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sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Bolívia: sindicato ameaça chicotear quem não votar em Evo Morales

A Igreja pediu transparência, programas concretos de governo e consideração da pesquisa feita pela Cáritas boliviana sobre os desejos da população


Roma, 04 de Setembro de 2014 (Zenit.org) Sergio Mora


Poucos dias depois que a Conferência Episcopal da Bolívia manifestasse em comunicado algumas preocupações quanto às eleições no país, marcadas para 12 de Outubro, o parlamentar Luis Gallego, do Movimiento Al Socialismo (MAS), denunciou a existência de um acordo entre organizações sociais, indígenas e sindicais do departamento de Potosí para castigar com chicotadas quem não votar no partido do presidente Evo Morales.

O principal sindicato de campesinos bolivianos ameaçou, em 26 de Agosto, que controlaria "de alguma forma" os votos dos seus associados em Morales e nos candidatos do MAS. "Eles vão chicotear quem votar cruzado, porque [o sindicato afirma que os eleitores] não podem ser traidores", disse Gallego, de acordo com informações do jornal El Potosí. “Voto cruzado” seria aquele em que o eleitor vota no candidato de um partido para a presidência e no de outro partido para o congresso.

No comunicado de 21 de Agosto, os bispos convidam os políticos a manterem “a transparência na campanha eleitoral” e a apresentarem “projectos e programas em função do bem comum e da dignidade para todos”.

“A Secretaria Geral da Conferência Episcopal Boliviana observa com atenção e preocupação o processo eleitoral. Constatamos algumas ameaças que podem debilitar a constitucionalidade democrática e o serviço ao bem comum da sociedade boliviana”.

Os bispos destacam ainda que os confrontos verbais não favorecem a informação e as propostas eleitorais. “Ficam de lado os problemas estruturais e realmente delicados, como a pobreza persistente, o crescimento da insegurança dos cidadãos, uma deficiente administração da justiça, o crescimento do narcotráfico, o estancamento dos serviços de educação e de saúde, em contraste com as eternas promessas da sua transformação”.

O episcopado exorta os políticos ainda a não buscarem o poder pelo poder e recorda que a Igreja divulgou, através da Pastoral Social Cáritas, os resultados da pesquisa feita em todo o país para levantar as demandas e propostas dos cidadãos nos campos económico, social, político e dos recursos naturais. “Foi um importante exercício de cidadania, divulgado oportunamente às organizações políticas participantes. São demandas que esperam ser atendidas com respostas e propostas claras para o futuro do nosso país”.

A credibilidade democrática é ferida pela desigualdade de meios: “É evidente que recursos do Estado são usados com clara intencionalidade de reconhecimento e, por conseguinte, de permanência nas esferas do poder”. Por isso, os bispos pedem mais espaços de informação e conhecimento em resposta às necessidades e interesses da população, “evitando todo excesso, manipulação e culto ao espectáculo” e “proporcionando informação veraz e responsável”.

Eles terminam fazendo um apelo aos cidadãos para exigirem das organizações políticas uma leitura objectiva e propostas sérias, além de incentivá-los a se preparar com responsabilidade para o dia das eleições.

O próximo mandato presidencial boliviano vai de 2015 a 2020. Evo Morales concorre à reeleição e é o favorito segundo as pesquisas de intenções de voto. Seus principais opositores são o empresário Samuel Doria Medina, o ex-presidente Jorge Quiroga, o ex-prefeito de La Paz, Juan del Granado, e o líder indígena Fernando Vargas.

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