Discurso do Papa Francisco aos cardeais
Cidade do Vaticano,
Às 11 desta sexta-feira (15) o Santo Padre Francisco recebeu
os cardeais que se encontram em Roma. Após o discurso do cardeal Angelo
Sodano, em nome do Colégio Cardinalício, o Papa pronunciou o discurso
que segue.
Irmãos Cardeais,
Este tempo dedicado ao Conclave foi rico de significado não só para o
Colégio Cardinalício, mas também para todos os fiéis. Nestes dias,
pudemos sentir quase de forma tangível o afecto e a solidariedade da
Igreja universal, bem como a atenção de muitas pessoas que, mesmo não
compartilhando nossa fé, vêem com respeito e admiração a Igreja e a
Santa Sé. De todos os cantos da terra, se elevou a oração ardente e
harmoniosa do Povo cristão pelo novo Papa, deixando-me comovido o meu
primeiro encontro com a multidão reunida na Praça de São Pedro. Com esta
sugestiva imagem do povo orante e jubiloso ainda gravada na minha
mente, quero expressar a minha sincera gratidão aos Bispos, aos
sacerdotes, às pessoas consagradas, aos jovens, às famílias, aos idosos,
pela sua solidariedade espiritual tão sentida e fervorosa.
Sinto a necessidade de expressar a minha mais viva e profunda
gratidão a todos vós, venerados e amados Irmãos Cardeais, pela solícita
colaboração na condução da Igreja durante a Sé Vacante. Dirijo uma
cordial saudação a cada um, começando pelo Decano do Colégio
Cardinalício, o Senhor Cardeal Angelo Sodano, a quem agradeço as
expressões de estima e os votos ardentes que me dirigiu em vosso nome.
Com ele, agradeço ao Senhor Cardeal Tarcisio Bertone, Camerlengo da
Santa Igreja Romana, pelo seu trabalho admirável nesta delicada fase de
transição, e também ao caríssimo Cardeal Giovanni Battista Re, que nos
guiou durante o Conclave: muito obrigado! O meu pensamento se dirige,
com um afecto particular, aos venerados Cardeais que, por causa da idade
ou da doença, asseguraram a sua participação e o seu amor à Igreja, por
meio da oferta do sofrimento e da oração. E queria dizer-vos que
anteontem o Cardeal Mejía teve um enfarte cardíaco: está internado na
Clínica Pio XI. Parece que o seu estado de saúde seja estável, e nos
mandou a sua saudação.
Não posso deixar de agradecer também a todos aqueles que, nas várias
incumbências, trabalharam activamente na preparação e realização do
Conclave, favorecendo a segurança e a tranquilidade dos Cardeais neste
momento tão importante para a vida da Igreja.
Dirijo uma saudação cheia de afecto e profunda gratidão ao meu
venerado Predecessor Bento XVI que, durante estes anos de Pontificado,
enriqueceu e revigorou a Igreja com o seu magistério, a sua bondade, a
sua orientação, a sua fé, a sua humildade e a sua mansidão. Estas
continuarão a ser um património espiritual para todos. O ministério
petrino, vivido com dedicação total, teve nele um intérprete sábio e
humilde, com os olhos sempre fixos em Cristo, Cristo ressuscitado,
presente e vivo na Eucaristia. Não cessarão jamais de o acompanhar a
nossa oração fervorosa, a nossa viva lembrança, a nossa imorredoura e
afectuosa gratidão. Sentimos que Bento XVI ascendeu no fundo dos nossos
corações uma chama: esta vai continuar a arder, porque será alimentada
pela sua oração, que sustentará a Igreja no seu caminho espiritual e
missionário.
Amados Irmãos Cardeais, este nosso encontro quer ser uma espécie de
prolongamento da intensa comunhão eclesial vivida neste período.
Animados por um profundo sentido de responsabilidade e sustentados por
um grande amor a Cristo e à Igreja, rezamos juntos, partilhando
fraternamente os nossos sentimentos, as nossas experiências e reflexões.
Foi neste clima de grande cordialidade que cresceu o conhecimento
recíproco e a abertura mútua; e isto é bom, porque nós somos irmãos.
Alguém me dizia: os Cardeais são os padres do Santo Padre. Aquela
comunhão, aquela amizade, aquela proximidade nos fará bem a todos. E
este conhecimento e esta abertura mútua nos facilitaram a docilidade à
acção do Espírito Santo. Ele, o Paráclito, é o protagonista supremo de
cada iniciativa e manifestação de fé. É curioso: me faz pensar, essa
realidade. O Paráclito cria todas as diferenças nas Igrejas, e parece
que seja um apóstolo de Babel. Mas, por outro lado, é Ele que cria a
unidade nestas diferenças, não na "igualitariedade", mas na harmonia.
Lembro-me de um Padre da Igreja que O definia assim "Ipse harmonia est".
É o Paráclito quem dá a cada um de nós os diversos carismas, que nos
une nesta comunidade que é a Igreja, que adora ao Pai, ao Filho e Ele, o
Espírito Santo.
Partindo justamente do afecto colegial autêntico que une o Colégio
Cardinalício, exprimo a minha vontade de servir o Evangelho com renovado
amor, ajudando a Igreja a tornar-se, cada vez mais, em Cristo e com
Cristo, a videira fecunda do Senhor. Estimulados também pela celebração
do Ano da Fé, todos juntos, Pastores e fiéis, nos esforçaremos
por responder fielmente à missão de sempre: levar Jesus Cristo ao homem e
conduzir o homem para que se encontre com Jesus Cristo, Caminho,
Verdade e Vida, realmente presente na Igreja e contemporâneo em cada
homem. Este encontro leva a nos tornarmos homens novos no mistério da
graça, suscitando na alma aquela alegria cristã que constitui o cêntuplo
dado por Cristo a quem que O recebe na própria vida.
Como o Papa Bento XVI nos lembrou tantas vezes nos seus ensinamentos
e, por fim, com o seu gesto corajoso e humilde, é Cristo que guia a
Igreja através do seu Espírito. O Espírito Santo é a alma da Igreja, com
a sua força vivificadora e unificante: faz de muitos um só corpo, o
Corpo místico de Cristo. Não cedamos jamais ao pessimismo, a esta
amargura que o diabo nos oferece cada dia; não cedamos ao pessimismo e
ao desânimo: tenhamos a firme certeza de que o Espírito Santo dá à
Igreja, com o seu sopro poderoso, a coragem de perseverar e também de
procurar novos métodos de evangelização, para levar o Evangelho até os
últimos confins (cf. At 1,8). A verdade cristã é fascinante e
persuasiva, porque responde à necessidade profunda da existência humana,
anunciando de modo convincente que Cristo é o único Salvador do homem
todo e de todos os homens. Este anúncio permanece válido hoje como o foi
nos primórdios do cristianismo, quando se realizou a primeira grande
expansão missionária do Evangelho.
Amados Irmãos, coragem! A metade de nós está em idade avançada: a
velhice é – gosto de dizê-lo assim – a sede da sabedoria da vida. Os
idosos têm a sabedoria de ter caminhado na vida, como o velho Simeão,
como a idosa Ana no Templo. E justamente aquela sabedoria fez com que
eles reconhecessem Jesus. Entreguemos esta sabedoria aos jovens: como o
vinho bom, que com os anos torna-se melhor, demos aos jovens a sabedoria
da vida. Vem-me a cabeça aquilo que um poeta alemão dizia da velhice:
"Es ist ruhig, das Alter, und fromm": é o tempo da tranquilidade e da
oração. E é também o tempo de dar aos jovens esta sabedoria. Agora
retornareis às vossas sedes, para continuardes o vosso ministério,
enriquecidos pela experiência destes dias, tão cheios de fé e comunhão
eclesial. Esta experiência única e incomparável, permitiu-nos
identificar profundamente toda a beleza da realidade eclesial, que é um
reflexo do fulgor de Cristo Ressuscitado: um dia contemplaremos aquela
face belíssima de Cristo Ressuscitado!
À poderosa intercessão de Maria, nossa Mãe, Mãe da Igreja, confio o
meu ministério e o vosso. Sob seu olhar materno, possa cada um de vós
caminhar, feliz e dócil, à voz do seu divino Filho, reforçando a
unidade, perseverando concordes na oração e testemunhando a fé autêntica
na presença contínua do Senhor. Com estes sentimentos – sento-os de
verdade! – com estes sentimentos, concedo de bom grado a minha Bênção
Apostólica, que faço extensiva aos vossos colaboradores e às pessoas
confiadas aos vossos cuidados pastorais.
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