“Depois de oito dias de silêncio, enquanto o país está em chamas e ensanguentado, o Presidente da República, Jovenel Moise, usa as palavras para não dizer nada ou, pior ainda, atirar gasolina ao fogo.” Era assim que se iniciava uma declaração do superior dos jesuítas no Haiti, padre Jean Denis Saint-Felix, intitulada “Catástrofe humanitária, irresponsabilidade de nossos líderes e urgência de diálogo nacional”, citada pela Agência Fides.
Jovenel Moise discursou para um país descontente a 14 de fevereiro (oito dias após o inicio de vários protestos), dizendo que vem tomando medidas para melhorar as vidas dos haitianos e pedindo paciência para as reformas terem efeito. No entanto, o discurso não apresentou nenhuma ideia para minimizar a inflação galopante, que tem levado a condições de vida extremamente precárias para a população que, na sua maioria (60 por cento), vive com menos de dois dólares por dia. Segundo o padre jesuíta, o discurso provocou apenas “desilusão, desgosto, raiva, vergonha” à população, também porque não continha nenhum anúncio de medidas concretas em resposta à crise que paralisou o país, imerso em caos e numa forte emergência humanitária.
Citando analistas políticos e baseado no seu próprio conhecimento direto, o padre Saint-Felix referia as exigências da população descontente: alto custo de vida, justiça social, perda de poder de compra, desvalorização da moeda, demanda por justiça e luta contra corrupção. Além disto, o jesuíta salienta que “crianças de famílias de baixos rendimentos estão a morrer à fome em muitos bairros pobres do país” e pergunta: “Qual é a saída? Até onde vai o Presidente da República?”.
Nas últimas três semanas, o país continua a viver protestos sucessivos pedindo a resignação do Presidente, acusado de corrupção. Pelo menos oito pessoas morreram durante os confrontos policiais e vários turistas têm sido impedidos de sair dos seus hotéis. Adicionalmente, segundo o The Guardian, 78 prisioneiros fugiram da prisão enquanto a polícia lidava com os manifestantes.
O padre jesuíta termina a sua carta afirmando que os religiosos “farão o seu dever de entrar em contato com todos os setores da vida nacional e propor um espaço para refletir sobre os mecanismos atuais desse diálogo necessário”. Para isso, acrescenta, irão “mobilizar todos os recursos, humanos e materiais, contactos e talentos, tanto nacionais como internacionais.”
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