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sábado, 14 de fevereiro de 2015

"Com Francisco, muitas pessoas estão voltando para a Igreja"

Entrevista com arcebispo emérito de Tucumán, Dom Villalba, nomeado novo cardeal


Roma, 13 de Fevereiro de 2015 (Zenit.org) Sergio Mora


Papa Francisco criará cardeal Dom Luis Villalba, arcebispo emérito de Tucumán, neste sábado, 14 de Fevereiro, durante o Consistório.

Dom Villalba Nasceu em Buenos Aires dia 11 de Outubro de 1934. Foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires em 1984, bispo da diocese de San Martin em 1991 e arcebispo da arquidiocese de Tucuman em 1999, cargo do qual se aposentou por idade em 2011. Dom Villalba não tem o direito de votar em um conclave para eleger o futuro Papa por ter mais de 80 anos.

ZENIT: Quando conheceu Bergoglio?
Dom Villalba: Quando ele foi nomeado bispo em 1992, na paróquia de Flores, eu participei da sua ordenação. Ele assumiu o vicariato de Flores onde eu estava antes. Em 1999, eu fui para Tucumán. Naquele tempo os bispos me elegeram presidente da comissão que elaborou o documento 'Navegar Mar Adentro’, que convidava a assumir o apelo feito por João Paulo II. Este, foi aprofundado em Aparecida, e Bergoglio me apoiou muito.

ZENIT: O senhor trabalhou com o Papa?
Dom Villalba: Sim, porque Bergoglio foi presidente da Conferência Episcopal Argentina por dois mandatos e eu fui vice-presidente no primeiro. Foram seis anos nos encontrando mensalmente. Estávamos muito próximos, também viajamos juntos para Roma três vezes nesse período, visitando as Congregações, e fomos recebidos duas vezes por Bento XVI.

Nos entendemos muito. Ele é muito simples, sempre foi pastor, próximo das pessoas, isso não é novidade. Ele era assim, visitava as paróquias, os bairros, viajava de ónibus.

ZENIT: Quando ele fala dos problemas pastorais, muitas vezes, temos a impressão de que querem rotulá-lo ideologicamente. Certo?
Dom Villalba: Bergoglio nunca foi ideológico, devemos ter isso claro, ideológicos são os que o definem de direita, esquerda ou de centro. Ele sempre foi um homem da Igreja, com uma grande capacidade de discernimento, e, evidentemente, toda a espiritualidade inaciana o ajuda muito nisso. Um homem que consulta, pergunta, mas depois discerne e toma a decisão e quando decide é muito firme. Não é apressado, não resolver os problemas repentinamente, antes reza, medita, consulta, até que uma decisão, na certeza de que Deus está lhe pedindo aquilo.

ZENIT: O que mais impressiona no quotidiano de Bergoglio?
Dom Villalba: A simplicidade. É muito normal o que ele diz. E como Papa pede isso aos bispos e sacerdotes. Outra coisa, que é um dom, que marca, são aquelas frases como ‘o cheiro de ovelhas' que significa estar próximo e partilhar a vida com as pessoas.

ZENIT: E o Sínodo sobre a família?
Dom Villalba: O primeiro foi extraordinário, e em Outubro haverá o segundo. Eu não participei, mas eu li tudo a respeito. Um marco do Papa foi que ele quis que os Padres sinodais falassem livremente, para expressar seus pensamentos, e isso é saudável. Eu acho que ele usou a expressão "dizer o que pensa" e claro, respeitar o pensamento de outro.

ZENIT: Em sua experiência pastoral, como Francisco está influenciando?
Dom Villalba: Na Argentina muito bem, não só no âmbito eclesiástico, mas todas as pessoas, muitos baptizados e não praticantes de alguma forma estão voltando para a Igreja. Na Semana Santa Santa percebemos uma maior participação dos fiéis. Eles dizem 'Francisco fala claramente, nós o compreendemos, é um dos nossos’.

ZENIT: Este retorno é o início de uma conversão?
Dom Villalba: Muitos voltaram. No confessionário eu já vi. Era o que esperávamos, surpreendente, uma graça de Deus. Este domingo, em Roma, eu não consegui ver o Papa durante o Angelus, porque eu não consegui passar por tantas pessoas na Praça de São Pedro, eu fiquei do lado de fora, na Praça Pio XII.

ZENIT: Como o senhor recebeu a notícia do cardinalato?
Dom Villalba: Todos os domingos eu assisto pela televisão o Papa no Angelus. Devido à diferença de horário, na Argentina são 08:00 da manhã, eu assisto enquanto tomo o café da manhã. Eu sabia que haveria um consistório. Naquele domingo, o Papa primeiramente fez uma reflexão espiritual, em seguida, rezou o Angelus e, depois, leu a lista dos futuros cardeais. E eu ouvi o meu nome enquanto tomava mate. Eu não sabia de nada. E ele me telefonou às 6.

Francisco disse que em sua pessoa gostaria de reconhecer muitos pastores da Igreja...
Dom Villalba: Minha nomeação vai além de mim, é um reconhecimento também ao noroeste da Argentina e a Tucumán, por onde passa a corrente evangelizadora do norte, que veio de Lima. Uma das áreas mais pobres do país, duramente atingida pelo fechamento das usinas de açúcar na década de 60 e com isso todas as pessoas que lá trabalhavam. Ao mesmo tempo, uma área muito religiosa e que dá tantas vocações para a Igreja.

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