico de tanto olhar para o computador, mas lá terminei os
meus diagnósticos. Releio o trabalho e penso que não aprendi nada, para além de
que ressinto profundamente a senhora que inventou a NANDA, NIC e NOC. São
18:15h. São horas de ir à Missa e “Jesus, desculpa, não me apetece nada”. Mas
Jesus leva a melhor, e lá corro até à Igreja. Tenho a impressão que corro para
todo o lado hoje em dia. Horas depois, já
é de noite outra vez. Sento-me na cama. Mais um dia… acabou por nem ser assim
tão mau. Jesus olha-me cepticamente lá de cima. Penso novamente. Na verdade,
até foi bom! Calma, pára tudo! Mentira, afinal foi mesmo péssimo, porque acabei
de me lembrar que tinha-me proposto escrever um artigo, e não o escrevi. Bem, a
esta hora já não faço nada, não há maneira. Abro o Caminho. “Inquietares-te? Nunca… Porque é perder a paz.” (Ponto
705). Hoje inquietei-me? Jesus olha-me lá de cima. Pois… Amanhã farei melhor,
Jesus. Amanhã serei melhor. Porque “Eu estarei convosco, até ao fim dos tempos”.
E, com esta certeza, que importa um 16
de nota final de estágio? Bem…Talvez deixe esta pergunta em aberto. Olho para
Jesus lá em cima. Bem, afinal talvez responda à pergunta. A resposta é “nada”.
Não importa nada.
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