Ex-embaixador socialista afirma que nenhum partido político pode fazer da Igreja um inimigo a combater e que denunciar os actuais acordos do Estado espanhol com a Santa Sé evidencia uma ausência total de propostas
Madrid, 18 de Novembro de 2013
Terminou neste domingo o XV Congresso Católicos e Vida
Pública, que, com o título “Espanha: razões para a esperança”, foi
celebrado durante o fim de semana na Universidade CEU San Pablo, em
Madrid.
O evento é um encontro anual imperdível para o catolicismo social
no país. Organizado pela Associação Católica de Publicitários e pela
Fundação Universitária San Pablo CEU, o congresso teve a participação de
especialistas e profissionais de prestígio do mundo político, económico
e social, que aprofundaram no tema proposto da perspectiva da fé e
através dos valores cristãos.
Durante a conferência de encerramento, o ex-embaixador da Espanha
perante a Santa Sé e membro do partido socialista (PSOE), Francisco
Vázquez, reconheceu que fazer polémica sobre os acordos vigentes ente
Igreja e Estado, como pretende o seu partido, “é uma coisa fora de
lugar”. Essa intenção “evidencia as carências ideológicas de quem propõe
esse passo para trás e a sua ausência total de propostas”, enfatizou.
Para o embaixador, não há fundamento para denunciar tais acordos,
dado que, “na Espanha de hoje, a Igreja não tem nenhuma situação de
privilégio”. Os acordos, complementou, não estabelecem “nada diferente
dos tratados e acordos que a Igreja mantém com uma parte dos 180 países
que têm relações diplomáticas com ela”. Não é compreensível, portanto, a
pretensão de “fazer da Igreja um inimigo a combater”. O embaixador
ainda lamentou que "aqueles que agem assim fechem as portas para a
presença de cristãos nas suas fileiras”.
Outro dos temas abordados foi a coerência que se espera do político
no tocante às suas ideias e crenças. Neste ponto, o palestrante pediu
que o debate público seja construído sobre a premissa do respeito a
essas convicções, destacando que “é preciso que prevaleça nas questões
fundamentais a necessária irrenunciabilidade aos ditames morais da nossa
consciência”, âmbito em que emerge com singular importância o da crença
na “natureza transcendental da vida” e na sua “defesa desde a concepção
até a morte”.
Perguntado sobre o papel dos católicos na Espanha, o embaixador
considerou necessário “agir de acordo com os mandamentos evangélicos e
seguir as directrizes estabelecidas pela doutrina moral e social da
Igreja”. Ele advertiu também que “é preciso contar com situações que nos
obrigarão a não ter medo de ser dissidentes quando a verdade de outros é
estabelecida contra os nossos princípios”. Nesses casos, “temos que
nadar contra a corrente”.
Por outro lado, ele ressaltou que é verdade que “a doutrina da Igreja
nos dá as respostas”, mas “os complexos, no mais das vezes, nos levam a
ficar em silêncio” ou “a ter vergonha de nos identificar como
cristãos”.
Diante dos parlamentares que abarrotavam a aula magna do CEU,
Francisco Vázquez incidiu sobre os três princípios de conduta que são
irrenunciáveis nesta época de crise: “a participação na vida pública, a
congruência entre conduta e consciência e o testemunho permanente da
condição de católico”. E concluiu afirmando que, hoje em dia,
“participação, congruência e testemunho” são necessários, “por mais
dissabores que possam provocar”.
Depois da conferência do ex-embaixador perante a Santa Sé, o
presidente da Conferência Episcopal Espanhola (CEE) e arcebispo de Madrid, cardeal Antonio Maria Rouco Varela, fez breves considerações a
respeito do título desta edição: “Espanha: razões para a esperança”. Uma
das questões que, a seu modo de ver, ainda permanecem abertas é a da
“unidade do político católico na sua acção política”. Não se trata de
intrometer-se na unidade de critério dentro dos partidos, explicou o
cardeal Rouco, mas da necessidade de coerência de critério quanto a
temas “básicos”, como “o bem comum e o Estado”.
O purpurado recordou ainda o papel essencial que cabe ao católico na
vida pública: o de “purificar a razão” por meio da fé, libertando-a do
“peso da mentira que é o ‘não’ a Deus”.
Junto com o cardeal arcebispo de Madrid, fizeram parte da mesa da cerimónia de encerramento o presidente da Associação Católica de
Publicitários (ACdP), Carlos Romero, o bispo auxiliar de Madrid, dom
Fidel Herráez, o vice-presidente da Fundação Universitária San Pablo
CEU, Manuel de Soroa, e o director do congresso Católicos e Vida Pública,
Rafael Ortega.
in
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