Há uns dias em amena conversa com
uma irmã depois de um excelente almoço em sua casa, comentávamos com alguma
nostalgia, as especialidades culinárias de alguns familiares que já não se
encontram connosco. O divinal bacalhau coberto com molho branco da avó Isabel.
As lulas recheadas da tia Laura, o cozido da nossa irmã Isabel… Cada uma com a
sua especialidade e particularidade. Comentámos qual seria a nossa
especialidade. Na verdade os tempos mudaram. O contexto familiar é diferente.
Os filhos já seguiram a sua vida. Hoje em dia preferimos fazer uma alimentação
simples, sem fritos, com pouco sal, de preferência tudo cozido, saladas e
grelhados. São as diferentes dietas… Claro que continuamos a apreciar, cada vez
mais, um bom prato tradicional. Isto tudo para dizer que não soube identificar
qual era, de momento, a minha especialidade. Já fui confrontada duas vezes com
esta pergunta. Também um sobrinho recentemente referia: “A especialidade da tia
é comprar já feito, é como a mãe era”. Pronto, tenho de reconhecer que é
verdade. Salvo uma data específica comemorativa, possuo outros interesses. Há
um tempo para tudo. É a vida a passar, com os seus diferentes ciclos. Permanecem
as recordações, o valor da amizade relacional entre gerações, as confidências
partilhadas em família, estar ao lado um do outro na vida, em que existe uma
solidariedade compartilhada, partilhando as alegrias e as tristezas, mas onde também
se integram os amigos mais próximos com os quais nos identificamos e por quem
nutrimos uma amizade profunda e sincera, já que a amizade constitui um bem em
si mesmo. Jesus disse: “Ninguém tem mais amor do que aquele que dá a sua vida
pelos amigos”. Logo, ter um amigo é um bem precioso, o mais necessário de todos
os bens, a quem queremos bem, nos interessamos pelos seus problemas, pelas suas
dores ou doenças, a quem devemos profunda lealdade, evitando as críticas ou
murmurações, procurando facilitar o seu caminho, uma vez que a própria vida se
encarregará de trazer amarguras suficientes. Ser amigo nos bons momentos de
alegria e bonança é fácil. S. Josemaria
in Caminho referiu: “Sê útil, deixa
rasto. Ilumina com o resplendor da tua fé e do teu amor”. Graças a Deus, fui
privilegiada, com boas amizades ao longo da vida, ainda que algumas delas já
não se encontrem entre nós.
No dia de ontem tive oportunidade
de participar numa conferência doutrinal. O sacerdote referiu uma frase que deu
o mote para o artigo de hoje, referindo-se ao altar, à cruz e às velas: “Ao
amor de Jesus, só se pode responder com amor. A cruz significa dar a vida por
Deus. As velas, consumir-se por Deus”. Achei lindo. Também acrescentou: “A
nossa meta deve ser o infinito, ou seja, o céu, não o finito, a terra”.
Particularmente nesta época mais forte da Quaresma, sentimos o apelo de procurar
dar um novo horizonte à nossa vida, possuindo a nossa plena, real e continua
liberdade de correspondermos ou não, segundo o beneplácito de Jesus e as Suas
graças, neste claro/escuro da fé e do seu inefável diálogo connosco, em que
frequentemente questionamos: “Qual o desígnio de Deus para a minha vida”? Ut videam! (Que eu veja). Mas somos nós
que temos de construir o caminho a este chamamento. S. Josemaria, sobre esta questão algum dia referiu, que ao longo da
nossa vida, vamo-nos apercebendo de novas decisões e chamamentos contínuos, em
que se torna necessário “limpar as asas para voar mais alto”.
A este propósito de voar,
seguindo algumas ideias da conferência, recordo que o homem foi criado para
trabalhar como a ave para voar. O pássaro a voar sente-se feliz. Às vezes temos
uma preocupação excessiva connosco. Devemos ser menos subjetivos e viver a vida
como ela se apresenta, aceitando-a já que. “Jesus está encontra-se sempre a
nosso lado como um Pai amoroso, velando por nós”. Um pai está próximo de nós.
Deus é meu Pai e eu o que sou para Ele? Ao longo da vida, na história das
vocações, uns disseram que sim a Jesus, foram generosos, sabemos deles. Outros
receberam o convite de Jesus, tal como o jovem rico que possuía muitos bens,
recusaram e não sabemos mais deles. Somos chamados mesmo antes de nascermos.
Temos uma alma única e irrepetível. A oração constitui o melhor caminho para um
dia podermos chegar ao céu. Torna-se necessário procurar, uma e outra vez,
encontrar o nosso caminho, uma luz que dê sentido à nossa vida, neste puzzle que constitui o mundo, onde todos
temos uma missão a cumprir, plasmando assim a mensagem do enorme amor de Jesus,
por todos os caminhos da terra. ´E Jesus disse: “Segue-me”. Ele levantou-se e
seguiu Jesus´. (Mt. 9,9). Que Santa Maria, Estrela do Oriente, intercedendo por
nós, nos guie, ilumine e proteja pelos caminhos da nossa vida.
| Maria Helena Paes |

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