Páginas

quarta-feira, 20 de março de 2013

O Papa Francisco concedeu a Cristina Kirchner a sua primeira audiência por afecto à Argentina

Manhã de segunda-feira em Santa Marta

Ela oferece-lhe um poncho e uns mates; ele beija-a e oferece-lhe uns livros de Doutrina Social da Igreja, muito úteis para governar com justiça!

Actualizado 18 de Março de 2013

Efe / ReL


O novo Papa Francisco recebeu a presidente argentina, Cristina Fernández de Kirchner, na primeira audiência do seu pontificado com um chefe de Estado.

O encontro levou-se a cabo na Casa de Santa Marta, onde se aloja ainda o pontífice, já que ainda não tomou posse das suas habitações no palácio.

O Vaticano, que em princípio não deu detalhes do encontro, disse que a recepção foi "privada".

Segundo o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, considera-se o encontro como um "gesto de cortesia e afecto" há chefe de Estado e ao povo argentino, de onde procede o Papa.

Mates e ponchitos
Segundo InfoBAE, a mandatária saiu do hotel Eden, em que se aloja desde ontem em Roma, e sem fazer declarações aos jornalistas que esperavam fora do hotel, a mandatária subiu ao automóvel que a levou à Santa Sé.

O protocolo para as audiências papais prevê, para as mulheres, mangas largas, vestidos formais negros e um véu na cabeça. Sem dúvida, desde há uns anos as normas que regem a indumentária são menos vinculantes. A mandatária argentina manteve o luto, que veste desde o falecimento do ex-presidente, e só teve um detalhe branco com um colar de pérolas.


O primeiro contacto entre Cristina Kirchner e o papa Francisco pareceu ser mais distendido que os últimos encontros em Buenos Aires, quando a chefe de Estado e o então arcebispo mantinham uma relação distante.

Perante uma brincadeira inicial de Francisco sobre a sua idade, a chefe de Estado respondeu: "Não é certo, você é um quadro da Igreja".

Algo mais nervosa que o habitual, as imagens mostraram Cristina Kirchner quando ao tocar no braço ao novo líder da Igreja Católica paralisa-se e de acordo ao que surge do protocolo, disse: "Ay, não, não posso tocá-lo". "Sim, pode tocar, pode...", responde o Papa.

"Posso tocar? Bom, obrigada", respondeu a Presidente tomando o braço a Bergoglio, o que originou um gesto similar do Sumo Pontífice sobre a mandatária.

Além disso, Francisco deu um beijo na bochecha a Cristina Kirchner, o que provocou uma brincadeira da mandatária: "Nunca um Papa me havia beijado".

O encontro, anunciado como um "gesto de cortesia" pelo Vaticano, inclui um almoço entre ambos os dirigentes. Se bem que em princípio se acreditava que seria de poucos minutos, Francisco convidou a sua compatriota Cristina Kirchner a "tomar uns mates".

Imagens transmitidas pelo Vaticano mostraram a mandatária entregando a Francisco um mate de cabaça com bomba, yerbera e açucareiro "feita por trabalhadores argentinos".

A chefe de Estado argentina entregou um poncho ao ex-arcebispo de Buenos Aires. A mandatária declarou: "Recordo vê-lo com o seu ponchito", a que Bergoglio respondeu: "sim, sim".

O pontificado será inaugurado oficialmente com uma missa na praça de São Pedro esta terça-feira, na que também estará presente a mandatária argentina, junto a cerca de 150 chefes de Estado e de Governo de todo o mundo.

Fernández de Kirchner, que viajou acompanhada de 12 pessoas, encontra-se em Roma desde a tarde de domingo. A comitiva formam-na, entre outros, o presidente da Corte Suprema de Justiça, Ricardo Lorenzetti, o titular da Câmara de Deputados da Nação, Julián Domínguez, e o deputado da União Cívica Radical (UCR) opositora Ricardo Alfonsín; os presidentes da Conferência Episcopal, José María Arancedo, e da Pastoral Social Argentina, Carlos Alberto Accaputo.

O papa pediu aos argentinos que em vez de viajar a Roma para assistir à sua missa de inauguração, doem o dinheiro a uma obra de caridade, pelo que vários legisladores, políticos e empresários desistiram de acompanhar Bergoglio na sua investidura oficial.

Fernández de Kirchner recebeu a eleição de Bergoglio com uma carta formal. Mais tarde, num acto público celebrou o dia histórico para a América Latina porque Francisco é o primeiro papa da região e desejou-lhe que "possa lograr maior grau de fraternidade entre os povos e as religiões".

Relação difícil

A relação de Bergoglio com Cristina e Néstor Kirchner foi complexa, com vários momentos de tensão pelas críticas do arcebispo portenho e cardeal argentino às políticas sociais e o estilo de governo dos peronistas.


Bergoglio questionou numa das suas homilias "o exibicionismo e os anúncios estridentes dos governantes". Noutras oportunidades também se manifestou contra os "internismos" e as "intolerâncias", ao mesmo tempo que renovou o seu chamado a combater a pobreza, a corrupção e os problemas sociais.

O então presidente Kirchner (2003-2007), faleceu em Outubro de 2010, quebrou a tradição que vinha desde 1810 e decidiu não assistir a Te Deum que cada 25 de Maio se celebra na Catedral Metropolitana de Buenos Aires pela Revolução de Maio.

Desde então, Kirchner e logo a sua sucessora assistiram aos Te Deum do 25 de Maio noutros pontos do país. O dirigente peronista chegou a considerar Bergoglio o "chefe espiritual da oposição".

Primeiro encontro desde 2010
A última audiência em privado entre Fernández de Kirchner e Bergoglio teve lugar em 2010. Naquele momento, a cúpula da Igreja expressou a sua preocupação por um estado de "confrontação permanente" e pediu ao governo que haja "mais consenso, diálogo e atitudes de grandeza", segundo informou nesse momento o porta-voz do episcopado.

Antes, tinham-se distanciado durante a profunda crise do governo com o sector agrícola em 2008, depois de que o jesuíta se reunira com dirigentes rurais e apoiara as suas reclamações.

Mas um dos pontos mais críticos da relação foi a dura rejeição do cardeal à redefinição do matrimónio na Argentina, impulsionado pelo kirchnerismo. "Aqui também está a inveja do Demónio", questionou naquele momento Bergoglio, uma postura que Fernández de Kirchner vinculou naquele momento com os "tempos medievais e a inquisição".

Além de Cristina Fernández de Kirchner já se encontram em Roma outros líderes americanos, como a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, ou o presidente chileno Sebastián Piñera.


in

Sem comentários:

Enviar um comentário