A Igreja pediu transparência, programas concretos de governo e consideração da pesquisa feita pela Cáritas boliviana sobre os desejos da população
Roma, 04 de Setembro de 2014 (Zenit.org) Sergio Mora
Poucos dias depois que a Conferência Episcopal da Bolívia
manifestasse em comunicado algumas preocupações quanto às eleições no
país, marcadas para 12 de Outubro, o parlamentar Luis Gallego, do
Movimiento Al Socialismo (MAS), denunciou a existência de um acordo
entre organizações sociais, indígenas e sindicais do departamento de
Potosí para castigar com chicotadas quem não votar no partido do
presidente Evo Morales.
O principal sindicato de campesinos bolivianos ameaçou, em 26 de Agosto, que controlaria "de alguma forma" os votos dos seus associados
em Morales e nos candidatos do MAS. "Eles vão chicotear quem votar
cruzado, porque [o sindicato afirma que os eleitores] não podem ser
traidores", disse Gallego, de acordo com informações do jornal El
Potosí. “Voto cruzado” seria aquele em que o eleitor vota no candidato
de um partido para a presidência e no de outro partido para o congresso.
No comunicado de 21 de Agosto, os bispos convidam os políticos a
manterem “a transparência na campanha eleitoral” e a apresentarem
“projectos e programas em função do bem comum e da dignidade para todos”.
“A Secretaria Geral da Conferência Episcopal Boliviana observa com
atenção e preocupação o processo eleitoral. Constatamos algumas ameaças
que podem debilitar a constitucionalidade democrática e o serviço ao bem
comum da sociedade boliviana”.
Os bispos destacam ainda que os confrontos verbais não favorecem a
informação e as propostas eleitorais. “Ficam de lado os problemas
estruturais e realmente delicados, como a pobreza persistente, o
crescimento da insegurança dos cidadãos, uma deficiente administração da
justiça, o crescimento do narcotráfico, o estancamento dos serviços de
educação e de saúde, em contraste com as eternas promessas da sua
transformação”.
O episcopado exorta os políticos ainda a não buscarem o poder pelo
poder e recorda que a Igreja divulgou, através da Pastoral Social
Cáritas, os resultados da pesquisa feita em todo o país para levantar as
demandas e propostas dos cidadãos nos campos económico, social,
político e dos recursos naturais. “Foi um importante exercício de
cidadania, divulgado oportunamente às organizações políticas
participantes. São demandas que esperam ser atendidas com respostas e
propostas claras para o futuro do nosso país”.
A credibilidade democrática é ferida pela desigualdade de meios: “É
evidente que recursos do Estado são usados com clara intencionalidade de
reconhecimento e, por conseguinte, de permanência nas esferas do
poder”. Por isso, os bispos pedem mais espaços de informação e
conhecimento em resposta às necessidades e interesses da população,
“evitando todo excesso, manipulação e culto ao espectáculo” e
“proporcionando informação veraz e responsável”.
Eles terminam fazendo um apelo aos cidadãos para exigirem das organizações políticas uma leitura objectiva e propostas sérias, além de
incentivá-los a se preparar com responsabilidade para o dia das
eleições.
O próximo mandato presidencial boliviano vai de 2015 a 2020. Evo
Morales concorre à reeleição e é o favorito segundo as pesquisas de
intenções de voto. Seus principais opositores são o empresário Samuel
Doria Medina, o ex-presidente Jorge Quiroga, o ex-prefeito de La Paz,
Juan del Granado, e o líder indígena Fernando Vargas.
(04 de Setembro de 2014) © Innovative Media Inc.
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