A existência das relíquias do santo é confirmada por análises científicas
Roma, 22 de Novembro de 2013
O berço da cristandade. É assim que é chamada a Basílica de
São Pedro, com todos os elementos que envolvem o maior monumento do
cristianismo, para a alegria dos fiéis e turistas que a visitam aos
milhões todos os anos.
Poucos, no entanto, reflectem sobre o fato de que a presença da
basílica foi directamente condicionada, desde a sua primeira fundação por
obra do imperador Constantino, pela necrópole cristã/pagã que abriga os
restos mortais do Apóstolo Pedro.
Foi apurado, apesar dos que ainda afirmam que ele jamais pôs os pés
em Roma, que Pedro foi martirizado no circo de Calígula e de Nero, e
seus restos mortais foram identificados em baixo do corredor esquerdo da
basílica e enterrados logo ao lado.
O Ager Vaticanus, correspondente à área de planície aluvial
entre a colina do Vaticano, o Janículo e o Monte Mário, parece ter sido
destinado desde o começo ao uso funerário. A parte monumental se
caracterizava pela presença da Meta Romuli e pelo Terebinthus Neronis. A Meta Romuli
era uma sepultura em forma de pirâmide, da época de Augusto, com arquitectura típica do período, assim como a Pirâmide Vaticana. Foi
demolida em 1499 por ordem do papa Alexandre VII, criando-se então a Via
Alexandrina para conectar o Vaticano com o Tibre. Havia ao lado o Terebinthus Neronis,
um mausoléu de planta circular, com uma torre sobreposta, que foi
demolido no século VII e cujos blocos do pavimento circundante foram
utilizados para os degraus da basílica. Segundo a tradição, no espaço
entre os dois túmulos monumentais é que veio a acontecer o martírio de
São Pedro, motivo pelo qual, durante muitos séculos, a pirâmide foi
usada como símbolo do martírio.
Para fundamentar essas versões e reconstruir o histórico do que
aconteceu imediatamente após o martírio, vêm em nosso auxílio as fontes
literárias que representam testemunhos importantes do passado. No final
do século I, vem à luz o testemunho de Clemente, líder da comunidade
cristã de Roma. Ele descreve a perseguição de Nero, que vitimou Pedro, e
os acontecimentos sangrentos que aconteceram no circo sobre a colina do
Vaticano, casos que, depois, foram descritos também pelo historiador
Tácito.
Ligeiramente mais recentes, do século II, são os dois escritos “A
ascensão de Isaías” e “Apocalipse de Pedro”, que não só confirmam que
Pedro morreu em Roma, como informam a época: logo após o martírio
neroniano de 64 d.C. A presença do Apóstolo em Roma também é sustentada
pelo fato de que ninguém, no passado, tenha alegado a posse do seu
túmulo, um sinal de que as fontes podem limitar-se apenas ao raio de
acção da Cidade Eterna. A primeira referência ao túmulo do Apóstolo
remonta ao período imperial tardio (século II-III d.C.) e é feita por
Eusébio, historiador da Igreja. Ele menciona um presbítero romano
chamado Gaio, que se refere à sepultura chamando-a de “troféu” de Pedro
no Vaticano.
As fontes literárias, durante muitos séculos, foram o único elemento
certo nos quais basear-se para reconstituir eventos obscuros e fatos
históricos que, havia muito tempo, estavam esquecidos. Felizmente,
alguns anos atrás, veio em socorro dos historiadores a arqueologia, que,
como veremos, não só confirmou a existência do túmulo de Pedro como
também permitiu a sua redescoberta. Parece incrível, mas somente em
1939, sob o pontificado de Pio XII, foi iniciada uma investigação
sistemática a fim de confirmar ou refutar as fontes literárias
acumuladas ao longo dos séculos.
Na década de 1940, foram feitas escavações para verificar as
hipóteses históricas. Devido à sua má gestão e execução, as respostas
não apareciam. Os trabalhos evidenciaram, no entanto, uma série de dados
que, no longo prazo, se tornaram valiosos para a estudiosa Margherita
Guarducci, em sua coerente reconstituição histórica dos acontecimentos.
Sabemos que o imperador Constantino decidiu soterrar a antiga
necrópole no início do século IV, nivelando o terreno para a futura
basílica, que foi construída com base em um ponto fixo subterrâneo.
Também foi apontado que, sob o altar da Confissão, actualmente usado
para funções religiosas, havia uma sobreposição de uma série de altares
colocados exactamente em cima de um monumento que, pensava-se, tinha sido
criado em honra de Pedro entre os anos de 321 e 326. O monumento de
Constantino incorporou três realidades arquitectónicas precedentes: um
muro da segunda metade do século III (chamado pelos arqueólogos de “Muro
G”), uma edícula funerária (que seria identificada com o já referido
“troféu de Gaio”, recostado a uma parede revestida de gesso vermelho) e
um pequeno túmulo escavado directamente no solo, construído no interior
da edícula funerária. No momento da abertura da tampa do túmulo, o
contexto foi alterado e nenhuma relíquia óssea foi trazida à luz.
in
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