Discurso do Papa Francisco ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé
Cidade do Vaticano,
Às 11 desta manhã, na Sala Regia do Palácio Apostólico
Vaticano, o Santo Padre Francisco recebeu em Audiência os Membros do
Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, por ocasião do início de
seu Ministério Petrino. Apresentamos a seguir, os palavras do Papa.
Excelências,
Senhoras e Senhores,
Senhoras e Senhores,
De coração agradeço ao vosso Decano, Embaixador Jean-Claude Michel,
as amáveis palavras que me dirigiu em nome de todos e com alegria vos
recebo para uma simples, mas ao mesmo tempo intensa, troca de
cumprimentos, que, idealmente, pretende ser o abraço do Papa ao mundo.
Na realidade, por vosso intermédio, encontro os vossos povos e deste
modo posso, em certa medida, alcançar cada um dos vossos concidadãos com
suas alegrias, dramas, expectativas e desejos.
A vossa presença, numerosa, é também um sinal de que as relações que
os vossos países mantêm com a Santa Sé são profícuas, são
verdadeiramente uma ocasião de bem para a humanidade. Na verdade, é isto
mesmo o que a Santa Sé tem a peito: o bem de todo o homem que vive
nesta terra. E é precisamente com este entendimento que o Bispo de Roma
começa o seu ministério, sabendo que pode contar com a amizade e
benevolência dos países que representais, e na certeza de que
compartilhais tal propósito. Ao mesmo tempo, espero que se revele também
ocasião para iniciar um caminho com os poucos países que ainda não têm
relações diplomáticas com a Santa Sé, alguns dos quais – de coração lhes
agradeço – quiseram estar presentes na Missa de início do meu
ministério ou enviaram mensagens como gesto de proximidade.
Como sabeis, há vários motivos que, ao escolher o meu nome, me
levaram a pensar em Francisco de Assis, uma figura bem conhecida mesmo
além das fronteiras da Itália e da Europa, inclusive entre os que não
professam a fé católica. Um dos primeiros é o amor que Francisco tinha
pelos pobres. Ainda há tantos pobres no mundo! E tanto sofrimento passam
estas pessoas! A exemplo de Francisco de Assis, a Igreja tem procurado,
sempre e em todos os cantos da terra, cuidar e defender quem passa
indigência e penso que podereis constatar, em muitos dos vossos países, a
obra generosa dos cristãos que se empenham na ajuda aos doentes, aos
órfãos, aos sem-abrigo e a quantos são marginalizados, e deste modo
trabalham para construir sociedades mais humanas e mais justas.
Mas há ainda outra pobreza: é a pobreza espiritual dos nossos dias,
que afecta gravemente também os países considerados mais ricos. É aquilo
que o meu Predecessor, o amado e venerado Bento XVI,
chama a «ditadura do relativismo», que deixa cada um como medida de si
mesmo, colocando em perigo a convivência entre os homens. E assim chego à
segunda razão do meu nome. Francisco de Assis diz-nos: trabalhai por
edificar a paz. Mas, sem a verdade, não há verdadeira paz. Não pode
haver verdadeira paz, se cada um é a medida de si mesmo, se cada um pode
reivindicar sempre e só os direitos próprios, sem se importar ao mesmo
tempo do bem dos outros, do bem de todos, a começar da natureza comum a
todos os seres humanos nesta terra.
Um dos títulos do Bispo de Roma é Pontífice, isto é, aquele que
constrói pontes, com Deus e entre os homens. Desejo precisamente que o
diálogo entre nós ajude a construir pontes entre todos os homens, de tal
modo que cada um possa encontrar no outro, não um inimigo nem um
concorrente, mas um irmão que se deve acolher e abraçar. Além disso, as
minhas próprias origens impelem-me a trabalhar por construir pontes. Na
verdade, como sabeis, a minha família é de origem italiana; e assim está
sempre vivo em mim este diálogo entre lugares e culturas distantes,
entre um extremo do mundo e o outro, actualmente cada vez mais próximos,
interdependentes e necessitados de se encontrarem e criarem espaços
efectivos de autêntica fraternidade.
Neste trabalho, é fundamental também o papel da religião. Com efeito,
não se podem construir pontes entre os homens, esquecendo Deus; e
vice-versa: não se podem viver verdadeiras ligações com Deus, ignorando
os outros. Por isso, é importante intensificar o diálogo entre as
diversas religiões; penso, antes de tudo, ao diálogo com o Islão. Muito
apreciei a presença, durante a Missa de início do meu ministério, de
tantas autoridades civis e religiosas do mundo islâmico. E é também
importante intensificar o diálogo com os não crentes, para que jamais
prevaleçam as diferenças que separam e ferem, mas, embora na
diversidade, triunfe o desejo de construir verdadeiros laços de amizade
entre todos os povos.
Lutar contra a pobreza, tanto material como espiritual, edificar a
paz e construir pontes: são como que os pontos de referimento para um
caminho que devemos percorrer, desejando convidar cada um dos países que
representais a tomar parte nele. Um caminho que será difícil, se não
aprendermos a amar cada vez mais esta nossa terra. Também neste caso me
serve de inspiração o nome de Francisco: ele ensina-nos um respeito
profundo por toda a criação, ensina-nos a guardar este nosso meio
ambiente, que muitas vezes não usamos para o bem, mas desfrutamos com
avidez e prejudicando um ao outro.
Queridos Embaixadores,
Senhoras e Senhores,
Senhoras e Senhores,
Novamente obrigado por todo o trabalho que realizais, juntamente com a
Secretaria de Estado, para edificar a paz e construir pontes de amizade
e fraternidade. Por vosso intermédio, desejo renovar aos vossos
Governos o meu agradecimento pela sua participação nas celebrações por
ocasião da minha eleição, com votos de um frutuoso trabalho comum. O
Senhor Todo-Poderoso cumule com os seus dons a cada um de vós, às vossas
famílias e aos povos que representais.
in
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