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sexta-feira, 15 de março de 2013

''É mais cómodo ser acólito que protagonista''

Despedida do cardeal Bergoglio dos bispos argentinos


Brasília,


Reapresentamos a seguir um artigo publicado por ZENIT espanhol em Novembro de 2011, relatando uma entrevista que a agência argentina AICA fez ao cardeal Bergoglio, hoje o papa Francisco, quando ele se despedia da presidência da Conferência Episcopal Argentina.

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O cardeal Bergoglio se despede da presidência

BUENOS AIRES, quarta-feira, 9 de Novembro de 2011 (ZENIT.org) - O cardeal Jorge Bergoglio se despediu da presidência do episcopado argentino com uma longa entrevista. Ele repassa a situação da Igreja, afirma que os leigos correm o risco da “clericalização” e diz que é mais fácil ser acólito do que protagonista.

Sobre Buenos Aires, Bergoglio afirma, na entrevista concedida à agência AICA, que muitas coisas ainda precisam ser feitas: “Temos que continuar caminhando e ir fazendo aos poucos. Esta é uma cidade que de noite tem três milhões de habitantes e de dia tem oito”.

O cardeal abordava a pastoral urbana e o congresso realizado no final de Agosto na região de Buenos Aires, que “nos fez muito bem”. “Ele nos fez enxergar que o monocultural não existe. Diziam no congresso que existem seis ou sete cidades imaginárias em Buenos Aires. O grande esforço não é só de enculturação, que sempre tem que ser feito, mas de compreender as linguagens que vão surgindo, que são totalmente diferentes. Aparecida tem algumas considerações muito fortes sobre a pastoral urbana”.

Como ele vê os leigos na Argentina? “Há um problema, eu disse outras vezes: a tentação da clericalização. Nós, os padres, tendemos a clericalizar os leigos. Não nos damos conta, mas é como contagiá-los com o nosso estilo. E os leigos, não todos, mas muitos, nos pedem de joelhos para clericalizá-los, porque é mais cómodo ser acólito do que ser protagonista de um caminho leigo. Não podemos cair nessa armadilha, é uma cumplicidade pecadora. Nem clericalizar, nem pedir para ser clericalizado. O leigo é leigo e tem que viver como leigo com a força do baptismo, que o habilita para ser fermento do amor de Deus na própria sociedade, para criar e semear esperança, para proclamar a fé, não de cima de um púlpito, mas a partir da vida quotidiana. E carregando a sua cruz de cada dia, como todo mundo. E a cruz do leigo, não a do padre. A do padre, o padre que carregue, que Deus deu ombro suficiente para o padre carregá-la”.

O que Bergoglio pensa do conceito do papa Bento XVI, que fala da "beleza tecnológica"?

“Sim, as instituições eclesiásticas sempre ressaltaram mais a categoria ‘verdade’ do que a ‘bondade’ e a ‘beleza’. A comunicação exige as três. Comunicar-se é dizer uma coisa que você entende que é verdade, e dizê-la com bondade e com beleza. As três juntas. As instituições eclesiásticas ainda não desenvolveram, em particular, a dimensão da beleza. Eu acredito que nós temos que trabalhar muito nisso. A beleza na mensagem, na transmissão, a vida, mesmo, a captação das coisas, as coisas são verdadeiras, boas e belas. E se falta alguma coisa, falta algo das três. Uma verdade que não é boa acaba sendo uma bondade que não é verdadeira. Elas caminham juntas. O mesmo vale para a beleza. A relação tem que ir por esse caminho. E nós temos que fazer um esforço para que isso amadureça e progrida”. Neste ponto, Bergoglio recomenda a leitura do documento conciliar Inter Mirifica, sobre os meios de comunicação social.

Qual é a sua visão do CELAM? “Ele cresceu, está amadurecendo. De algo meramente funcional, porque tinha que ser assim quando começou, ele se transformou em algo inspirador. A última Conferência do Episcopado, em Aparecida, é mais fermento de inspiração do que uma acção funcional. É um chamado à criatividade, define linhas missionais, não termina com um documento, como as conferências anteriores, mas com uma missão. Isso é muito importante”.

Sobre Aparecida, suas luzes, suas sombras, ele afirma: “A inspiração do Espírito é a grande luz que aconteceu ali. Sombras são as mil e uma coisinhas que travavam e que nós tivemos que superar. Mas eu não me atreveria a dizer que a maior luz foi esta. Acredito que tudo foi um complexo de luzes e sombras e que a luz venceu. É a primeira conferência geral do episcopado que foi feita em um santuário mariano que tem capacidade para 35.000 pessoas. Todos os dias, nós concelebrávamos, os duzentos e tantos bispos, com o povo. Nos dias de semana vinha pouquinha gente: duzentas, trezentas pessoas, pouquinhas… Sábado e domingo, trinta mil. E as sessões eram embaixo do santuário, em instalações que existem lá para os peregrinos. Então a nossa música de fundo eram os cantos do santuário. A voz do povo de Deus. Essa foi uma das grandes luzes de Aparecida: o povo de Deus envolvido na conferência, em um santuário mariano, a casa da Mãe”.


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