Luto e alegria em Timor-Leste
| 2 Nov 21
Sentimentos contraditórios vivem-se neste momento entre os católicos de Timor-Leste: enquanto se lamenta a morte e se vela o corpo do bispo Basílio do Nascimento, que morreu no final da semana passada, começa a crescer a expectativa de uma visita do Papa ao país, independente desde Maio de 2000. O próprio Papa Francisco falou há dias dessa possibilidade, que concretizaria, em Janeiro, uma viagem prevista para 2020, adiada por causa da pandemia.
“Ficámos muito felizes e esperamos ansiosamente a vinda do Papa, que é um grande sonho do povo timorense”, diz o jovem padre franciscano Sérgio Soares, ordenado sexta-feira, 29 de Outubro, poucas horas antes da morte de D. Basílio.
Já desde o tempo de Bento XVI (2005-2013) que os bispos e os governantes vinham pedindo uma visita do Papa a Timor-Leste, acrescenta frei Sérgio. “Vivemos muitos anos em guerra”, recorda Sérgio Soares em declarações ao 7MARGENS, referindo-se aos anos de ocupação indonésia, entre 1975 e 1999. “Que a visita nos traga a paz de Cristo e a esperança para construir o nosso país que nasceu da cinza. E que nos possa enraizar a fé em Cristo, porque ele é o nosso Salvador”, acrescenta, sobre os seus desejos para a viagem que o Papa Francisco confirmou que tem intenção de realizar.
Também o provincial dos jesuítas em Timor, o padre Joaquim Sarmento, recorda o encontro recente do ex-Presidente José Ramos Horta com o Papa, em Roma. “Ainda não há data marcada. E há quem diga que o Papa só virá se todos receberem a vacina contra a covid-19”, afirma ao 7MARGENS.
Esta afirmação não é de todo infundada: em Julho, Marco Sprizzi, funcionário da nunciatura apostólica em Timor-Leste, dissera à UCA News que o Papa lhe afirmara que esperava visitar o país em Janeiro de 2022, caso a situação pandémica estivesse melhor. “O Papa disse-me: ‘Vou, vou, vou a Timor Leste’. Portanto, peço ao povo de Timor-Leste que se vacine para que possa acolher a chegada do Santo Padre em segurança” disse Sprizzi.
Concretizando-se a possibilidade de o Papa Francisco visitar Timor-Leste já no próximo mês de Janeiro, a viagem incluiria a Papua-Nova Guiné. “Ainda tenho de pagar a conta atrasada da viagem à Papua-Nova Guiné e a Timor Leste”, disse Francisco à agência noticiosa argentina Telam, numa entrevista publicada no dia 22 de Outubro, citada pela UCA News.
Na entrevista à Telam, o Papa afirmou ainda que tem esperança de visitar a Grécia e Chipre em Dezembro, antes de fazer 85 anos, no dia 17 desse mês. E acrescentou que quer ir também ao Congo e à Hungria – neste último país esteve na capital, Budapeste, durante sete horas, apenas para a missa de encerramento do Congresso Eucarístico Internacional.
O novel padre franciscano Sérgio Soares acrescenta: “Timor-Leste é um país pequeno e está no outro lado do mundo. Com a sua visita, o Papa pode tornar visível o meu país aos olhos de todo o mundo. Por isso, Timor-Leste espera com alegria a sua visita.” E lembra: “Timor Lorosa’e significa ‘a terra do sol nascente’. Que, com a sua visita, nasça no coração do povo timorense o sol da esperança, da justiça e da verdade.”
Cortejo fúnebre de Díli para Baucau
O corpo do bispo Basílio do Nascimento foi entretanto levado nesta segunda-feira, 1 de Novembro, de Díli para Baucau, a sua diocese, onde será agora velado até quinta-feira, data prevista para o funeral. A acompanhá-lo no percurso, seguiram, além dos outros dois bispos timorenses, vários padres, freiras e católicos do país, informou o portal de notícias Suara Timor Lorosae, citado pela UCA News.
Basílio morreu no Hospital Nacional Guido Valadares, em Díli, no sábado, 30 de Outubro, depois de ter sofrido um ataque cardíaco. O Presidente da República de Timor-Leste, Francisco Lu’Olo Guterres expressou já também as suas “profundas condolências à família alargada da Conferência Episcopal de Timor-Leste (CET), à Igreja Católica e à família alargada do bispo”, dizendo que o país “perdeu um patriota que tinha excelentes capacidades intelectuais”, que “defendeu corajosamente pessoas que se juntaram” a movimentos clandestinos “e em esforços diplomáticos no estrangeiro”, durante a luta pela independência.
De acordo com as mesmas fontes, o féretro com os restos mortais foi recebido na catedral de Santo António de Lisboa, em Baucau, onde o bispo Virgílio do Carmo da Silva presidiu à missa.
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