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sexta-feira, 15 de março de 2019

O Altar, a Cruz e as Velas

Há uns dias em amena conversa com uma irmã depois de um excelente almoço em sua casa, comentávamos com alguma nostalgia, as especialidades culinárias de alguns familiares que já não se encontram connosco. O divinal bacalhau coberto com molho branco da avó Isabel. As lulas recheadas da tia Laura, o cozido da nossa irmã Isabel… Cada uma com a sua especialidade e particularidade. Comentámos qual seria a nossa especialidade. Na verdade os tempos mudaram. O contexto familiar é diferente. Os filhos já seguiram a sua vida. Hoje em dia preferimos fazer uma alimentação simples, sem fritos, com pouco sal, de preferência tudo cozido, saladas e grelhados. São as diferentes dietas… Claro que continuamos a apreciar, cada vez mais, um bom prato tradicional. Isto tudo para dizer que não soube identificar qual era, de momento, a minha especialidade. Já fui confrontada duas vezes com esta pergunta. Também um sobrinho recentemente referia: “A especialidade da tia é comprar já feito, é como a mãe era”. Pronto, tenho de reconhecer que é verdade. Salvo uma data específica comemorativa, possuo outros interesses. Há um tempo para tudo. É a vida a passar, com os seus diferentes ciclos. Permanecem as recordações, o valor da amizade relacional entre gerações, as confidências partilhadas em família, estar ao lado um do outro na vida, em que existe uma solidariedade compartilhada, partilhando as alegrias e as tristezas, mas onde também se integram os amigos mais próximos com os quais nos identificamos e por quem nutrimos uma amizade profunda e sincera, já que a amizade constitui um bem em si mesmo. Jesus disse: “Ninguém tem mais amor do que aquele que dá a sua vida pelos amigos”. Logo, ter um amigo é um bem precioso, o mais necessário de todos os bens, a quem queremos bem, nos interessamos pelos seus problemas, pelas suas dores ou doenças, a quem devemos profunda lealdade, evitando as críticas ou murmurações, procurando facilitar o seu caminho, uma vez que a própria vida se encarregará de trazer amarguras suficientes. Ser amigo nos bons momentos de alegria e bonança é fácil. S. Josemaria in Caminho referiu: “Sê útil, deixa rasto. Ilumina com o resplendor da tua fé e do teu amor”. Graças a Deus, fui privilegiada, com boas amizades ao longo da vida, ainda que algumas delas já não se encontrem entre nós.

No dia de ontem tive oportunidade de participar numa conferência doutrinal. O sacerdote referiu uma frase que deu o mote para o artigo de hoje, referindo-se ao altar, à cruz e às velas: “Ao amor de Jesus, só se pode responder com amor. A cruz significa dar a vida por Deus. As velas, consumir-se por Deus”. Achei lindo. Também acrescentou: “A nossa meta deve ser o infinito, ou seja, o céu, não o finito, a terra”. Particularmente nesta época mais forte da Quaresma, sentimos o apelo de procurar dar um novo horizonte à nossa vida, possuindo a nossa plena, real e continua liberdade de correspondermos ou não, segundo o beneplácito de Jesus e as Suas graças, neste claro/escuro da fé e do seu inefável diálogo connosco, em que frequentemente questionamos: “Qual o desígnio de Deus para a minha vida”? Ut videam! (Que eu veja). Mas somos nós que temos de construir o caminho a este chamamento. S. Josemaria, sobre esta questão algum dia referiu, que ao longo da nossa vida, vamo-nos apercebendo de novas decisões e chamamentos contínuos, em que se torna necessário “limpar as asas para voar mais alto”.

A este propósito de voar, seguindo algumas ideias da conferência, recordo que o homem foi criado para trabalhar como a ave para voar. O pássaro a voar sente-se feliz. Às vezes temos uma preocupação excessiva connosco. Devemos ser menos subjetivos e viver a vida como ela se apresenta, aceitando-a já que. “Jesus está encontra-se sempre a nosso lado como um Pai amoroso, velando por nós”. Um pai está próximo de nós. Deus é meu Pai e eu o que sou para Ele? Ao longo da vida, na história das vocações, uns disseram que sim a Jesus, foram generosos, sabemos deles. Outros receberam o convite de Jesus, tal como o jovem rico que possuía muitos bens, recusaram e não sabemos mais deles. Somos chamados mesmo antes de nascermos. Temos uma alma única e irrepetível. A oração constitui o melhor caminho para um dia podermos chegar ao céu. Torna-se necessário procurar, uma e outra vez, encontrar o nosso caminho, uma luz que dê sentido à nossa vida, neste puzzle que constitui o mundo, onde todos temos uma missão a cumprir, plasmando assim a mensagem do enorme amor de Jesus, por todos os caminhos da terra. ´E Jesus disse: “Segue-me”. Ele levantou-se e seguiu Jesus´. (Mt. 9,9). Que Santa Maria, Estrela do Oriente, intercedendo por nós, nos guie, ilumine e proteja pelos caminhos da nossa vida.

Maria Helena Paes



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