Apesar dos «colóquios humilhantes» com assistentes sociais
Ainda que Lúcia e os seus pais tivessem valores favoráveis à vida, o medo e o ambiente empurravam-na até o aborto |
Actualizado 12 de Novembro de 2013
Tempi.it / ReL
O digital italiano Tempi.it publicou o testemunho na primeira pessoa de «Lúcia» (não é o seu nome real), uma rapariga de 15 anos, de Macerata, a leste do país, que está grávida e defende a sua bebé das pressões daqueles que a querem animar a abortar.
O texto ganhou o 26º concurso escolar europeu “Um de nós”, organizado pelo Movimento para a Vida. Recolhe a angústia que viveu ao descobrir que estava grávida, a tentação de abortar, os «colóquios humilhantes» com os médicos, os psicólogos e o juiz, todos dispostos a justificar a sua escolha; no final, a sua rendição perante o amor, que a impediu de matar «o dom mais belo de cada dia».
Testemunho de Lúcia
Recordo esse dia de chuva, o frio, a angústia; a mão tremia-me no bolso, onde apertava o teste de gravidez, os olhos inchados de chorar e o coração cheio de medo. Dentro, essa estranha sensação de sentir a barriga cheia já com “algo”, com alguém. Caminhava até casa do meu namorado, nesse 28 de Dezembro de 2010, quando descobri que estava gravida.
Um momento e tudo se desmoronou: corpo, mente, projectos. Olhares incrédulos, pernas que tremiam, gritos e choros infinitos. Todas as expectativas, os sonhos, as mil perguntas ficaram encerradas num dia inteiro passado abraçados na cama, enquanto a racionalidade me levava a uma decisão que previa, responsabilidades que sentia que me esmagavam. Um peso enorme acompanhou-me nessa tarde a casa, quando decidi dizê-lo aos meus pais. Já sabia, dentro de mim, o que responderiam. Rapidamente me consolaram, dizendo que tudo o que é Vida eles o teriam aceitado e acolhido como um dom.
O problema, então, foi outro: as convicções que tinha tido até esse dia, as ideias, os valores de uma vida fizeram-se em pedaços. Impus a mim mesma não amar esse pequeno ser, fazer ver que não era real, pensando assim que teria sido mais fácil para mim por fim à sua existência; anulando coração, mente e barriga também na primeira ecografia, quando entendi que o que eu não queria que fosse verdade tinha um coraçãozinho que batia e se movia; que era só um “grão de sangue”.
Começaram uma série de colóquios humilhantes nas consultas de assistentes sociais e psicólogos, dispostos a dar juízos sobre momentos de debilidade que me levaram a pensar que se estava ali, diante deles, é porque não poderia ser uma “boa” mãe, o que era compreensível pela minha idade.
Cheguei assim, quase ao final do segundo mês, a uma sala de tribunal onde um juiz escutava a minha inadequação para esta criatura, o incómoda que era para mim, o que o levou a tomar-se a responsabilidade de assinar uma folha que me permitia por “fim” a este pesadelo.
Fui ao hospital, onde um médico procurava freneticamente um buraco, nesse livro enorme, para incluir-me: um livro cheio de passadas e futuras mortes de pequenas crianças.
Esperava e entretanto não podia fazer outra coisa que recordar o primeiro beijo com D.: recordar os olhares cúmplices e felices, a alegria nas poucas palavras, que eram só nossas, a alegria reflectida nos seus olhos verdes… E se tinha os olhos verdes? Esses mesmos olhos que me haviam feito enamorar? Queria de verdade fazer em pedaços tanta felicidade com o cheiro metálico e fastidioso de uma sala de espera do hospital?
Disse que sim, também quando me propuseram o 4 de Fevereiro como data última para por fim a todas as minhas preocupações. Depois de uma série de ulteriores indicações, esperei que chegasse esse dia, como conclusão dos três meses mai0s longos e inolvidáveis da minha vida. E, num abrir e fechar de olhos, essa manhã chegou.
Não me levantei da cama; fiquei ali, imóvel, com as mãos pousadas na minha barriga, num novo sentido de protecção a esta criança que finalmente conseguia sentir como meu.
Tempi.it / ReL
O digital italiano Tempi.it publicou o testemunho na primeira pessoa de «Lúcia» (não é o seu nome real), uma rapariga de 15 anos, de Macerata, a leste do país, que está grávida e defende a sua bebé das pressões daqueles que a querem animar a abortar.
O texto ganhou o 26º concurso escolar europeu “Um de nós”, organizado pelo Movimento para a Vida. Recolhe a angústia que viveu ao descobrir que estava grávida, a tentação de abortar, os «colóquios humilhantes» com os médicos, os psicólogos e o juiz, todos dispostos a justificar a sua escolha; no final, a sua rendição perante o amor, que a impediu de matar «o dom mais belo de cada dia».
Testemunho de Lúcia
Recordo esse dia de chuva, o frio, a angústia; a mão tremia-me no bolso, onde apertava o teste de gravidez, os olhos inchados de chorar e o coração cheio de medo. Dentro, essa estranha sensação de sentir a barriga cheia já com “algo”, com alguém. Caminhava até casa do meu namorado, nesse 28 de Dezembro de 2010, quando descobri que estava gravida.
Um momento e tudo se desmoronou: corpo, mente, projectos. Olhares incrédulos, pernas que tremiam, gritos e choros infinitos. Todas as expectativas, os sonhos, as mil perguntas ficaram encerradas num dia inteiro passado abraçados na cama, enquanto a racionalidade me levava a uma decisão que previa, responsabilidades que sentia que me esmagavam. Um peso enorme acompanhou-me nessa tarde a casa, quando decidi dizê-lo aos meus pais. Já sabia, dentro de mim, o que responderiam. Rapidamente me consolaram, dizendo que tudo o que é Vida eles o teriam aceitado e acolhido como um dom.
O problema, então, foi outro: as convicções que tinha tido até esse dia, as ideias, os valores de uma vida fizeram-se em pedaços. Impus a mim mesma não amar esse pequeno ser, fazer ver que não era real, pensando assim que teria sido mais fácil para mim por fim à sua existência; anulando coração, mente e barriga também na primeira ecografia, quando entendi que o que eu não queria que fosse verdade tinha um coraçãozinho que batia e se movia; que era só um “grão de sangue”.
Começaram uma série de colóquios humilhantes nas consultas de assistentes sociais e psicólogos, dispostos a dar juízos sobre momentos de debilidade que me levaram a pensar que se estava ali, diante deles, é porque não poderia ser uma “boa” mãe, o que era compreensível pela minha idade.
Cheguei assim, quase ao final do segundo mês, a uma sala de tribunal onde um juiz escutava a minha inadequação para esta criatura, o incómoda que era para mim, o que o levou a tomar-se a responsabilidade de assinar uma folha que me permitia por “fim” a este pesadelo.
Fui ao hospital, onde um médico procurava freneticamente um buraco, nesse livro enorme, para incluir-me: um livro cheio de passadas e futuras mortes de pequenas crianças.
Esperava e entretanto não podia fazer outra coisa que recordar o primeiro beijo com D.: recordar os olhares cúmplices e felices, a alegria nas poucas palavras, que eram só nossas, a alegria reflectida nos seus olhos verdes… E se tinha os olhos verdes? Esses mesmos olhos que me haviam feito enamorar? Queria de verdade fazer em pedaços tanta felicidade com o cheiro metálico e fastidioso de uma sala de espera do hospital?
Disse que sim, também quando me propuseram o 4 de Fevereiro como data última para por fim a todas as minhas preocupações. Depois de uma série de ulteriores indicações, esperei que chegasse esse dia, como conclusão dos três meses mai0s longos e inolvidáveis da minha vida. E, num abrir e fechar de olhos, essa manhã chegou.
Não me levantei da cama; fiquei ali, imóvel, com as mãos pousadas na minha barriga, num novo sentido de protecção a esta criança que finalmente conseguia sentir como meu.
Agora sabia que não permitiria a ninguém que me o arrancasse com ferros e tesouras, e atirá-lo entre os desperdícios hospitalares. Era meu e queria-o!
Também nesse dia, como no primeiro, a cama foi uma fortaleza de emoções, que partilhei abraçada com quem estava mudando a sua vida junto com a minha, mas com uma consciência distinta, quer dizer, que nada teria ido mal porque, fosse como fosse, o nosso filho vivia!
Seis meses depois, em 21 de Agosto, nasceu o nosso filho e desde esse momento, de três pessoas passámos a ser uma. Ver os seus olhinhos, as suas mãozinhas, as suas lágrimas, as primeiras palavras junto aos seus primeiros passos; o entusiasmo de vê-lo correr até ti rindo forte continua sendo, ainda hoje, o dom mais belo que cada dia nos oferece.
Eu tinha 15 anos, D. 18, a nossa vida tinha mudado totalmente, mas que pode mudar pelo simples facto de que há uma pessoazinha mais que te quer? Que importância pode ter se há amor?
Também nesse dia, como no primeiro, a cama foi uma fortaleza de emoções, que partilhei abraçada com quem estava mudando a sua vida junto com a minha, mas com uma consciência distinta, quer dizer, que nada teria ido mal porque, fosse como fosse, o nosso filho vivia!
Seis meses depois, em 21 de Agosto, nasceu o nosso filho e desde esse momento, de três pessoas passámos a ser uma. Ver os seus olhinhos, as suas mãozinhas, as suas lágrimas, as primeiras palavras junto aos seus primeiros passos; o entusiasmo de vê-lo correr até ti rindo forte continua sendo, ainda hoje, o dom mais belo que cada dia nos oferece.
Eu tinha 15 anos, D. 18, a nossa vida tinha mudado totalmente, mas que pode mudar pelo simples facto de que há uma pessoazinha mais que te quer? Que importância pode ter se há amor?
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