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quinta-feira, 21 de março de 2013

Um papa do fim do mundo

As directrizes do papado, segundo o secretário adjunto do CELAM


Roma,


Na homilia de inauguração do ministério petrino, o papa Francisco apresentou alguns traços do que provavelmente será o programa do seu pontificado.

Em primeiro lugar, será um pontificado contextualizado em uma hermenêutica da continuidade em relação ao predecessor, Bento XVI, de quem Francisco está muito próximo “na oração, cheia de afecto e gratidão”. Não haverá ruptura das acções programáticas do papa antecessor, mas uma continuidade e complementariedade criadora, com selo próprio latino-americano.

Um segundo elemento, extraído da escolha da festa de São José para iniciar o ministério petrino, é a função de “custódio” dos dons de Deus, que o papa Francisco quer desempenhar na vida da Igreja.

É preciso recordar que o documento de Aparecida, da V Conferência do Episcopado Latino-Americano (2007), em que o então cardeal Bergoglio foi presidente da Comissão de Redacção, diz com muita clareza, seguindo o discurso inaugural de Bento XVI: a Igreja tem “... a grande tarefa de custodiar e alimentar a fé do povo de Deus e recordar aos fiéis deste continente que, em virtude do seu baptismo, eles são chamados a ser discípulos e missionários de Jesus Cristo”. Logo a seguir, o texto trata da sede de Deus que os nossos povos manifestam e que, às vezes, pretende ser saciada com ofertas religiosas variadas, com expressões culturais alheias à tradição cristã ou com ideologias de tipo social ou político.

Há um terceiro elemento que pareceria de menor importância, mas que, no papa Francisco, é muito relevante: o estilo. Não se pode ser papa de qualquer jeito. É necessário ter estilo. Esse estilo vem representado nos três personagens que ele citou na homilia: Maria, José e Francisco de Assis. E os dinamismos desse estilo se expressam na discrição, na humildade, no silêncio, “mas com uma presença constante e uma fidelidade total”, bem como no respeito por todas as criaturas de Deus e pelo ambiente em que vivemos.

Uma quarta linha orientadora se situa no âmbito das exigências. Será um ministério com as atenções voltadas para Deus, mas atento também ao que o rodeia, aberto aos sinais dos tempos, que sabe ler com realismo os acontecimentos, sensível às necessidades das pessoas que lhe foram confiadas, disponível para escutar, guiado pela vontade de Deus e capaz de tomar as decisões mais sensatas.

Um quinto elemento da sua homilia é o paradigma da ternura, que é a virtude dos valentes e que se expressa na fortaleza de ânimo e na capacidade de atenção, de compaixão e de verdadeira abertura ao outro. É, enfim, o amor autêntico. Por isso, Francisco convidou a abraçar este paradigma com um convite à coragem: “Não devemos ter medo da bondade, da ternura”.

No campo das opções, destaca-se a sua preocupação com os pobres e excluídos. Talvez o que mais foi destacado pela média foi a sua concepção do poder como serviço: “Nunca nos esqueçamos de que o verdadeiro poder é o serviço, e que o papa também, para exercer o poder, precisa entrar cada vez mais nesse serviço, que chega ao seu ápice luminoso na cruz”.

Trata-se de um serviço especialmente voltado aos pobres e aos humildes, para “...acolher com afecto e ternura a humanidade inteira, especialmente os mais pobres, os mais frágeis, os menores; é o que Mateus descreve no juízo final sobre a caridade: o faminto, o sedento, o forasteiro, o nu, o doente, o encarcerado (cf. Mt 25,31-46). Só quem serve com amor sabe proteger”.

Finalmente, o núcleo do ministério petrino de Francisco é Jesus Cristo. Tudo o que foi dito anteriormente só é possível quando se é capaz de responder ao chamado de Deus com disponibilidade, com prontidão. Por isso, ele diz com muita propriedade: “Cuidemos de Cristo em nossa vida, para cuidarmos dos outros, para salvaguardar a criação”.

Leonidas Ortiz L., Pbro. é secretário Geral Adjunto do CELAM


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