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sábado, 23 de março de 2013

Argentino premiado com o Nobel da Paz é recebido em audiência privada pelo papa

Adolfo Pérez Esquivel revela que Francisco prometeu avançar na verdade, justiça e reparação dos danos das ditaduras


Roma,


Em entrevista colectiva concedida logo depois de uma audiência privada com o papa Francisco, ainda dentro do Vaticano, o argentino Adolfo Pérez Esquivel, defensor histórico dos direitos humanos e dos povos originários da América, torturado pela ditadura de Videla e ganhador do Prémio Nobel da Paz, declarou: “O papa me disse que está convencido de que é necessário avançar na verdade, na justiça e na reparação dos danos causados pelas ditaduras”.

Esquivel qualificou o encontro como “muito bom” e reiterou que Bergoglio não manteve ligações com a ditadura. “Mesmo se limitando a protestar, não é justo acusá-lo de cumplicidade”, já que, “apesar de não ter sido um dos bispos que estiveram mais na vanguarda pela defesa dos direitos humanos, ele prestigiou uma diplomacia silenciosa e pediu a libertação dos presos".

“Porque ser cúmplice significa ter colaborado, coisa que alguns bispos realmente fizeram”, acrescentou. “E Bergoglio, naquele tempo, nem sequer era bispo, era apenas superior provincial dos jesuítas na Argentina”. Prossegue Esquivel: “Eu sei com certeza que ele tentou protestar contra a violação dos direitos humanos (...) Os fatos têm que ser contextualizados no período terrível e no clima daquela época de ditadura militar”.

Perez Esquivel ganhou o Prémio Nobel da Paz em 1980 pelo compromisso com a defesa da democracia e dos direitos humanos por meios não violentos, em reacção às ditaduras militares na América Latina. Preso e torturado pelo regime militar, ele passou 14 meses na cadeia e outros tantos em liberdade vigiada.

Foi um dos primeiros a defender o novo papa das acusações de não ter feito o possível para libertar dois sacerdotes sequestrados e de saber do sequestro de bebés cometido pela ditadura.

No encontro com Francisco, relata Esquivel, “também falamos dos mártires da Igreja na América Latina, como os bispos Óscar Arnulfo Romero e Enrique Angelelli, de El Salvador e da Argentina, respectivamente”. O papa “manifestou a sua preocupação” e abordou a necessidade “de reduzir os índices de pobreza no mundo, trabalhando com os pobres”.

Bergoglio também contou a Pérez Esquivel “o motivo do nome Francisco”, que nasceu da sugestão do cardeal brasileiro Cláudio Hummes, sentado ao seu lado: quando os votos já o indicavam como papa, dom Cláudio lhe disse: “Não se esqueça dos pobres”.

A audiência aconteceu na biblioteca pessoal do pontífice, no Palácio Apostólico, e durou cerca de trinta minutos, um tempo excepcional para as audiências pontifícias, que duram em geral de 15 a 20 minutos.

De acordo com Esquivel, o detractor do cardeal Bergoglio, Horacio Verbitsky, que era chefe de espionagem da guerrilha urbana Los Montoneros na década de 1970 e hoje é director do jornal Página12, divulgou dados que "contém erros".


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