O testemunho do enviado de guerra Domenico Quirico um ano depois de ter sido sequestrado na Síria
Roma, 01 de Setembro de 2014 (Zenit.org) Luca Marcolivio
O êxodo dos cristãos da Síria e do Iraque, infelizmente, é
um fato definitivo, assegura Domenico Quirico, enviado pelo jornal
italiano La Stampa, sequestrado por rebeldes sírios perto de Al Qusayr
no dia 08 de Abril de 2013 e liberado no 08 de Setembro do mesmo ano.
Cinco meses de terror, após o qual o repórter disse que “viu o inferno" e
que várias vezes teve medo de ser assassinado.
Palestrante do encontro conclusivo de Rimini, acontecido no último
sábado, 30, com o tema Testemunhas de liberdade, inteiramente dedicado
ao drama do Oriente Médio, Quirico reiterou as suas opiniões radicais
sobre, denunciando em particular os graves erros do Ocidente.
Em entrevista com ZENIT, o enviado especial da imprensa manifestou o
seu desejo de voltar para a Síria, ainda que pessoalmente, confiando
também como é difícil perdoar os próprios sequestradores. O caminho da
renúncia ao ódio, porém, ressaltou ele, é o único caminho possível.
ZENIT: Você veio à Rimini para testemunhar a liberdade religiosa...
Domenico: ...ou melhor, a falta de liberdade religiosa! Eu trouxe o
testemunho do fato de que no Oriente Médio, onde o cristianismo nasceu,
em seis meses ou um ano, muito provavelmente, não haverá mais nem sequer
um só cristão. No Iraque, dos cerca de quatro milhões do 2002, hoje os
cristãos são 400 mil, embora todos refugiados: ninguém ficará lá.
Certamente, não é a primeira vez que os cristãos estão sendo caçados,
perseguidos, expulsos de suas casas, mas, anteriormente, sempre
voltavam. Mas desta vez não votarão de novo, porque o fenómeno que está
ocorrendo naquela região do mundo é uma nova entidade, muito mais
complexa e perigosa do que até mesmo as coisas terríveis que aconteceram
no passado, de modo que os cristãos não têm mais a coragem de fugir
outra vez e retornar. Concluiu-se assim a história de uma parte
essencial do cristianismo naquela região.
ZENIT: Após um ano, a experiência do sequestro ainda lhe incomoda? Conseguiu perdoar os seus algozes?
Domenico: A palavra "perdão" é uma palavra muito complicada e muito
difícil de respeitar, por isso o perdão é algo que, de certa forma,
requer a santidade e eu – infelizmente – não me sinto um santo mas um
simplíssimo mortal. Se, no entanto, eu sentisse ódio por aqueles que me
mantiveram na sua casa por um pouco de tempo, estaria forçosamente
ligado àquelas pessoas e o meu sequestro continuaria indefinitivamente. A
única maneira de fechar essa história é que eu não sinta hostilidade ou
ódio em relação a essas pessoas. Só assim eu posso cortar os laços com
essa história da minha vida. Mais do que uma escolha, portanto, não
odiar é uma necessidade.
ZENIT: Depois do que aconteceu, planeia voltar à Síria?
Domenico: Voltaria à Síria amanhã mesmo se fosse enviado! O problema é
que ninguém mais quer me mandar... Voltarei pessoalmente, como
“turista”. Provavelmente os jornais não têm mais o interesse de
enviar-me lá, por vários motivos. Eu, porém, gostaria de voltar á Síria:
também de um ponto de vista pessoal, voltar é algo que preciso fazer.
Isso significa que, em vez de uma reportagem jornalística, escreverei um
cartão postal...
ZENIT: Nunca recomendaria a um jovem repórter na grama para fazer correspondente de guerra?
Domenico: A um jovem jornalista, eu recomendaria apenas fazer uma
coisa básica: ir pessoalmente ver as coisas que conta, seja que aconteça
na Síria ou na periferia de Bologna ou em Nova York. Para contar os
problemas do homem não é necessário ir aos antípodas: pode-se ir à
periferia ou ao centro de qualquer cidade. Antes de escrever, ir ver:
esta é uma regra muito simples, se for respeitada faz-se um bom
jornalismo, caso contrário, faz-se algo que não tem nada a ver com o
jornalismo. Se então o que precisa ver aconteceu na Suíça, vai-se lá, se
na Síria, em Nápoles ou em outro lugar.
(01 de Setembro de 2014) © Innovative Media Inc.
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