Continuam as meditações do Pe. Secondin nos Exercícios Espirituais. No centro das reflexões de ontem à tarde e na manhã de hoje estava o convite a livrar-se de toda ambiguidade e viver uma vida autenticamente cristã
Roma, 24 de Fevereiro de 2015 (Zenit.org) Salvatore Cernuzio
"Tirar toda máscara”, “sair à luz” e ter a “coragem” de uma
vida autenticamente cristã. Se na manhã de ontem o padre Secondin
convidava a seguir o mandamento do Senhor a Elias de "ficar de lado" e
deixá-lo agir, na meditação da tarde – a segunda dos exercícios
espirituais da Quaresma em Ariccia para o Papa e a Cúria -, convida a
uma acção directa para retomar com sinceridade nas mãos a própria história
e redescobrir a "verdade mais profunda de nós mesmos."
O carmelita segue ainda o caminho do profeta, como narrado pelas
Escrituras. Mas o faz por cenas, personagens, sugestões, por referências
e provocações, sem seguir qualquer ordem ou fio lógico das passagens do
Primeiro Livro dos Reis. No entanto, o pregador utiliza o capítulo
XVIII como base para sua reflexão, que retrata o povo de Israel e o rei
Acab esgotados por uma longa fome causada pelo culto idólatra de Baal.
Elias, que sob as ordens do Senhor vivia na solidão, agora é chamado
por Deus para quebrar esta "clandestinidade” e apresentar-se a Acab para
trazê-lo de volta ao caminho certo. Um convite, portanto, para “sair à
luz” e livrar-se das “ambiguidades” atrás da qual, muitas vezes, os
cristãos se escondem. Muitas vezes – observou Secondin – também nós
vivemos na ‘clandestinidade’, escondidos por trás de uma religiosidade
só exterior, disfarçada de coragem da verdade.
“Vá a Acab” diz Deus para Elias: ele que queria desaparecer, agora
deve ir ao encontro do perigo de encontrar-se cara a cara com aquele rei
que o considera um inimigo. Isso não é também uma referência clara à
nossa vida? Para todos aqueles que, na Igreja, sempre fazem seus
cálculos, se desculpam constantemente e "se retiram”, comentou o Pe.
Bruno.
Estes são "vítimas das palavras e das diplomacias", disse; enquanto
que, pelo contrário, Deus prepara para os cristãos sempre "novas
aventuras", das quais “ninguém pode escapar com a desculpa das ameaças
de um Acab de plantão”, nem por estar condicionados pelos prejuízos ou
pelas conveniências das “amizades e dos acordos”.
"Sair à luz”, então. Juntamente com Elias, o mesmo convite é dirigido
a Abdia, ‘mordomo’ do rei Acab convidado pelo soberano para contactar o
profeta. Também esse personagem diz algo: Abdias – destacou Secondin –
vive de um fato duplo entre a sua pertença “a uma tradição diferente” e o
desejo de não renunciar “às vantagens do poder”. Como tantos hoje, é,
portanto, movido interiormente a defender a verdade, mas, com medo, a
ponto de não querer ousar para não perder as suas seguranças.
Para ele e para o povo, Elias dirige um forte apelo: “Até quando
pulareis de galho em galho?”. Em outras palavras, observou o Pe.
Secondin, o profeta lhes diz: “Parem com essa encenação!”. O problema é
que o povo diante das intimidações do profeta nem sequer responde, cala,
porque “o sistema matou a sua consciência".
Também isso é uma referência à realidade actual: “Quantas vezes –
exclamou o carmelita – ainda actualmente, os regimes, os sistemas sangram
os povos”. E quantas vezes olhamos como “espectadores medrosos” as
guerras travadas ou – no âmbito da vida religiosa – ficamos maravilhados
com “aparelhos electrónicos, mega-catedrais, mega-complexos”, esquecendo
dos pobres e dos últimos.
Este povo aniquilado precisa, portanto, de uma sacudida. Eis então
que Elias o coloca diante de uma prova de fogo: o confronto entre a
suposta força de Baal e aquela do Senhor de Israel. E o povo permanece
fascinado por esta “religiosidade espectacular”. Um pouco como acontece
hoje quando a fé “é medida com as estatísticas” e se resolve em
“manifestações diante das quais não se sabe se estamos diante de
happening ou de verdadeira fé”.
O aspecto mais importante desta passagem é o gesto do profeta que “se
aproxima do povo para envolve-lo”, revelou o padre Secondin. E, parou
nesse ponto para continuar na meditação da manhã de hoje. O pregador
começou com uma pergunta: “Temos a coragem de envolver o povo, ou
giramos as sete igrejas para questioná-lo? Tratamos as coisas
importantes entre poucos íntimos ou sabemos ter uma estratégia de
visibilidade que destrói o sistema?".
A experiência mostra que "certas questões sensíveis" provocaram
grandes “sofrimentos”, observou Pe. Bruno, exortando a “não esconder os
nossos escândalos”, porque é importante que “as vítimas da injustiça
sejam levadas à cura com a nossa humildade de reconhecer os erros”.
Também isso é um modo de “tirar a máscara” e “sair à luz”.
O reconhecimento das culpas na Igreja, porém, deve ser medido. Muitas
vezes a Igreja, ao longo dos séculos, cometeu actos violentos: como
Elias que – recordou o pregador – executou terrivelmente os profetas de
Baal, “também nós queimamos pessoas, matamos”. E continuamos a fazer
ainda hoje, “sem a espada”, mas utilizando outras formas como a língua
ou “o teclado” de um computador que “mata mais do que a espada!”.
Continuando o caminho da meditação de ontem, Pe. Secondin disse para
ter a coragem de sair à luz e dizer a verdade sobre si mesmo, sem
anestesiar a consciência. A tudo isso acrescenta um outro passo a ser
realizado para aproximar-se sempre mais da conversão: percorrer
“caminhos de liberdade”, talvez eliminando todas aquelas atitudes que
nos fazem “balançar de um lado para o outro”.
Um é justamente aquele culto “barulhento e supersticioso" que até
hoje encontramos e que recorda os rituais violentos, "teatral” com o
qual o povo de Israel invocava Baal, que Elias zomba porque "não edifica
a verdadeira fé". Depois, toda a série de "ídolos": "Orgulho, ambição,
cultura, carreira...”.
Tudo isso torna instável – comentou Pe. Bruno -, quando, pelo
contrário “não podemos duvidar da misericórdia de Deus que tudo seca,
tudo transforma". Elias, de fato, reconstrói um altar com as doze pedras
que recordam as doze tribos de Israel justamente porque quer "chamar
todos a uma identidade". E como o profeta, também nós devemos "pegar o
despertar da consciência das pessoas", talvez usando estratégias
inteligentes.
Antes de o fazer, no entanto, melhor parar por um momento e perguntar
a si mesmo. Por exemplo, sugeriu Secondin: “O nosso coração pertence
realmente ao Senhor” ou nos contentamos com atitudes externas? "A nossa
oração é ousada e invoca o bem do povo? É cadenciada por um sentido de
Igreja?". Ou ainda: "Sentimos a urgência de viver experiências fortes,
extraordinárias, que deixam uma marca, ou ficamos satisfeitos?".
(24 de Fevereiro de 2015) © Innovative Media Inc.
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