O Papa já não é jesuíta, nem argentino, nem americano; pois, como Vigário de Cristo, transcende todas as particularidades
Buenos Aires,
Algo comum nestes dias é comentar que o Papa Francisco é o
primeiro Sumo Pontífice nascido na América; também que é o primeiro
argentino e o primeiro jesuíta eleito Bispo de Roma. Tudo isso é verdade
até a sua eleição. Pela graça do ministério petrino, Jorge Mario
Bergoglio é o pai comum de todos os católicos – e de certa forma de
todos os outros seres humanos -. Dessa forma poder-se-ia dizer que já
não é jesuíta, nem argentino, nem americano; pois, como Vigário de
Cristo, transcende todas as particularidades.
No entanto, pode ser interessante para os leitores de Zenit,
conhecer certas definições do seu magistério quando era arcebispo de
Buenos Aires. Gostaria de fixar-me especialmente em algumas questões
relacionadas à família, à vida e à dignidade humana. Existe uma
coincidência especialmente significativa para mim: no dia 13 de Março de
2012 a corte suprema de justiça da República Argentina pronunciou uma
decisão iníqua pretendendo legalizar o aborto por petição de tal Nação.
Exactamente um ano depois, no dia 13 de Março de 2013, o Colégio
Cardinalício eleva à Sede de Pedro o Cardeal Primaz da Argentina. Como
se fosse um carinho do Espírito Santo.
No ano passado, por ocasião da assinatura de um protocolo para
realizar abortos nos hospitais públicos da cidade de Buenos Aires, o
Cardeal Bergoglio afirmou com clareza, que “A família é condição
necessária para que uma pessoa tome consciência e valor da sua
dignidade: na nossa família viemos à vida, fomos aceites como valiosos
para nós mesmos... Sem a família que reconhece a dignidade da pessoa por
si mesma, a sociedade não consegue perceber este valor nas situações
limítrofes. Somente uma mãe e um pai podem dizer com alegria, com
orgulho e responsabilidade: vamos ser pais, concebemos o nosso filho. A
ciência olha para isso de fora e faz indagações sobre a pessoa que não
nascem do centro: da sua dignidade”; para concluir que “O aborto nunca é
uma solução. Temos que escutar, acompanhar e compreender a partir do
nosso lugar para salvar as duas vidas: respeitar o ser humano menor e
indefeso, adoptar medidas que possam preservar a sua vida, permitir o seu
nascimento e depois ser criativos na busca de caminhos que o levem ao
seu pleno desenvolvimento”.
É muito conhecido o seu cuidado pastoral com os mais pobres e
indefesos, aqueles aos quais lhes foi tirada a sua dignidade humana. A
sua proverbial austeridade – severa só consigo mesmo -, foi o modo de
pregá-la com o exemplo. A eleição do nome de Francisco é coerente com a
sua vida.
Num dos seus discursos muito conhecido, referindo-se às escravidões
contemporâneas na cidade de Buenos Aires, denunciou a situação dos
meninos de rua, o tráfico de pessoas, o abuso sobre o corpo humano, a
exploração laboral nas maquilas – oficinas clandestinas de
manufaturas -, para concluir – sem ambiguidades – que nas megacidades
secularizadas – e narcotizadas – pelo pós-modernismo, “cuida-se melhor
de um cachorro do que de um ser humano”...
E referindo-se àqueles que se dedicam ao tráfico de mulheres e
crianças, os chamou de “escravagistas”, e os definiu como os “que entram
na cidade aberta para ver o que podem roubar, que vida podem anular,
que crianças podem vencer, que família podem destruir, que mulher podem
explorar”...
O Cardeal Bergoglio sempre pedia aos seus interlocutores, seja em
público ou em privado -, que rezasse por Ele. O Papa Francisco merece
nosso carinho filiar e nossas orações, agora mais antes.
in
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