A preocupação da Igreja, a opinião pública e o mundo académico
Roma, 25 de Fevereiro de 2015 (Zenit.org) Federico Cenci
Após a aprovação da câmara baixa do Parlamento britânico,
chegou ontem, no final da noite, também a da Câmara dos Lordes. Na
Grã-Bretanha, em breve, será possível conceber um bebé em um tubo de
ensaio com o DNA de três pais.
O debate acalorado inflamou a Sala, que, no final, com 232 votos a
favor decidiu autorizar a doação mitocondrial, técnica que impediria a
transmissão de doenças genéticas da mãe para o feto. Porém, diversas
opiniões de especialistas se levantaram para destacar a ausência de
resultados seguros, como também os riscos de tal prática. Trevor
Stammers, professor de bioética na St. Mary’s University de Londres,
adverte ao jornal Avvenire que a “técnica não foi testada o suficiente e
que as implicações que traz consigo são enormes”.
O professor explica que crianças nascidas com essa técnica estão com
"mais risco de tumores", de "envelhecimento precoce" e "devem ser
monitoradas por toda a vida”. Em 2013, a revista Science também
ressaltou que entre os possíveis efeitos das substituições de
mitocôndrias, há a infertilidade e as alterações do metabolismo
respiratório. Contra a aprovação desta lei também está a Igreja
Católica, a Igreja Anglicana e uma grande parte da opinião pública.
Explica Andrea Williams, de Christian Concern, que a técnica "cruza
fronteiras éticos e morais e entra em território muito perigoso dos
quais será impossível voltar atrás". De acordo com Williams, "mais uma
vez ganhou a agressividade científica".
O procedimento foi desenvolvido pela Universidade de Newcastle (a
mesma envolvida em estudos sobre a clonagem humana nos últimos anos) e
prevê a fecundação in vitro utilizando o património genético de pai, mãe
e doador de um DNA mitocondrial, que substitui o materno, onde este
registe doenças genéticas. O bebé recém-nascido terá 99,8% do DNA do
pai e da mãe, e o 0,2% do doador.
Para além do que se poderia pensar, Marcy Danovsky, director do Centro
de Genética e Sociedade, diz que mesmo um percentual tão pequeno
condiciona todo o corpo das crianças, porque “toda célula” terá o DNA de
três pessoas. A questão – continua a especialista – “tem um impacto
sobre uma vasta gama de características da criança introduzindo mudanças
genéticas que serão transmitidas depois às gerações futuras”.
O parecer da Danovsky sobre a lei é, portanto, negativo. Considera
que "a técnica é cruel" e tê-la aprovado equivale a "um erro histórico"
que transforma crianças em "experiências biológicas" e "vende uma
esperança exagerada para as mulheres" que já se encontram em situações
difíceis.
Os primeiros testes foram anunciados para 2016. Danovsky espera que
"as autoridades britânicas encarem estudos sobre a segurança e sobre a
eficácia da técnica antes de qualquer utilização no homem”. Somente uma
vez recebido um bem-estar de carácter científico, Danovsky também espera
que "a todas as mulheres interessadas a usar esta técnica seja dada
informações completas e objectivas sobre as alternativas possível de
forma uma família saudável” e, especialmente, “sobre os riscos aos quais
seus filhos estarão submetidos”.
Esta lei implementa uma derrogação à lei britânica contra as
modificações genéticas hereditárias, que também são proibidas pela
Convenção sobre os Direitos Humanos e Biomedicina, redigida em Oviedo em
1997, e à qual a Grã-Bretanha nunca aderiu. Agora (talvez) entende-se o
problema.
(25 de Fevereiro de 2015) © Innovative Media Inc.
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