A existência das relíquias do santo é confirmada por análises científicas
Roma, 22 de Novembro de 2013
No final dessa longa campanha de escavação, muitas perguntas
ainda pairavam na mente dos estudiosos. Não somente não aparecia o nome
de Pedro, apesar dos muitos grafites da época encontrados na parede
traseira (e inicialmente estudados apenas de modo superficial), mas,
ainda mais importante para a sua identificação, não foram encontrados os
ossos no local em que se acreditava que eles pudessem estar (no túmulo
de terra).
O fio da meada começou a ser desenrolado pela arqueóloga Guarducci a
partir de 1952. Foi ela quem encontrou e reconheceu o nome do apóstolo
em uma tumba da necrópole originalmente pertencente à gens Valeria, mas também nos grafites, agora sim estudados adequadamente, que estavam presentes no chamado “Muro G”.
Para completar a identificação, faltava o achado do elemento mais importante: as relíquias de Pedro.
Ter identificado o túmulo de terra vazio tinha frustrado bastante os
pesquisadores, que, ao identificarem a edícula, tinham dado por certo
que era aquele o único lugar em que poderiam encontrá-las. Mas a
arqueologia, como se sabe, não é uma ciência exacta. O que é dado como
certo no campo de pesquisa é muitas vezes o que acaba não “fechando” nas
contas práticas.
Durante as escavações da década de 1940, foi encontrado um nicho no
muro de Constantino, ao qual, no começo, não foi dada,
inexplicavelmente, nenhuma importância. Dentro dele foram encontrados
ossos que acabaram sendo transportados para um local subterrâneo e
empilhados durante cerca de dez anos numa pequena caixa de madeira,
junto com uma série de materiais arqueológicos descobertos na mesma
época. Em Setembro de 1953, eles foram achados por Guarducci e
transferidos para um ambiente mais adequado para a sua conservação, já
que a humidade os afectava notavelmente. Mesmo assim, eles ainda não foram
identificados de imediato.
Somente quando se decidiu aprofundar o estudo daquelas relíquias é
que começaram a surgir detalhes interessantes sobre elas e sobre o
contexto da descoberta. Foi constatado que as relíquias tinham sido
achadas no interior do nicho aberto na parede da época de Constantino,
inteiramente coberta de mármore pórfiro, geralmente usado para recobrir
sepulturas de grande respeito. Entendendo-se então que a importância do
nicho deveria ser relacionada directamente com as relíquias
desenterradas, começou uma análise mais minuciosa, confiada a
especialistas do sector e a peritos em ciências experimentais, além de
exames do antropólogo Venerando Correnti. Sua identificação como
pertencentes ao apóstolo Pedro foi anunciada pelo papa Paulo VI em 1968.
As análises revelaram que os ossos, correspondentes a cerca de metade
do esqueleto, pertenciam a um indivíduo de cerca de 60 a 70 anos de
idade, o que corresponde ao que sabemos sobre a idade aproximada de
Pedro em seu martírio, e estavam envoltos em um pano de cor púrpura,
coloração extraída de um molusco gastrópode, e tecido com ouro
puríssimo. Os restos do tecido conservavam vestígios exactamente da mesma
terra do antigo túmulo escavado no solo, sinal de que, antes da
transferência ordenada pelo imperador Constantino, era lá, realmente,
que os restos tinham sido sepultados.
O que foi evidenciado até agora seria mais do que suficiente para
dissipar as dúvidas dos mais cépticos, mas, tratando-se de um dos
fundamentos mais importantes da história da Igreja católica, é
necessário fazer todas as confirmações possíveis.
A análise do nicho do chamado "Muro G” revelou grafites em língua
grega que trazem a frase “Pedro está (aqui) dentro”. Mas o elemento
considerado absolutamente claro é fornecido pelo próprio posicionamento
da basílica. O nicho do “Muro G”, que continha as relíquias, causou no
eixo da primeira basílica um deslocamento significativo em direcção ao
norte. Esta variação do eixo não influenciou só a construção, mas também
as contribuições sucessivas, tais como a cúpula de Michelangelo e o
baldaquino de Bernini.
O reconhecimento definitivo das relíquias, possível através de fontes
literárias e principalmente graças à contribuição da arqueologia, traz
novos impulsos emocionais para quem nutre um grande envolvimento com
esses lugares cheios de história e de religiosidade.
Tal reconhecimento das relíquias do Apóstolo Pedro, porém, não traz
nada de novo aos ensinamentos religiosos em que acreditamos. Ainda
assim, é um fato que certamente incentiva a reflexão sobre o quão
importante pode ser para cada um de nós seguir os ditames do amor
cristão, a paz e a fraternidade entre os homens, os mesmos homens por
quem, como a história nos ensina, muitas pessoas têm sacrificado a sua
vida terrena.
in
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