Discurso do Papa Francisco aos Delegados Fraternos
Cidade do Vaticano,
Publicamos a seguir o discurso dado hoje pelo Papa Francisco
aos Delegados Fraternos das Igrejas, Comunidades eclesiais e Organismos
Ecuménicos Internacionais, Representantes do povo judeu e de Religiões
não Cristãs, reunidos em Roma para a celebração do início oficial do Seu
ministério petrino.
***
Queridos irmãos e irmãs,
Em primeiro lugar agradeço de coração o que nos disse o meu Irmão André. Muito obrigado! Muito obrigado!
É um motivo de especial alegria encontrar-me convosco hoje, Delegados
das Igrejas Ortodoxas, das Igrejas Ortodoxas Orientais e das
Comunidades eclesiais do Ocidente. Agradeço-vos por terdes querido
participar da celebração que marcou o início do meu ministério de Bispo
de Roma e Sucessor de Pedro.
Ontem de manhã, durante a Santa Missa, por meio das vossas pessoas
reconheci espiritualmente presente as comunidades que representais.
Nesta manifestação de fé, pareceu-me viver de modo ainda mais urgente a
oração pela unidade dos crentes em Cristo e juntos vermos de alguma
forma prefigurada aquela plena realização, que depende do plano de Deus e
da nossa leal colaboração.
Começo o meu ministério apostólico neste ano em que o meu venerado
predecessor, Bento XVI, com intuição realmente inspirada, proclamou para
a Igreja católica o Ano da fé. Com esta iniciativa, que espero
continuar e espero que seja um estímulo para a caminhada de fé de todos,
ele quis marcar o 50 º aniversário do início do Concílio Vaticano II,
propondo uma espécie de peregrinação ao que para cada cristão representa
o essencial: a relação pessoal e transformante com Jesus Cristo, Filho
de Deus, morto e ressuscitado para a nossa salvação. E é justo no desejo
de anunciar este tesouro perenemente válido da fé aos homens do nosso
tempo que reside o coração da mensagem conciliar.
Junto convosco não posso esquecer o quanto aquele Concílio significou
para o caminho ecuménico. Gosto de lembrar as palavras que o beato João
XXIII, que celebraremos em breve o 50º aniversário da sua morte,
pronunciou no memorável discurso de inauguração: "A Igreja Católica
considera que é seu dever trabalhar activamente para que se cumpra o
grande mistério daquela unidade que Cristo Jesus com ardentes orações
pediu ao Pai Celeste na iminência do seu sacrifício; ela goza de paz
suavíssima, sabendo estar intimamente unida a Cristo naquela oração”
(AAS 54 [1962], 793). Até aqui Papa João.
Sim, queridos irmãos e irmãs em Cristo, todos nos sentimos
intimamente unidos à oração do nosso Salvador na Última Ceia, na sua
invocação: ut unum sint. Peçamos ao Pai misericordioso de viver em
plenitude aquela fé que recebemos como dom no dia do nosso Baptismo, e de
poder testemunhá-la livre, alegre e corajosamente. Este será o nosso
melhor serviço à causa da unidade dos cristãos, um serviço de esperança
para um mundo ainda marcado pela divisão, pelos contrastes e
rivalidades. Mais seremos fieis à sua vontade, nos pensamentos, nas
palavras e nas obras, e mais caminharemos realmente e substancialmente
em direcção à unidade.
De minha parte desejo assegurar, na estrada dos meus antecessores, a
firme vontade de continuar no caminho do diálogo ecuménico e agradeço
desde agora o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos
Cristãos, pela ajuda que continuará a oferecer, em meu nome, por esta
nobilíssima causa. Peço-vos, caros irmãos e irmãs, que leveis a minha
cordial saudação e certeza da minha lembrança no Senhor Jesus às Igrejas
e Comunidades cristãs que aqui representais, e peço-vos a caridade de
uma especial oração pela minha pessoa, para que possa ser um Pastor
segundo o coração de Cristo.
E agora dirijo-me a vós ilustres representantes do povo judeu, com o
qual temos um especialíssimo vínculo espiritual, já que, como afirma o
Concílio Vaticano II, “a Igreja de Cristo reconhece que os inícios da
sua fé e da sua eleição se encontram já, segundo o mistério divino da
salvação, nos patriarcas, em Moisés, e nos profetas” (Declaração Nostra
Aetate, 4). Agradeço-vos pela vossa presença e confio que, com a ajuda
do Altíssimo, poderemos continuar com proveito aquele fraterno diálogo
que o Concílio desejava (cf. ibid.) e que realmente aconteceu, trazendo
não poucos frutos, especialmente ao longo das últimas décadas.
Cumprimento depois e agradeço cordialmente a todos vós, caros amigos
pertencentes a outras tradições religiosas; antes de mais nada os
Muçulmanos, que adoram o Deus único, vivente e misericordioso, e o
invocam na oração, e a todos vós. Aprecio muito a vossa presença: nessa
vejo um sinal perceptível da vontade de crescer na estima recíproca e na
cooperação para o bem comum da humanidade.
A Igreja Católica está ciente da importância que tem a promoção da
amizade e do respeito entre os homens e mulheres de diferentes tradições
religiosas – quero repetir isso: promoção da amizade e do respeito
entre homens e mulheres de diferentes tradições religiosas – o confirma
também o valioso trabalho realizado pelo Pontifício Conselho para o
Diálogo Inter-religioso. Ela também está ciente da responsabilidade que
todos nós temos com relação ao nosso mundo, toda a criação, que devemos
amar e proteger. E nós podemos fazer muito pelo bem de quem é mais
pobre, de quem é fraco e de quem sofre, para favorecer a justiça, para
promover a reconciliação, para construir a paz. Mas, especialmente,
devemos manter viva no mundo a sede do absoluto, não permitindo que
prevaleça uma visão da pessoa humana com uma só dimensão, segundo a qual
o homem se reduz ao que produz e ao que consome: esta é uma das
armadilhas mais perigosas do nosso tempo.
Sabemos quanta violência produziu na história recente a tentativa de
eliminar Deus o divino do horizonte da humanidade, e advertimos o valor
de testemunhar nas nossas sociedades a originária abertura à
transcendência que é inerente ao coração humano. Nisto, sentimos perto
todos aqueles homens e mulheres que, ainda não reconhecendo-se
pertencentes de alguma tradição religiosa, sentem-se porém em busca da
verdade, da bondade e da beleza, esta verdade, bondade e beleza de Deus,
e que são nossos valiosos aliados no compromisso da defesa da dignidade
do homem, na construção de uma convivência pacífica entre os povos e ao
guarda com cuidado a criação.
Caros amigos, mais uma vez, muito obrigado pela vossa presença. A todos, ofereço a minha cordial e fraterna saudação.
in
Sem comentários:
Enviar um comentário