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sábado, 2 de março de 2019

Olhares sobre as pessoas com deficiência


Há dias recebi, pelo Facebook, o discurso de uma jovem actriz que revela bem a urgência de olharmos as pessoas com deficiência com outro olhar que não o do modelo médico, que analisa os défices, procurando compensá-los para devolver à sociedade uma pessoa “integrável”, ou seja, conforme às normas sociais no comportamento, no padrão de beleza, na capacidade de competir, etc., etc. Este modelo continua a dominar e, nas últimas décadas, acrescido do receio de os médicos poderem ser processados se “deixarem nascer” seres com anomalias genéticas, sobre as quais impende o prognóstico irracional de serem pessoas cuja vida não vale a pena ser vivida. Quase sempre é dito que será um “vegetal”, assustando os futuros pais em nome duma “raça pura”. Ou passámos para o modelo da prescindibilidade, usado em Esparta na Antiguidade, mas também por Hitler… Raça pura? Zero defeitos? Quem tem?
A diversidade humana é imensa e o olhar com que se olha os outros catalogando-os, é um risco que Sarah Gordy bem descreve. Ouvi-la (ou lê-la, neste caso) é um encanto. Na sua simplicidade, fala para todos nós, que nos sentimos tantas vezes com dúvidas sobre o nosso valor e o sentido das nossas vidas ao longo do ciclo vital! O que ela diz vem directo do coração e dos seus afectos e a força da sua convicção brota da experiência vivida e da vontade de superação e aceitação do que ela é. Aprendamos com ela a olhar a vida com esperança, acreditando que todos temos um lugar único em todas as fases da vida. Em muitos momentos da nossa vida nenhum de nós corresponde às normas sociais referidas acima.
Para os cristãos, quando se preparam para iniciar o tempo de Quaresma, esta mensagem de esperança e de redenção pode tocar muito, como a mim me tocou:
Vamos embora, construir o futuro!
Discurso de Sarah Gordy, actriz de comédia britânica (que por acaso tem trissomia 21). Ela foi recentemente condecorada pela Rainha britânica e é a primeira pessoa com trissomia 21 a receber um diploma honorário numa universidade britânica. A Universidade de Nottingham homenageou a sua carreira de actriz que milita pela inclusão das pessoas com esta diferença genética.
“Não dêem ouvidos à dúvida. Não liguem às etiquetas que vos põem. Acredite em si! Ninguém conhece o seu potencial. Ninguém conhece o seu futuro. Este tem que ser construído por cada um.
Muitas pessoas, frequentemente médicos, pensaram que eu ia viver uma vida muito limitada. Presentemente eu não digo; ajo, faço. Aprendi de cor textos de escritores talentosos. Actuei na televisão, em palcos, na rádio. Não me limito a falar: faço campanhas, sou militante. Sou uma embaixadora da Associação Mencap e falei nas Nações Unidas, no Dia Internacional da Trisomia 21. Não me limito a andar: agora danço!
Se tivesse acreditado no que as pessoas diziam que eu podia ou não podia fazer, não teria feito nada disto. E não estaria aqui, diante de vós, neste palco, olhando para vós com os vossos maravilhosos diplomas!
Nas vossas vidas existirão talvez momentos em que alguém duvidará de vós… Existirão momentos em que duvidarão de vós mesmos. Não dêem ouvidos à dúvida. Não liguem às etiquetas que querem colar-vos à vossa pele. Acreditem em vós! Ninguém conhece o vosso potencial. Ninguém conhece o futuro. Compete-nos a nós construí-lo. Compete-nos a nós decidir o que queremos fazer.
Vamos embora, construir o futuro! Obrigada.”


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