Liliana Ocmín afirma que os gestos de Francisco reforçam os ensinamentos da doutrina social da Igreja
Roma, 29 de Novembro de 2013
“A doutrina social da Igreja é de grande importância para
favorecer a integração dos imigrantes na Itália, mas o papa Francisco,
com o seu gesto em Lampedusa e com a sua grande lucidez durante a cerimónia de início do pontificado, criou uma nova sensibilização quanto
aos princípios da doutrina social”. O santo padre “falou da imigração,
denunciou o tráfico internacional de seres humanos que existe por trás
da imigração e, especialmente no caso de Lampedusa, falou da
globalização da indiferença”.
Estas afirmações foram feitas em entrevista a ZENIT pela secretária
confederada do sindicato italiano CISL, Liliana Ocmín, durante um
fórum organizado pela Fundação Promoção Social da Cultura, da Agência
Prestomedia e Mediatrends, um observatório independente que estuda as
tendências da informação internacional.
Liliana Ocmín considera que o papa Francisco “passa uma mensagem
forte: que nós temos que colocar no centro de tudo os interesses reais
que temos como cristãos, para que a imigração não seja vista como uma
bandeira só por conveniência política ou utilitária”.
“O serviço de cuidar de pessoas mais velhas é um sector que tem que
ser reconhecido profissionalmente, assim como a agricultura. Ambos os
sectores são cobertos [na Itália] maioritariamente pela mão de obra dos
imigrantes”, continua ela.
A líder sindical, nascida no Peru, destaca que “a imigração é uma
oportunidade para que a política, as instituições e os sindicatos
coloquem a pessoa no centro dos seus esforços e voltem a conceber o
valor social do trabalho, entendendo que ele não é só uma fonte de
renda, mas o processo para a realização pessoal e familiar”.
“O fundador do nosso sindicato, Giulio Pastore, dizia que a formação e
a cultura são um elemento indispensável para defender, reconhecer e
proteger os direitos dos trabalhadores. E os imigrantes precisam de uma
legítima participação em todas as políticas do mercado de trabalho, para
terem oportunidade e realização, que é uma prerrogativa para a
integração real”, considera Liliana, ressaltando que o processo de
imigração na Itália provocou uma grande mudança particularmente em quem
escapa de guerras e da violência: os refugiados.
Ela destaca, no entanto, o caso dos imigrantes latino-americanos: “A
comunidade mais numerosa é a peruana, seguida pelos equatorianos. 62%
deles trabalham nas actividades domésticas e como cuidadores de idosos. E
o aumento da idade da população local nos obriga a pensar que vai
aumentar mais ainda a percentagem dos imigrantes que vão trabalhar
nestes sectores”. Liliana considera que tais sectores "não podem ser
carregados só pelos imigrantes”.
A secretária confederada prossegue: “Como sindicato, nós consideramos
um fracasso a integração dos imigrantes no mercado italiano, porque
eles são divididos em determinados fragmentos, sem mobilidade social. É
uma injustiça social dar a eles só as tarefas humildes, que os jovens
italianos pensam que não são actividades para eles”.
A líder sindical enfatizou a existência do tráfico internacional de
seres humanos, fenómeno que tem uma dimensão imensa. “Hoje, um peruano
que quer vir para a Itália paga cerca de 12.000 dólares”. A imigração é
“um problema que nós temos que gerir através de acordos internacionais
com os países de origem [dos imigrantes]”.
A secretária confederada do sindicato também observa a tendência
oposta. “No Peru, aproximadamente cinco mil cidadãos já voltaram do
exterior. Vários governos latino-americanos estão trabalhando para
ajudar na reintegração desses imigrantes, para que eles possam receber
as contribuições que pagaram para se aposentar”, o que não é possível,
actualmente, caso eles tenham contribuído durante menos de vinte anos.
Liliana Ocmín recorda, no final da entrevista, que “o elo frágil, os
pobres do futuro, são os imigrantes, porque eles entram tarde no mercado
de trabalho e porque muitos declaram que ganham a metade, sem saberem
que essa informação vai ser irreversível na hora de pedir a
aposentadoria”.
in
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