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terça-feira, 26 de novembro de 2013

Uma visão geral da Doutrina Social da Igreja

Da "Rerum Novarum" à "Caritas in Veritate", as encíclicas sociais são o tema de um ensaio do estudioso dominicano Maciej Zieba


Roma, 25 de Novembro de 2013


A Doutrina Social da Igreja é muitas vezes incompreendida e, tão frequentemente quanto, é também ignorada. Um livro publicado recentemente procura remediar esta falha, fornecendo uma visão geral de mais de um século de documentos papais.

"Este livro pode ser considerado pelos próximos muitos anos como a obra definitiva sobre o ensinamento económicos dos papas modernos", diz o economista Michael Novak em seu prefácio para a obra Papal Economics: The Catholic Church on Democratic Capitalism, From Rerum Novarum to Caritas in Veritate [A Igreja Católica e o Capitalismo Democrático, da Rerum Novarum à Caritas in Veritate], publicado pela ISI Books.

O autor do ensaio é Maciej Zieba, OP, padre dominicano polaco, amigo de João Paulo II. Zieba é o fundador do Instituto Tertio Millennio, com sede em Cracóvia, criado em 1996 como um fórum para a troca de ideias e, em particular, para o aprofundamento na doutrina social da Igreja.

Zieba explica que o seu livro se destina a corrigir os mitos sobre a doutrina económica da Igreja. O autor argumenta ainda que as encíclicas sociais manifestam uma continuidade que muitos deixam de perceber.

Já em 1891, por exemplo, a Rerum Novarum expressava uma rejeição decidida do socialismo. Em geral, as encíclicas apoiam a economia de mercado, mas também destacam os perigos que ela envolve.

Em 1931, quando escreveu a Quadragesimo Anno, em um contexto de depressão económica global, o papa Pio XI, com a sua crítica às falhas do liberalismo, não tinha a intenção de suavizar a sua oposição ao socialismo, diz Zieba. Pio XI rejeitava até mesmo qualquer forma moderada de socialismo combinada com o cristianismo.

Trinta anos depois, João XXIII publicou a encíclica Mater et Magistra, que continha uma defesa da propriedade privada e dos negócios, mas que também expressava o desejo de humanizar as relações de trabalho.

Zieba continua examinando as encíclicas subsequentes, sempre do ponto de vista expresso no início do livro. A Igreja, diz o estudioso, não tomar partido por nenhuma instituição social em particular. "Ela nos encaminha, de forma mais ampla, às relações entre homem, sociedade e Estado e ao primado da cultura sobre a política e sobre a economia".

João Paulo II reforçou esta explicação na sua encíclica Sollicitudo Rei Socialis, de 1987: "A doutrina social da Igreja não é uma terceira via entre o capitalismo liberal e o colectivismo marxista". É uma categoria em si própria, com base nas complexas realidades humanas, na fé e na tradição da Igreja.

Depois de recapitualar as encíclicas lançadas entre 1891 e 1987, grande parte do livro passa a fazer uma análise detalhada da Centesimus Annus, de 1991, escrita por João Paulo II, que, como muitos apontaram, se destaca pela qualificada aprovação do livre mercado.

Um dos capítulos finais do livro inclui um estudo sobre a Caritas in Veritate, de Bento XVI. Segundo Zieba, esta encíclica evoca mais o espírito da Populorum Progressio que o dos escritos de João Paulo II.

Uma das principais questões destacadas por Bento XVI é a globalização. O papa emérito menciona em particular dois problemas relativos à cultura. O primeiro é o ecletismo cultural, que leva a ver todas as culturas como substancialmente equivalentes e intercambiáveis​​. O segundo é um nível cultural que leva à aceitação indiscriminada de todos os tipos de conduta. Segundo Zieba, a encíclica de Bento XVI se mostra muitas vezes de acordo com a Centesimus Annus, mas tem uma visão mais negativa da economia moderna.

Em sua observações conclusivas, Zieba volta a reflectir sobre a contribuição que a Centesimus Annus oferece à doutrina social. Em uma passagem do texto, o autor se pergunta se a cultura liberal, a economia e a política procurarão eliminar o transcendente da vida pública.

João Paulo II, comenta Zieba, diz que é realmente possível construir uma sociedade livre que também saiba respeitar o absoluto.

Há, no entanto, certas dificuldades para conciliar os dois elementos, admite Zieba. A influência dos pensadores iluministas e o mais recente impacto da secularização ampliou o fosso entre o pensamento católico e o liberalismo.

Como João Paulo II apontou, o problema da tendência ao individualismo e ao relativismo é que eles minam o próprio liberalismo, tanto em termos políticos quanto económicos. Na Centesimus Annus, João Paulo II explicou que a economia de mercado precisava reconhecer a importância da verdade transcendente e uma visão comum da dignidade do homem.

"Ao passo que a cultura cristã dá forma à liberdade associando-a com a responsabilidade, a cultura iluminista produz uma ideologia de liberdade segundo a qual a liberdade se justifica em si mesma", diz Zieba. No entanto, como João Paulo II observa na Centesimus Annus, "num mundo sem verdade, a liberdade perde os seus fundamentos".

Zieba mostra que as encíclicas sociais da Igreja foram muito além das questões económicas contingentes, já que chamam a atenção para verdades inerentes à pessoa humana.

À sua maneira, conclui Zieba, a Igreja pode prestar uma assistência vital para a cultura liberal, insistindo na necessidade de manter unidas a liberdade e a verdade. Resta saber, acrescenta o autor, se esta proposta será aceita.


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