Páginas

quinta-feira, 21 de março de 2013

Frente aos «Herodes» que tramam planos de morte, Francisco custodiará a vida, como San José

Homilia de início do Pontificado

O Papa Francisco convida todos a ser custódios da Criação como São José foi custódio da Sagrada Família.

Actualizado 19 de Março de 2013

RomeReports/ReL

O papa Francisco pronunciou a homilia da Missa de Início de pontificado na qual convidou a todos a ser “custódios da Criação” como San José foi custódio da Sagrada Família.


TEXTO OFICIAL DA HOMILIA:


Queridos irmãos e irmãs

Dou graças ao Senhor por poder celebrar esta Santa Missa de começo do ministério petrino na solenidade de são José, esposo da Virgem Maria e patrono da Igreja universal: é uma coincidência muito rica de significado, e é também o onomástico do meu venerado Predecessor: estamos-lhe próximos com a oração, cheia de afecto e gratidão.

Saúdo com afecto aos irmãos Cardeais e Bispos, aos presbíteros, diáconos, religiosos e religiosas e a todos os fiéis laicos.

Agradeço pela sua presença aos representantes das outras Igrejas e Comunidades eclesiais, assim como aos representantes da comunidade judaica e outras comunidades religiosas.

Dirijo uma cordial saudação aos Chefes de Estado e de Governo, às delegações oficiais de tantos países do mundo e ao Corpo Diplomático.

Temos escutado no Evangelho que «José fez o que o anjo do Senhor lhe tinha mandado, e recebeu a sua mulher» (Mt 1,24). Nestas palavras encerra-se já a missão que Deus confia a José, a de ser custódio. Custódio de quem? De Maria e Jesus; mas é uma custódia que se alarga logo à Igreja, como assinalou o beato João Paulo II: «Tal que cuidou amorosamente de Maria e dedicou-se com alegre empenho à educação de Jesus Cristo, também custodia e protege o seu corpo místico, a Igreja, de que a Virgem Santa é figura e modelo» (Exhort. ap. Redemptoris Custos, 1).

Como exerce José esta custódia? Com discrição, com humildade, em silêncio, mas com uma presença constante e uma fidelidade total, ainda quando não compreende. Desde o seu matrimónio com Maria até o episódio de Jesus no Templo de Jerusalém aos doze anos, acompanha em todo o momento com esmero e amor. Está junto a Maria, sua esposa, tanto nos momentos serenos da vida como os difíceis, na viagem a Belém para o censo e nas horas tremulosas e gozosas do parto; no momento dramático da fuga para o Egipto e na afanosa busca do seu filho no Templo; e depois na vida quotidiana na casa de Nazaré, na oficina onde ensinou o ofício a Jesus

Como vive José a sua vocação como custódio de Maria, de Jesus, da Igreja? Com a atenção constante a Deus, aberto aos seus sinais, disponível ao seu projecto, e não tanto ao próprio; e isso é o que Deus lhe pediu a David, como temos escutado na primeira Leitura: Deus não quer uma casa construída pelo homem, mas sim a fidelidade à sua palavra, ao seu desígnio; e é Deus mesmo quem constrói a casa, mas de pedras vivas marcadas pelo seu Espírito.

E José é «custódio» porque sabe escutar a Deus, deixa-se guiar pela sua vontade, e precisamente por isso é mais sensível ainda às pessoas que se lhe confiaram, sabe como ler com realismo os acontecimentos, está atento ao que o rodeia, e sabe tomar as decisões mais sensatas.

Nele, queridos amigos, vemos como se responde à chamada de Deus, com disponibilidade, com prontidão; mas vemos também qual é o centro da vocação cristã: Cristo. Guardemos Cristo na nossa vida, para guardar os demais, salvaguardar a criação.

Mas a vocação de custodiar não só em relação a nós, os cristãos, mas sim que tem uma dimensão que antecede e que é simplesmente humana, corresponde a todos.

É custodiar toda a criação, a beleza da criação, como nos diz no livro de Génesis e como nos mostra são Francisco de Assis: é ter respeito por todas as criaturas de Deus e pelo ambiente no qual vivemos.

É custodiar as pessoas, o preocupar-se por todos, por cada um, com amor, especialmente pelas crianças, os anciãos, que são mais frágeis e que com frequência ficam na periferia do nosso coração.

É preocupar-se um com o outro na família: os cônjuges guardam-se reciprocamente e logo, como pais, cuidam dos filhos, e com o tempo, também os filhos converteram-se em cuidadores dos seus pais. É viver com sinceridade as amizades, que são um recíproco proteger-se na confiança, no respeito e no bem. No fundo, tudo está confiado à custódia do homem, e é uma responsabilidade que nos afecta a todos. Sede custódios dos dons de Deus.

E quando o homem fala nesta responsabilidade, quando não nos preocupamos pela criação e pelos irmãos, então ganha terreno a destruição e o coração fica árido. Por desgraça, em todas as épocas da história existem «Herodes» que tramam planos de morte, destroem e desfiguram o rosto do homem e da mulher.

Queria pedir, por favor, a todos os que ocupam postos de responsabilidade no âmbito económico, político ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade: sejamos «custódios» da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do meio ambiente; não deixemos que os sinais de destruição e de morte acompanhem o caminho deste mundo nosso.

Mas, para «custodiar», também temos que cuidar de nós mesmos. Recordemos que o ódio, a inveja, a soberba sujam a vida.

Custodiar quer dizer então vigiar os nossos sentimentos, o nosso coração, porque aí é de onde saem as intenções boas e más: as que constroem e as que destroem. Não devemos ter medo da bondade, mais ainda, nem sequer da ternura.

E aqui acrescento então uma ulterior anotação: o preocupar-se, o custodiar, requer bondade, pede ser vivido com ternura. Nos Evangelhos, são José aparece como um homem forte e valente, trabalhador, mas na sua alma percebe-se uma grande ternura, que não é a virtude dos débeis, mas sim mais bem tudo o contrário: denota fortaleza de ânimo e capacidade de atenção, de compaixão, de verdadeira abertura ao outro, de amor. Não devemos ter medo da bondade, da ternura.

Hoje, junto à festa de São José, celebramos o início do ministério do novo Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, que comporta também um poder. Certamente, Jesus Cristo deu um poder a Pedro, mas de que poder se trata?

As três perguntas de Jesus a Pedro sobre o amor, segue o triplo convite: Apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas. Nunca esquecemos que o verdadeiro poder é o serviço, e que também o Papa, para exercer o poder, deve entrar cada vez mais nesse serviço que tem a sua cúpula luminosa na cruz; deve por os seus olhos no serviço humilde, concreto, rico de fé, de são José e, como ele, abrir os braços para custodiar a todo o Povo de Deus e acolher com afecto e ternura a toda a humanidade, especialmente os mais pobres, os mais débeis, os mais pequenos; isso que Mateus descreve no juízo final sobre a caridade: ao esfomeado, ao sedento, ao forasteiro, ao despido, ao doente, ao preso (cf. Mt 25,31-46). Só ele que serve com amor sabe custodiar.
Na segunda Leitura, são Paulo fala de Abraão, que «apoiado na esperança, acreditou, contra toda a esperança» (Rm 4,18). Apoiado na esperança, contra toda a esperança.

Também hoje, perante tantos cúmulos de céu cinzentos, temos de ver a luz da esperança e dar nós mesmos esperança. Custodiar a criação, cada homem e cada mulher, com uma visão de ternura e de amor; é abrir um resquício de luz no meio de tantas nuvens; é levar o calor da esperança.

E, para o crente, para nós os cristãos, como Abraão, como são José, a esperança que levamos tem o horizonte de Deus, que se nos abriu em Cristo, está fundada sobre a pedra que é Deus.

Custodiar Jesus com Maria, custodiar toda a criação, custodiar a todos, especialmente aos mais pobres, custodiar-nos a nós mesmos; vejo um serviço que o Bispo de Roma está chamado a desempenhar, mas a que todos estamos chamados, para fazer brilhar a estrela da esperança: protejamos com amor o que Deus nos deu.

Imploro a intercessão da Virgem Maria, de são José, dos Apóstolos são Pedro e são Paulo, de são Francisco, para que o Espírito Santo acompanhe o meu ministério, e a todos vós digo: Orai por mim. Ámen


in

Sem comentários:

Enviar um comentário