O exército turco violou a soberania territorial da Síria para evacuar uma estátua em memória do Império Otomano. O Isis, que controla a região, não interferiu em nada na operação.
Roma, 25 de Fevereiro de 2015 (Zenit.org) Naman Tarcha
Mais uma vez a história se repete. Nos mesmos territórios em
que, há cem anos, os turcos cometeram o primeiro genocídio contra os
cristãos no Oriente Médio (arménios, sírios, caldeus e assírios), as
próprias vítimas são, hoje, perseguidas pelos terroristas do Estado
islâmico.
Os jihadistas realizaram um novo ataque feroz em 30 aldeias sírias
da comunidade cristã dos assírios, na província de Hasakah, no nordeste
da Síria. A tentativa foi a de recuperar o terreno e encontrar rotas de
fuga e suprimentos, dado o progresso das Forças Armadas sírias ao norte
de Aleppo e a resistência das forças de defesa curdas. Tal Hermes, Tal
Tamer, Tal Shmeram, Tal Tawil são só alguns dos vilarejos no riu Khabur,
atacados pelos militantes com cerca de 40 carros armados na madrugada
da segunda-feira.
Jack Bahnam Hindo, bispo da Igreja siro-católica em Hasakeh,
confirmou que a maioria dos habitantes se refugiaram na cidade vizinha
de Qameshli, mas pelo menos 70 civis - em sua maioria mulheres e
crianças - estão nas mãos dos terroristas, e foram levados para um lugar
desconhecido.
"Dezenas de cristãos assírios foram feitos reféns pelos jihadistas,
provavelmente, a fim de usá-los como escudos humanos ou produto de
resgate ou negociação", disse Mons Hindo, que critica duramente a
coligação ocidental: "Quero dizer claramente que nós sentimos que fomos
deixados sozinhos nas mãos de Daash (sigla em árabe para o Estado
Islâmico do Iraque e Levante, ndr), aviões de combate americanos
sobrevoaram a área, mas não intervieram".
Fontes locais falam de casas e habitações ocupadas e queimadas pelos
ISIS: quatro homens das guardas locais foram mortos nos confrontos, e
tocaram fogo na igreja de Al Shamiye, uma das mais antigas da Síria.
Os ataques terroristas foram realizados para romper o cerco imposto à
área estratégica, Ras Alain, uma cidade de fronteira com a Turquia, e
recuperar a rodovia que liga as cidades sírias de Qameshli e Hasakeh, ao
longo da qual está localizado Al Raqaa, declarada capital do Estado
islâmico.
As forças de defesa Assírias apoiadas pelos ataques aéreos do
exército sírio expulsaram os terroristas e se preparam para o combate,
enquanto que as forças de defesa curdas tinham retomado o controle de 20
aldeias nos últimos dias.
Enquanto isso, há também tensões entre a Síria e a Turquia. Na noite
passada o exército turco entrou em território sírio para evacuar o
mausoléu dedicado a Suleyman Shah, avô de Osman, fundador do Império
Otomano, que morreu afogado em 1231, durante a travessia do rio
Eufrates, perto da fortaleza de Jaabar. Embora o corpo nunca foi
encontrado, foi construído um mausoléu em sua memória.
A construção foi em um lugar extraterritorial, sujeito a soberania
turca, como resultado de um acordo entre a França e a Turquia, do 1921
(durante a era colonial francesa). No entanto, a estátua foi removida
pelas autoridades sírias, em 1972, do lugar original para permitir a
construção de grande barragem síria.
A intervenção do exército turco para defender a estátua de Suleyman
Shah foi definida pelo governo de Damasco "uma agressão flagrante" que
"Ankara irá responder". Vale notar que os milicianos do Isis, embora
tenham explodido dezenas de templos, mausoléus e túmulos sagrados no
Iraque e na Síria, sempre pouparam o mausoléu, o único que restou em pé,
embora apenas a 100 km da cidade síria, Al Raqaa, declarada capital do
Estado Islâmico.
A operação dos militares turcos não foi perturbada pelos combatentes
curdos de Kobane nem pelo ISIS que controla a área, suscitando muitas
perguntas. A Turquia é agora o único país capaz de libertar os reféns
das mãos do auto proclamado Estado Islâmico: 49 pessoas foram resgatadas
entre diplomatas e seus familiares, sequestrados no consulado turco em
Mosul após o ataque da organização terrorista na cidade iraquiana.
O Governo turco logo afirmou que a operação da noite passada não é
temporária, e em breve irá construir um novo mausoléu, mas sempre em
território sírio, a 200 metros da fronteira turca perto de Aein Alarab
(Kobane).
À Turquia de Erdogan atribui-se um papel ambíguo, dada a rejeição de
participar da Coligação liderada pelos EUA. Também a oposição turca
acusa Erdogan e seu partido de conduzir políticas nocivas à custa da
estabilidade e da segurança interna do País, através do apoio aos grupos
armados na Síria.
(25 de Fevereiro de 2015) © Innovative Media Inc.
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