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domingo, 17 de março de 2013

«Se estou vivo é porque ele seguiu ao meu lado quando os narcotraficantes me queriam morto»

Padre Pepe, sacerdote de um bairro de lata de Buenos Aires

Fala um dos padres ‘villeros’ que o Papa Francisco sustentou, acompanhou e guiou nos últimos anos: «O cardeal vinha à ‘villa’, deixava-se ver ao meu lado, acompanhava-me como um pai, apoiando-me pessoal e publicamente no momento para mim mais difícil».

Actualizado 16 de Março de 2013

Alessandra Coppola / Il Corriere della Sera



Nas barracas de Villa 21 o Papa Francisco está já numa foto colada num muro. «Na outra noite os habitantes saíram a celebrá-lo» por ruas sem asfaltar e mal iluminadas, entre esgotos abertas e paredes semidestruídas: na favela maior de Buenos Aires todos conheciam ao arcebispo Jorge Mario Bergoglio e o tinham visto pessoalmente. «Celebrava missa e baptizava, vinha constantemente ver-nos, era um de nós». Padre villero, «sacerdote de bairro de lata», tal como os jovens sacerdotes que tinha enviado aos lugares mais obscuros e esquecidos da capital, «sem abandonar-nos jamais: ajudava não só com a sua palavra, mas também com a sua presença constante».

José María de Paolo é conhecido nestes lares como «Padre Pepe». Barba longa, as mangas da camisa enroladas, uma distância oceânica com respeito ao veludo vermelho da Santa Sé, e sem dúvida com um sólido vínculo com o novo Papa. «Ver a pessoa com a qual partilhaste companheirismo sair na varanda vestido de branco... Caraças, que sensação!».

«Ele protegeu-me»
Na missão agora pela província, o padre Pepe considera Bergoglio «um amigo e um pai espiritual»: «Foi ele quem me mandou em 1997 a Villa 21», à frente de uma «equipa de sacerdotes» numa paróquia extrema, situada numa terra de compra e consumo de drogas. Quatro sacerdotes para quarenta mil pessoas: «Graças a ele, à sua presença, conseguimos desenvolver muitos trabalhos de prevenção e recuperação». Graças à intervenção do arcebispo, Di Paola salvou-se: «Tinham-me jurado, ele protegeu-me».

Foi por causa da droga. «Eu coordenava os sacerdotes, corria o ano 2009 e tínhamos feito uma declaração pública sobre o narcotráfico que não tinha controlo nem limite na Villa Miseria, estava devastando todos, incluindo às crianças». Não passou inobservado, e um homem bem vestido e com acento de cidade apressou-se explicar-lhe: «Disse-me que me matariam». Depois vieram as ameaças telefónicas e as cartas. «Mas Bergoglio defendeu-me: durante uma missa na Praça de Maio, no centro de Buenos Aires, falou abertamente das ameaças quando ninguém o sabia. Tanto é assim que os meios de comunicação procuraram-me, começaram a interessar-se, despertou-se a atenção pelo que estava sucedendo. Mas não só isso, o cardeal vinha à ‘villa’, deixava-se ver ao meu lado, acompanhava-me como um pai, apoiando-me pessoal e publicamente no momento para mim mais difícil».

Reaccionário ou progressista?

Branco ou negro, explica José María Poirier, director da principal revista católica argentina, Criterio: «Bergoglio foi um homem de ruptura, ou de fronteira como prefere dizer ele. Austero, sóbrio, severo, distante tanto da teologia da libertação como das correntes de direita». Reaccionário para alguns, progressista para outros: «Não é fácil defini-lo. Manteve juntos os bispos em anos complicados, mas tanto dentro da Companhia de Jesus como da Igreja argentina foi muito amado e muito odiado».

O Padre Pepe adora-o: «Estou convencido de que a sua visão, inclusive agora que é Papa, se dirigirá sempre para os mais pobres».


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