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Actualizado 18 de Março de 2013
Ángel Sastre / La Razón
No sábado a imprensa argentina teve acesso ao testemunho realizado por Jorge Bergoglio em 2006, na causa que investigava o desaparecimento dos jesuítas, Yorio e Francisco Jalics, e vários catequistas durante a ditadura, algo que resume desde Buenos Aires Ángel Sastre no diário espanhol La Razón.
Em 23 de Maio de 1976, uns 200 efectivos de um grupo de tarefas da ESMA rodearam a villa de Bajo Flores e encapuzaram os sacerdotes. Logo os transferiram para um dos sótãos da ESMA, onde os torturaram e submeteram a duros interrogatórios. Cinco meses depois foram libertados num campo de Cañuelas.
O caso foi um dos pelos quais se condenou o ex-tenente de navio Alfredo Astiz e outros repressores no julgamento da ESMA I, que se realizou em 2011.
Vários meses antes do golpe de 24 de Março de 1976, Bergoglio tinha-se reunido com Yorio e Jalics e disse-lhes que estava recebendo pressões «muito fortes da província, de Roma e de sectores da igreja argentina» para que se dissolvesse a comunidade que tinham criado na villa.
Num escrito que apresentou perante os seus superiores e que se usou no julgamento oral pela ESMA, Yorio conta que se participou na Teologia da Libertação e que houve uma ordem do chefe da ordem nacional – o superior de Bergoglio – de dissolver a comunidade em 15 dias.
Contou várias reuniões que teve com Bergoglio e que este os advertiu de que as suas vidas corriam perigo.
Em 1974, a Triple A tinha assassinado o padre Carlos Múgica. Depois do Golpe, o então arcebispo de Buenos Aires, monsenhor Juan Carlos Aramburu, proibiu-os de dar missa. Em 19 de Março de 1976, Bergoglio (dois meses antes do sequestro), comunicou a Yorio que a comunidade se tinha dissolvido.
Ao declarar, Bergoglio disse que se inteirou do sequestro por uma chamada telefónica de um vizinho e que, «ao tempo supôs que os responsáveis pertenciam à Marinha, desconhecia que estivessem alojados na ESMA».
Destacou que «alguns jesuítas que se entrevistaram com os laicos libertados foram quem os informaram de que estiveram detidos numa dependência da Marinha».
Contou também que se reuniu duas vezes com o chefe da Armada, o almirante Emilio Massera, para perguntar pelos sacerdotes. «A primeira vez escutou-o, disse-lhe que não sabia de nada a esse respeito e que ia investigar». A segunda, «muito feia, não durou nem dez minutos e o comandante indicou-lhe que já tinha informado» o capelão castrense, monsenhor Adolfo Tortolo.
Depois entrevistou-se com o presidente da Junta Militar, Jorge Videla, e disse-lhe que acreditava que a Marinha tinha os sequestrados. Para vê-lo uma segunda vez pediu a um capelão militar que informasse de que estava doente para que o substituíssem numa missa.
Quando foram libertados, Bergoglio fez que um ajudante do Núncio Apostólico os levasse a declarar perante a Policia Federal e pagou-lhes a viagem para Roma. Na sua declaração de 2011, explicou que o movimento religioso era muito heterogéneo.
«Em alguns países esteve envolvido, realizou mediações políticas e uma leitura do Evangelho com uma hermenêutica marxista, o que deu lugar à Teologia da Libertação. Noutros, por outro lado, optaram pela piedade popular, deixando de lado a política, dedicando-se aos pobres».
No acórdão, os juízes Daniel Obligado, Ricardo Farías e Germán Castelli assinalam que abriram várias causas por falso testemunho. Mas com a declaração de Bergoglio não fizeram nada.
Bergoglio recordou também que ajudou muitos a esconder-se. «Escondi uns quantos. Não recordo exactamente o número, mas foram vários», entre eles, três seminaristas que encontraram refúgio no colégio Máximo da Companhia de Jesus de São Miguel onde nesse momento vivia o futuro pontífice.
Inclusive, arriscou a pele ao tirar pela fronteira de Foz de Iguazú um jovem que era muito parecido com ele. Deu-lhe o seu DNI e o disfarçou de padre com uma sotaina negra e o clergiman – o colarinho branco que usam os sacerdotes – para que pudesse exilar-se e o encomendou a Deus. «Salvou a sua vida», recordou.
Actualizado 18 de Março de 2013
Ángel Sastre / La Razón
No sábado a imprensa argentina teve acesso ao testemunho realizado por Jorge Bergoglio em 2006, na causa que investigava o desaparecimento dos jesuítas, Yorio e Francisco Jalics, e vários catequistas durante a ditadura, algo que resume desde Buenos Aires Ángel Sastre no diário espanhol La Razón.
Em 23 de Maio de 1976, uns 200 efectivos de um grupo de tarefas da ESMA rodearam a villa de Bajo Flores e encapuzaram os sacerdotes. Logo os transferiram para um dos sótãos da ESMA, onde os torturaram e submeteram a duros interrogatórios. Cinco meses depois foram libertados num campo de Cañuelas.
O caso foi um dos pelos quais se condenou o ex-tenente de navio Alfredo Astiz e outros repressores no julgamento da ESMA I, que se realizou em 2011.
Vários meses antes do golpe de 24 de Março de 1976, Bergoglio tinha-se reunido com Yorio e Jalics e disse-lhes que estava recebendo pressões «muito fortes da província, de Roma e de sectores da igreja argentina» para que se dissolvesse a comunidade que tinham criado na villa.
Num escrito que apresentou perante os seus superiores e que se usou no julgamento oral pela ESMA, Yorio conta que se participou na Teologia da Libertação e que houve uma ordem do chefe da ordem nacional – o superior de Bergoglio – de dissolver a comunidade em 15 dias.
Contou várias reuniões que teve com Bergoglio e que este os advertiu de que as suas vidas corriam perigo.
Em 1974, a Triple A tinha assassinado o padre Carlos Múgica. Depois do Golpe, o então arcebispo de Buenos Aires, monsenhor Juan Carlos Aramburu, proibiu-os de dar missa. Em 19 de Março de 1976, Bergoglio (dois meses antes do sequestro), comunicou a Yorio que a comunidade se tinha dissolvido.
Ao declarar, Bergoglio disse que se inteirou do sequestro por uma chamada telefónica de um vizinho e que, «ao tempo supôs que os responsáveis pertenciam à Marinha, desconhecia que estivessem alojados na ESMA».
Destacou que «alguns jesuítas que se entrevistaram com os laicos libertados foram quem os informaram de que estiveram detidos numa dependência da Marinha».
Contou também que se reuniu duas vezes com o chefe da Armada, o almirante Emilio Massera, para perguntar pelos sacerdotes. «A primeira vez escutou-o, disse-lhe que não sabia de nada a esse respeito e que ia investigar». A segunda, «muito feia, não durou nem dez minutos e o comandante indicou-lhe que já tinha informado» o capelão castrense, monsenhor Adolfo Tortolo.
Depois entrevistou-se com o presidente da Junta Militar, Jorge Videla, e disse-lhe que acreditava que a Marinha tinha os sequestrados. Para vê-lo uma segunda vez pediu a um capelão militar que informasse de que estava doente para que o substituíssem numa missa.
Quando foram libertados, Bergoglio fez que um ajudante do Núncio Apostólico os levasse a declarar perante a Policia Federal e pagou-lhes a viagem para Roma. Na sua declaração de 2011, explicou que o movimento religioso era muito heterogéneo.
«Em alguns países esteve envolvido, realizou mediações políticas e uma leitura do Evangelho com uma hermenêutica marxista, o que deu lugar à Teologia da Libertação. Noutros, por outro lado, optaram pela piedade popular, deixando de lado a política, dedicando-se aos pobres».
No acórdão, os juízes Daniel Obligado, Ricardo Farías e Germán Castelli assinalam que abriram várias causas por falso testemunho. Mas com a declaração de Bergoglio não fizeram nada.
Bergoglio recordou também que ajudou muitos a esconder-se. «Escondi uns quantos. Não recordo exactamente o número, mas foram vários», entre eles, três seminaristas que encontraram refúgio no colégio Máximo da Companhia de Jesus de São Miguel onde nesse momento vivia o futuro pontífice.
Inclusive, arriscou a pele ao tirar pela fronteira de Foz de Iguazú um jovem que era muito parecido com ele. Deu-lhe o seu DNI e o disfarçou de padre com uma sotaina negra e o clergiman – o colarinho branco que usam os sacerdotes – para que pudesse exilar-se e o encomendou a Deus. «Salvou a sua vida», recordou.
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