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sábado, 23 de março de 2013

O Papa recebe com emoção o Nobel da Paz Pérez Esquivel como a um velho conhecido

Falam dos «mártires da América»

Actualizado 21 de Março de 2013

Zenit / RomeReports / ReL

O Papa Francisco reuniu-se com o seu compatriota e prémio Nobel da Paz de 1980, Adolfo Pérez Esquivel. É a terceira sessão de audiências do Papa Francisco, mas é a primeira audiência com uma pessoa que não é um líder político ou religioso.

Foi uma reunião muito emotiva, pouco formal, com o estilo de uma reunião entre dois velhos conhecidos.

Falaram dos mártires da América, da eleição do nome de Francisco, do ecumenismo, da protecção do meio ambiente e do encontro que manteve o Papa Francisco com a presidente argentina, Cristina Fernández de Kirchner.

Reparar o dano das ditaduras

“O Papa indicou-me que está convencido de que é necessário avançar na verdade, justiça e reparação do dano feito pelas ditaduras”, declarou logo Esquivel aos meios.

Qualificou o encontro como “muito bom” e reiterou que na época da ditadura, "Bergoglio não teve nexos com a ditadura”.

Precisou que “se bem que se limitou a protestar, não é justo acusá-lo de cumplicidade”, pois “ainda que não foi dos bispos que estiveram mais na avançada pela defesa dos direitos humanos, prestigiou mais uma diplomacia silenciosa, pediu a libertação dos presos".


“Porque ser cúmplice significa ter colaborado, como o fizeram alguns bispos”, disse. Além disso, indicou, “Bergoglio nesse tempo não era bispo mas somente superior provincial dos jesuítas na Argentina”. E acrescentou: “Consta-me que ele tentou protestar pela violação dos direitos humanos”. Recordou também que "os factos devem ser colocados no período tremendo e no clima dessa época de ditadura militar”.

Verbitsky, dados com erros
Segundo este activista de direitos humanos, os dados do detractor do cardeal Bergoglio, Horacio Verbitsky - que era chefe da espionagem do grupo terrorista Los Montoneros na década dos 70 e hoje é director do diário Página12 - "contém erros".

Esquivel explicou também que no encontro “falámos dos mártires da Igreja na América Latina, como os bispos Óscar Arnulfo Romero e Enrique Angelelli, de El Salvador e Argentina, respectivamente”·

Acrescentou que o Papa expressou-lhe a sua preocupação e a necessidade “de reduzir os índices de pobreza no mundo, trabalhando junto aos pobres”.

A audiência que durou uns trinta minutos, uma duração excepcional para o costume nas audiências pontifícias - as de quarta-feira duraram entre 15 e 20 minutos – realizou-se na biblioteca pessoal do pontífice, no Palácio Apostólico.

Despediram-se com um quente abraço e o Papa Francisco pediu-lhe que rezasse por ele.

Esquivel, de cadeia em cadeia
O argentino Adolfo Pérez Esquivel, ganhador do prémio Nobel da Paz em 1980 pelo seu trabalho na defesa dos Direitos Humanos na América Latina, negou nos últimos dias várias vezes que o cardeal Jorge Bergoglio tivesse vínculos com o regime militar que governou a Argentina entre 1976 e 1983, como assinalaram alguns críticos do novo pontífice.

Em declarações à BBC Mundo, Pérez Esquivel disse que "houve bispos que foram cúmplices da ditadura, mas Bergoglio não. A Bergoglio questiona-se-lhe porque se diz que não fez o necessário para tirar da prisão dois sacerdotes, sendo ele o superior da congregação dos Jesuítas. Mas eu sei pessoalmente que muitos bispos pediam à junta militar a libertação de prisioneiros e sacerdotes e não se lhes concedia", acrescentou Pérez Esquivel, que é um homem posicionado na esquerda política e social.

"Não há nenhum vínculo que o relacione com a ditadura", assegurou este premiado activista, que nos anos 70 participou em iniciativas de denúncia contra as ditaduras sul-americanas em vários países.

Numa mensagem de Twitter que difundiu assegura: "Esperamos que o primeiro papa latino-americano, Francisco I, trabalhe pela paz mais além da vontade das potências."

Esquivel e os anos 70 na América
Em 1975, Adolfo Pérez Esquivel foi detido e encarcerado pela polícia militar do Brasil, no aeroporto de São Paulo, junto à doutora Hildegard Goss-Mayr, do Movimento Internacional da Reconciliação.

Também foi encarcerado em 1976 no Equador, junto com bispos latino-americanos e estadunidenses.

Em Agosto de 1977, foi detido em Buenos Aires, pela Polícia Federal Argentina. Encarcerado e torturado, sem processo judicial, passou na prisão 14 meses e em liberdade vigiada outros 14 meses. Durante a sua prisão recebeu o Memorial da Paz João XXIII, outorgado por Pax Christi International, entre outros reconhecimentos internacionais.

Desde 2004 forma parte do Jurado Internacional do Prémio de Direitos Humanos de Nuremberga, que cada dois anos outorga um prémio a organizações ou pessoas que se destacam na promoção e defesa dos direitos humanos no mundo, ainda que com o risco da sua própria vida.


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