Entrevista com o capelão: As pessoas querem ver gestos. Muitos desses jovens são de outras religiões.
Roma,
O Papa Francisco vai celebrar a Missa da Quinta-feira Santa,
na prisão para menores ‘Casal de Marmo’, localizada na periferia de
Roma. Bento XVI esteve ali no início de seu pontificado. Agora, é a vez
do Papa Francisco. Eles ficaram surpresos, porque muitos são de outras
religiões, disse padre Gaetano Greco à Zenit, durante entrevista no
Centro de Recuperação ‘Borgo Amigo’.
Padre Gaetano, capelão da prisão Casal del Marmo, é da família
franciscana dos terciários capuchinhos de Nossa Senhora das Dores, ou
dos padres "Amigonianos" porque seu fundador foi o bispo Dom Luis Amigo,
de Valência, Espanha.
Mesmo sendo de San Giovanni Rotondo, terra de Padre Pio, o capelão
escolheu outra ordem: a dos Amigonianos, cujo carisma é a reabilitação
dos jovens. Pe Gaetano se apaixonou por esta vocação.
Padre Gaetano frequentou o seminário, fez noviciado na Espanha, em
Albacete, e foi ordenado sacerdote em Roma; trabalhou durante vários
anos na Sardenha, em uma casa de recuperação. Desde 1981 é capelão da
prisão ‘Casal de Marmo’. Prisão, no sentido pleno da palavra.
ZENIT:Bento XVI já visitou a prisão, certo?
Pe Gaetano: Bento XVI celebrou em 2007, foi uma experiência
extraordinária. Os jovens o viram de perto. Bento XVI se comoveu quando
os encontrou, e saudava com um ‘aperto de mãos’, olhava nos olhos. Foi
um dia de primavera e de luz. Preparamos a sua visita durante um mês.
Agora Francisco ...
Pe Gaetano: Agora o Papa Francisco vem nos encontrar, e isso está
agitando meio mundo. Os jovens aguardam com entusiasmo o Papa. Ele
celebrará como costumava fazerem Buenos Aires, num lugar de sofrimento,
de pobres. Na prisão, eu passei muito tempo com os jovens lendo somente o
evangelho, e dali se abre um mundo inteiro.
ZENIT:O que vocês estão organizando para a visita?
Pe Gaetano: Com o Papa Francisco não temos necessidade de preparar
nada, porque ele quer ajoelhar-se no chão. O que fica marcado nas
pessoas são as coisas simples. Você pode até fazer um discurso
maravilhoso, mas as pessoas simples querem ver os gestos, como pagar o
hotel, isso permanece impresso, ou quando um Papa sai do carro para
cumprimentar as pessoas sem medo de ser baleado.
ZENIT:O que provoca mais impacto nestes jovens?
Pe Gaetano: Quando eles chegam aqui, eles acham que os religiosos têm
um belo apartamento, e são surpreendidos porque vivemos como eles. E o
que fazemos, fazemos junto com eles. Considerá-los doentes é um erro.
Sim, mas pela falta de cuidado que eles nunca tiveram, pelo vazio, pelo
pouco afecto, porque a maioria das pessoas que disseram que os queriam
bem, os abandonaram, ou, os traíram, os fizeram sofrer. E encontrar
alguém que gratuitamente coloca a disposição deles a própria vida e tudo
o que tem, é a coisa mais bonita que poderia ter acontecido para eles.
ZENIT:Vamos falar sobre os jovens detidos. Como é decidida a prisão ou as medidas alternativas?
Pe Gaetano: Segundo a lei italiana actual, os jovens antes de ir para
a cadeia vão para um Centro de Pronto Atendimento , onde o magistrado
no prazo de 72 horas, auxiliado por uma equipe formada por um assistente
social, um educador e um psicólogo, deve determinar se vai para prisão
ou entra nas medidas alternativas, tais como comunidades para
reabilitação, etc. Aqueles que não respeitam as medidas alternativas ou
em casos mais graves acabam na prisão.
ZENIT:Até que idade eles permanecem na prisão juvenil?
Pe Gaetano: Cumprindo algumas penas pode ser até 21 anos. Mas o que
cometeu crime até 18 anos e depois vai para o presídio para adultos.
ZENIT:Qual é a situação desses jovens?
Pe Gaetano: Há um forte sentimento de revolta e de violência, e
também um desejo de redimir-se. Especialmente o jovem que cometeu um
crime grave. Os crimes mais comuns são contra o património e o uso de
substâncias tóxicas.
ZENIT:Quem caiu nas drogas, encontra aqui uma saída?
Pe Gaetano: Na cadeia há um centro médico. Verificamos a recuperação
psicofísica dos jovens que, muitas vezes, chegam aqui em péssimas
condições sanitárias. Este é um serviço muito positivo. Em seguida,
direccionamos para uma equipe de educadores, para ajudar, escutar, e
tentar entender seus problemas, e depois os acompanhamos até uma
situação positiva.
ZENIT:É diversa a possibilidade de recuperação dos jovens em relação aos adultos?
Pe Gaetano:Sim, por duas razões: porque eles são mais jovens e querem
voltar o mais rápido possível à liberdade, e a grande vantagem é que
eles são poucos em relação a grande massa de detidos.
ZENIT: Quantos jovens estão em Casal de Marmo? E o que disseram quando souberam que o Papa estava chegando?
Pe Gaetano: Um total de 48. Um pequeno grupo de nove mulheres e dois
grupos de homens. A maioria é muçulmana. Outro grupo, uma minoria de
italianos, são ortodoxos. Ao anúncio de que o papa viria a Casal de
Marmo na Quinta-feira Santa, todos entenderam que era importante. Um
jovem Napolitano disse: "Eu finalmente vou apertar a mão de alguém
importante”.
ZENIT: Quais são as fases que eles devem percorrer?
Pe Gaetano: A primeira é com ele mesmo, um forte trabalho no sentido
de responsabilidade, porque não há grades. Nesta primeira fase
permanecem dentro da comunidade, onde não estão de férias, e requer um
recomeçar. É necessário um bom acolhimento, porque a primeira coisa é o
ambiente. Eles podem abrir a geladeira, falar com o professor a qualquer
momento do dia, e devem ajudar na vida ordinária da casa. Há uma
cozinheira e outra senhora que cuida das roupas, o resto, fazem os
jovens. Como em uma família.
ZENIT: Como é a vida aqui?
Pe Gaetano: Esta é uma comunidade religiosa aberta, compartilhamos a
vida com os jovens, são cinco religiosos e 11 homens. Criamos
oportunidades de trabalho para os jovens, acompanhados pelos educadores.
ZENIT: Daqui saem algumas vocações? Como é mantido?
Pe Gaetano: Vocações, não, às vezes há alguma esperança. Mas entre
eles é bastante complicado, porque o grande sonho deles é ganhar
dinheiro e os monges não têm dinheiro.
Para os jovens que são confiados pelos serviços sociais, é dado um
subsídio diário para cobrir as despesas, através do Centro de Justiça
para menores. E depois, há a ajuda da Igreja, com verbas destinadas do
‘8 por mil’ para instituições de caridade, na Itália.
ZENIT: Se o jovem quiser, é possível se recuperar na prisão juvenil?
Pe Gaetano: Sim, é possível. Embora uma coisa seja dizer e outra
coisa é fazer. Muitos tiveram dinheiro fácil em suas mãos, e quando
começam a trabalhar vêm que seu primeiro salário será muito, muito
baixo.
ZENIT:Qual é a espiritualidade seguida?
Pe Gaetano: De São Francisco e a do Bom Pastor. No aspecto religioso,
mantenho firmes os meus princípios, mas dou a eles a liberdade. Por
exemplo, celebro a Missa e, algumas vezes, eles me pedem para
participar. Mas é uma escolha livre. Há também a paróquia nas
proximidades, onde eles podem ir para rezar e estar com os sacerdotes.
ZENIT:Como é a reintegração?
Pe Gaetano: É uma comunidade voltada para o exterior. Um dos
problemas negativos da prisão e das instituições em geral, se não
estivermos atentos, é que as pessoas se acomodam. E isso diminui a
capacidade de iniciativa do individuo, porque tudo se torna direito e
não dever. E o que ele encontra aqui deve deixá-lo melhor do que o que
ele encontrou.
ZENIT: Onde estão os padres Amigonianos?
Pe Gaetano: Em muitos países, especialmente na América Latina. Com
grande atenção a esta realidade, embora também com algumas experiências
de escolas privadas e até mesmo uma universidade de formação em
pedagogia na Colômbia, psicologia para religiosos, aberta também para os
jovens.
ZENIT: Como prevenir o problema das drogas entre os jovens?
Pe Gaetano: A grande dificuldade da juventude não é apenas o
capricho. Existem elementos destrutivos que fazem parte de uma situação
cultural, como o uso de substâncias tóxicas. Começam “fazendo-se de
bobos”, buscando a transgressão. É difícil não encontrar, numa festa de
adolescentes, alguém que não tenha levado isso. Falamos sobre drogas e
as suas dificuldades, mas precisamos fazê-los entender a história da
transgressão, que é possível se divertir de forma consciente. Quando
alguém transgride, perde a consciência da festa.
in
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