Zenão foi estudar para os Estados Unidos. O dinheiro era escasso e o jovem aproveitava as manhãs dos fins-de-semana para exibir a sua marioneta, o Dirk, nas ruas e praças concorridas pelos pais que iam de compras com os seus filhos. Um pequenito, talvez com 18 meses de idade, ficou-se a olhar interessado para o boneco. Era da sua altura, mas estava vestido como um adulto. Que seria? Dançava ao som da música, movido pelas mãos de Zenão, mas a criança não se apercebia disso, ocupada como estava em tentar compreender a novidade.
A marioneta não parava de sorrir; sempre com o mesmo sorriso, sem pestanejar. O coração de Zenão batia apressado com ternura. Voltou Dirk para o menino e, movendo os cordéis, levou-o a fazer o gesto de pedir um beijo enquanto o aproximava lentamente do garotinho. O pequenito, num primeiro instante, recuou, mas logo se rendeu à “amizade” deste desconhecido, dando-lhe beijos e dançando à sua frente, imitando-o. Mais pessoas se aproximavam, curiosas e comovidas, enquanto o pai, por detrás, estava atento e protegia os passos e gestos ainda inseguros do seu filho.
Esta cena tão natural e familiar, “aqueceu” vários corações. No entanto, entre tantas pessoas, apenas Zenão estava em ação, conquistando, com a sua criatividade, através de Dirk, os sentimentos nobres escondidos em cada espectador. A criança correspondia alegremente aos incentivos do boneco, sem se aperceber de que era Zenão, e não Dirk, o seu verdadeiro amigo. Também à sua volta tinham surgido novos amigos (o seu pai era o mais seguro de todos), prontos a protegê-lo e a levantá-lo do chão, se caísse em algum dos seus trôpegos passos infantis.
Ah! Quantos de nós teremos noção de sermos marionetes nas mãos de Deus? Que bom seria se nos deixássemos manipular por Ele, obedecendo à sua vontade, levando felicidade aos outros, tornando visível todo o carinho escondido, abafado e talvez com medo de se revelar! Quanto amor e felicidade de Deus somos capazes de transmitir se fizermos “tudo o que Ele nos disser” (Jo 2,5), como fizeram os servos das Bodas de Caná a conselho da Virgem Maria. É assim que os milagres acontecem.
O menino vai crescer e, um dia, o pai comprar-lhe-á uma marioneta e explicar-lhe-á a verdade: o Dirk não era um amigo a sério, mas estava ligado por fios às mãos de um Amigo desconhecido. Esse sim, queria contentá-lo, dar-lhe beijos e abraços, fazê-lo bailar... até chegar a sua vez de, terminado o curso e já com trabalho, poder ser pai.
Isabel Vasco Costa
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