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sábado, 28 de fevereiro de 2015

A Quaresma: tempo de conversão e de salvação

O Cardeal Mauro Piacenza explica os fundamentos e os rituais do tempo litúrgico que está começando


Roma, 27 de Fevereiro de 2015 (Zenit.org) Luca Marcolivio


A Quaresma é um tempo que corresponde uma exigência irreprimível do coração humano: a da mudança e da conversão. Um caminho que não pode deixar de passar pela “virtude da penitência”, que implica a participação nos sofrimentos de Nosso Senhor, na Sua Morte e Ressurreição. Para ilustrar as características do tempo litúrgico que começamos recentemente, ZENIT entrevistou o cardeal Mauro Piacenza, Penitenciário-Mor da Santa Romana Igreja.

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ZENIT: Eminência, com a Quaresma, começa um tempo fortemente penitencial. Ainda faz sentido falar de penitência hoje? E em que termos?
Card. Mauro Piacenza: Com o rito da imposição das cinzas, toda a Igreja entra no tempo da Quaresma, com a consciência de entrar em um “espaço sagrado” que Deus dispôs para os seus filhos, para se converterem.  A penitência é, principalmente, memória da oferta que Jesus fez de si ao Pai, para nós e para a nossa salvação. Nós, cristãos, “fazemos penitência", só porque participamos da vida, da morte e da ressurreição de nosso Senhor.

ZENIT: A Quaresma é um tempo favorável para viver com sinceridade, a virtude da penitência. O Rito das cinzas não é algo incompreensível hoje? Espalhar sobre a cabeça um pouco de cinzas significa o que para o homem de 2015?
Card. Mauro Piacenza: É um rito muito antigo, com um sentido de penitência já definido no Velho Testamento. A mesma fórmula de imposição diz: "Lembre-se que és pó e em pó te tornarás" (ou "convertei-vos e crede no Evangelho”), quase que recorda – e quem mais do que o homem moderno tem essa urgente necessidade? – que esta existência terrena não é o único horizonte da vida, da vida verdadeira. Podemos dizer que com o ritual das cinzas toda a Igreja, cada ano, lança um desafio, sempre actual, especialmente para esta cultura hedonista ocidental, recordando ao homem o seu limite, dentro do qual cada homem “grita” uma necessidade de infinito, de eternidade. Este é o sentido das cinzas: recordar ao homem que é criatura e não Criador, lembrar para ele que tem sempre necessidade de Deus, convida-lo à humildade, que é verdade, e a converter-se a Deus de todo o coração.

Não esqueçamos também que as cinzas, que são utilizadas no ritual, são obtidas queimando os ramos do domingo de ramos do ano anterior, em uma continuidade ideal entre a entrada em Jerusalém, com o começo da “grande semana” da salvação (a Semana Santa), e a entrada dos fieis no caminho penitencial que levará à Páscoa. Nada na liturgia é por acaso, nem pode ser improvisado.

ZENIT: As penitências tradicionais ainda significam algo hoje? Existem novas penitências, hoje, a serem propostas?
Card. Mauro Piacenza: Fazer penitência, não para “ganharmos” a salvação, mas participar da salvação que Cristo nos conseguiu e doou gratuitamente. Os três modos clássicos de fazer penitência, como Jesus mesmo indica no Evangelho são: a oração, o jejum e a esmola, que já estavam presentes na cultura hebraica do tempo do Senhor.

Se na Quaresma fôssemos capazes de maior silêncio, seria uma grandíssima ajuda para viver melhor este tempo. Por exemplo, quem impediria de escolher, pelo menos na sexta-feira, de não ligar o rádio, nem a televisão, nem a internet, dedicando o tempo aos afectos mais queridos, com os quais, talvez, se pudesse rezar juntos um Santo Terço? Pensemos nisso!

ZENIT: Como viver melhor este tempo de Quaresma, Eminência?
Card. Mauro Piacenza: Certamente, começando-o com uma boa confissão e preparando, durante toda a Quaresma, a alegre confissão da Páscoa. Um tempo de conversão não pode ser um tempo triste, porque é o tempo da Misericórdia, do abraço benedicente de Deus, da volta à casa do Pai daquele “filho pródigo” que está em cada um de nós.

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