O rabino cumprimentou o papa Francisco e destacou a suas relações com os judeus da Argentina
Roma,
O rabino Rosen é director de relações inter-religiosas da
Associação Judaica Americana. Ontem esteve estar com o Papa Francisco na
audiência com as delegações de diferentes Igrejas e outras religiões.
ZENIT entrevistou-o após o encontro.
ZENIT: o que lhe disse o Papa?
- Rabino David Rosen: Quando a pessoa está no meio de uma delegação,
até mesmo numa audiência privada com o papa não se permite uma conversa
real. Disse-lhe que esperava que ajudasse a aprofundar nas relações
entre judeus e católicos ainda mais e esperava que também contribua para
promover a paz na Terra Santa.
ZENIT: O que ele respondeu?
- Rabino David Rosen: Assentiu com a cabeça e disse sim, sim e sorriu e segurou minhas mãos. Não houve tempo para muito mais.
ZENIT: O que espera para os próximos anos nas relações entre judeus e católicos?
- Rabino David Rosen: A coisa mais importante é que estes
"Vaticanistas", que diziam que as relações do Vaticano com os judeus
diminuíram depois de Bento XVI, e depois de João Paulo II e que teríamos
um papa sem nenhum interesse especial nesta área, todos eles erraram.
Podemos prever com confiança que a relação entre católicos e judeus será
um ponto importante deste pontificado. Você sabe que, também hoje, na
audiência privada, o Papa Francisco destacou nestas palavras um
compromisso especial com a relação entre judeus e católicos, e ontem
quando falou na sua missa de início deu as boas-vindas aos
“representantes judeus e representantes de outras religiões”, de tal
forma que éramos os únicos, junto com representantes de outros grupos
cristãos, que mencionou pelo próprio nome.
ZENIT: Assim, podemos esperar um aprofundamento ainda maior da relação entre a Igreja católica e o povo judeu.
- Rabino David Rosen: Se me perguntasse quais assuntos pendentes eu
gostaria que se tocasse, eu diria que o principal desafio é o desafio
educativo. Houve uma transformação revolucionária no ensino da Igreja e
no foco de judeus, judaísmo e Israel onde moram comunidades judaicas
junto com as comunidades católicas como nos Estados Unidos. Portanto
estas mudanças foram interiorizadas nas instituições educativas da
Igreja e na base. Mas há muitos lugares no mundo onde não há comunidades
judaicas e onde os judeus não aparecem na "tela do radar" católico, e
lugares onde, até mesmo os bispos não conhecem o conteúdo de "Nostra
Aetate", e que não faz parte da educação católica. Então, o fato de que o
papa Francisco provenha da Argentina – na Argentina e no Brasil existe
uma comunidade judaica -, mas na maior parte da América Latina, não
existe e portanto, acho que é muito importante obter o seu apoio,
orientação e instrução – nas igrejas e escolas paroquiais e na formação
dos sacerdotes de todo o mundo – que esta deve ser uma parte integral do
seu programa educacional.
ZENIT: O papa Bento diz que a pessoa não pode ser católica e
anti-semita: Qual é a sua avaliação do pontificado de Bento XVI, do
ponto de vista da relação entre judeus e católicos?
- Rabino David Rosen: O pontificado de Bento XVI tem sido muito
importante e eu acho que muitas pessoas na comunidade judaica não
entenderam o importante que foi. Porque não somente foi sobre os passos
de João Paulo II em todo o seu pontificado. Mas também seguindo os
passos de João Paulo II fez algo muito importante: dado que poderiam ter
dito que a visita de João Paulo II à sinagoga de Roma e à Terra Santa,
em Israel, foram acções idiossincráticas de um homem que tinha uma
experiência pessoal de amizades judaicas quando criança, e pelo impacto
da Shoah, sentia em si mesmo a necessidade de fazer estes gestos. Bento
XVI seguindo seus passos e fazendo exactamente as mesmas acções, de fato,
consagrou estas acções no tecido do pontificado e da Igreja no seu
conjunto.
Por isso, seria natural agora que o Papa Francisco visitasse a
sinagoga de Roma, para chegar à Israel, à Terra Santa e em muitos
aspectos, estes passos naturais foram facilitados pelo papa Bento XVI,
seguindo os passos de João Paulo II
ZENIT: Na França, Marc Knobel acaba de publicar um livro
importante sobre o anti-semitismo nos anos 2000-2013. Como responder a
estas novas formas de anti-semitismo?
- Rabino David Rosen: Infelizmente o anti-semitismo está voltando à
moda outra vez. Depois do impacto da Segunda Guerra Mundial pensamos que
tínhamos controlado o vírus. Mas agora está brotando em todos os
lugares com muitas formas diferentes. E uma das mais recentes é da
Hungria, onde se vê uma espécie de neofacismo anti-semita, e então se vê
em alguns lugares, como na França e Bélgica um anti-semitismo que é uma
saída das frustrações árabes, que se centra no conflito israel-árabe e
gera hostilidade contra qualquer pessoa que apoie Israel. E depois vemos
anti-semitismos procedentes de determinados círculos da nova esquerda
que querem retratar Israel como um substituto dos Estados Unidos. Todos
os tipos de novo anti-semitismo que estão aparecendo, da direita à
esquerda, requerem uma resposta importante e desde já confiar e esperar
que o papa Francisco seja muito forte neste tema porque ele o entende.
Entende e também experimentou o bombardeio de um centro judeu em Buenos
Aires, no Centro da AMIA, onde 85 judeus foram assassinados, foi um dos
primeiros a chegar lá, para mostrar a sua solidariedade e também para
emitir uma declaração pedindo à autoridades argentinas deter os autores,
participou no evento comemorativo, e no ano passado celebrou na
catedral um evento comemorativo Kristal Nacht. Temos todas as razões
para esperar que Francisco vai continuar com o mesmo compromisso de
lutar contra o anti-semitismo como Bento XVI e João Paulo II.
in
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