Discurso de abertura da 183.ª Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa
Fátima, 11 de Novembro de 2013
Entre 11 e 14 de Novembro realiza-se na Casa de Retiros de
Nossa Senhora das Dores, no Santuário de Fátima, a 183.ª Assembleia
Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP). De seguida
divulga-se o discurso de abertura desta 183.ª Assembleia Plenária,
proferido por D. Manuel Clemente, Patriarca de Lisboa e Presidente da
Conferência Episcopal Portuguesa. Conforme nota da Assessoria de
Imprensa da Arquidiocese de Fátima.
Discurso de Abertura
Caríssimos irmãos no Episcopado e demais participantes nesta Assembleia Plenária
1. Saudando cordialmente a todos vós, inicio os nossos trabalhos com
o apontamento temático do que principalmente nos ocupará estes dias.
Sem esquecer, porém, que perdemos entretanto a grata convivência do
nosso estimado irmão D. António Marcelino, Bispo Emérito de Aveiro, que
sempre nos trazia o apoio e o estímulo da sua grande alma pastoral. Deus
o recompensará de quanto fez no seu tão repleto ministério, como o
pedimos também na nossa oração agradecida e confiante. No passado mês, o
Papa Francisco nomeou D. Manuel Linda para suceder a D. Januário Torgal
Ferreira como Bispo das Forças Armadas e de Segurança. Assim como
desejamos ao primeiro as maiores felicidades na sua nova missão
pastoral, também sublinhamos e agradecemos a muita dedicação e entrega
com que o Senhor D. Januário desempenhou, por tantos anos, o relevante
cargo que lhe foi cometido.
2. A Conferência Episcopal Portuguesa é, por excelência, ocasião de
encontro e partilha dos Bispos que servem a Igreja em Portugal, na
correlacionada autonomia das suas Dioceses, em permanente comunhão com o
Sucessor de Pedro. Encontro e partilha que redundam depois em acções
conjugadas, mútuo apoio e serviços de suporte, como são o Conselho
Permanente, o Secretariado Geral e as Comissões Episcopais. Por isso
mesmo, cada Assembleia Plenária reserva tempos preciosos para a oração
comum e o convívio fraterno. Por isso também, relevam na agenda as
informações dos Presidentes das Comissões sobre o sector pastoral que
acompanham. Mesmo sem ter grande eco externo, este ponto da agenda,
substancial e recorrente, é certamente dos mais conformes com a
finalidade específica da Conferência Episcopal e devemos prestar-lhe uma
redobrada atenção, tendo em vista o serviço directo às nossas Igrejas
particulares e apoiando-as o mais competentemente possível.
3. Não esqueceremos também que, no passado mês de Abril, aprovámos
uma Nota, intitulada Promover a renovação da pastoral da Igreja em
Portugal, que dará certamente o tom a quanto fizermos, Diocese a
Diocese. Fruto duma reflexão alargada e até inédita nas nossas Igrejas e
Institutos, indicou-nos sete “rumos” que vamos seguindo e havemos de
incrementar, não sendo demais recordá-los: a) Primado da graça e nova
mentalidade [intensificando consequentemente a oração, a vida
sacramental e a escuta e partilha da Palavra de Deus]; b) Comunhão para a
missão; c) Missão de todos para todos; d) Testemunhar a fé
revitalizada; e) Fomentar iniciativas de iniciação cristã e de formação;
f) Comprometidos com as iniciativas pastorais em curso; g) A ter sempre
diante dos olhos e no coração [a centralidade de Jesus Cristo e do seu
Evangelho, iniciando e formando com renovado empenho todos e cada um dos
membros do Povo de Deus, nas respectivas concretizações vocacionais e
existenciais]. Este articulado pode condensar-se nos temas maiores do
reencontro de Cristo e do mundo, para o serviço deste a partir d’Aquele.
Foi essa também a intenção do Concílio Vaticano II, em cujo
cinquentenário estamos, como nas palavras reiteradas de João XXIII e
Paulo VI. E assim prosseguiremos agora, com o Papa Francisco, que tão
quotidianamente nos estimula a todos, ilustrando superlativamente o que
escrevemos na referida Nota Pastoral, visando «formar comunidades que
sejam autênticas escolas de vivência da fé e da comunhão, gerando entre
todos os seus membros laços de fidelidade, de proximidade e de
confiança, que se traduzam no serviço humilde da caridade fraterna».
4. Dedicaremos ainda uma particular atenção a dois pontos da agenda
que o momento social que vivemos com os nossos diocesanos e concidadãos
particularmente requer: a visão cristã da sexualidade, a propósito da
ideologia do género; e os desafios éticos do trabalho humano.
O cristianismo que professamos retira da revelação bíblica e da
experiência geral da humanidade um conjunto de noções e práticas que
sempre o definem como vivência e proposta. Vê na complementaridade homem
– mulher a base imprescindível do que a humanidade há de ser, como
alteridade em comunhão. Tempos recentes permitiram vivências mais
individualistas e desvinculadas em relação àqueles padrões básicos da
humanidade herdada, passando da “natureza” fixa para a “cultura” mais a
gosto a determinação exclusiva do que cada qual queira ser... Servidores
por missão das convicções que mantemos – e neste ponto compartilhamos
com tantos outros, crentes e não crentes – não podemos deixar de
contribuir para o debate cultural em curso com a exposição clara e
sucinta das razões que nos movem. E nisto mesmo concretizamos o que
Bento XVI disse no Porto, a 14 de maio de 2010: «Nada impomos, mas
sempre propomos». Tratando-se da verdade, enquanto adequação racional à
realidade, cremos que ela fará o seu curso nas consciências e nas
atitudes dos nossos concidadãos, quer nos costumes quer na própria
legislação, mais ou menos cedo, mas certamente.
Outro ponto que não poderíamos esquecer prende-se com a grave
problemática que envolve o trabalho e a sua necessidade para o sustento e
a realização da humanidade de todos e de cada um. Vivemos e sofremos
tempos difíceis a este respeito. Teremos até a consciência de que se
trata dum autêntico desafio civilizacional, rumo àquela sociedade que
urge construir, com menos ganhos e dispêndios de alguns em contraste com
a imerecida penúria de muitos; com outra organização do trabalho face
às profundas mudanças tecnológicas, que tantas vezes o reduzem ou
dispensam; face ainda às exigências irrecusáveis de populações inteiras
que, na Europa ou batendo à sua porta, pretendem basicamente trabalhar e
viver, senão mesmo sobreviver…
Sabemos como tudo isto pesa na reflexão e na responsabilidade de
governantes e políticos, organizações profissionais e laborais,
investigadores económicos e sociais, bem como de todos nós em cidadania
comprometida e atenta. Enquanto responsáveis eclesiais que somos,
cabe-nos uma palavra, mesmo que sucinta, para iluminar evangelicamente
esta nova “questão social”, que tão arduamente nos desafia a todos.
5. Entre outros, estes serão tópicos maiores da nossa presente
Assembleia Plenária. – Que Deus nos ilumine e a Mãe de Cristo nos
acompanhe, no serviço apostólico à Igreja e ao mundo!
+ Manuel Clemente, Patriarca de Lisboa e Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa
Fátima, 11 de Novembro de 2013
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