20 Mar 2019 | Cooperação e Solidariedade, Destaques, Newsletter, Sociedade, Últimas |
A maior tempestade de sempre no hemisfério sul afectou perto de dois milhões de pessoas. Uma miríade de organizações estão a tentar conjugar esforços de ajuda no terreno, mas as dimensões da tragédia ainda não são conhecidas. De Portugal também já começou a seguir apoio.

A destruição na cidade da Beira. Foto reproduzida da página do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades de Moçambique no Facebook
Há pelo menos um milhão e 700 mil pessoas afectadas pelo ciclone que se abateu sobre a região marítima da Beira (província de Sofala, Moçambique) e que entrou terra dentro, também no Zimbabwe e Malawi. No final da tarde de terça, 19 de Março, o balanço muito provisório dava conta de um total de 294 mortos nos três países, mas todos temem que este número cresça desmesuradamente, por causa do Idai, o ciclone tropical que pode ter sido a pior tempestade de sempre no hemisfério sul.
A cidade da Beira terá sido uma das zonas mais afectadas – se é possível estabelecer uma graduação na imensa tragédia que se abateu sobre aquela região africana. Uns 90 por cento da cidade terão sido destruídos, de acordo com responsáveis citados pela Cáritas Internacional. O hospital e 17 centros de saúde ficaram parcial ou totalmente arrasados, mas a situação é idêntica em muitas escolas e unidades de saúde. A maior parte das casas estão danificadas, depois de terem voado telhados e objectos. Famílias inteiras nas ruas esperam ajuda que ainda tarda, as autoridades precisam de muitos mais meios para procurar e salvar pessoas, o aeroporto ficou com aviões partidos ao meio nos hangares como mostrou uma reportagem da RTP, estradas e redes de água, saneamento e electricidade desapareceram…

Imagem extraída da reportagem da RTP mostrando a destruição num dos hangares do aeroporto da Beira.
O cenário de caos e destruição na cidade da Beira (centro de Moçambique, 1200 quilómetros a norte do Maputo) é absoluto, depois da passagem do Idai, quinta-feira passada, 14 de Março. Mas o receio maior é que o pior esteja para vir: com as estradas cortadas ou desaparecidas debaixo de água, as autoridades e equipas de salvamento temem que, nas aldeias isoladas, o rasto de destruição seja ainda mais grave do que na cidade. E teme-se, ainda, que o nível da água continue a subir, engrossando ainda mais os rios já convertidos em torrentes de lama.
“Não há muitas casas que não tenham sido danificadas”, contava à Antena 1 Caroline Hagá, representante da Cruz Vermelha Internacional, que falava de uma cidade destruída – até agora, o segundo porto comercial de Moçambique e segunda cidade do país, com mais de meio milhão de pessoas, segundo o Censo de 2017.

“Não há muitas casas que não tenham sido danificadas”, contava à Antena 1 Caroline Hagá, representante da Cruz Vermelha Internacional. Foto extraída da reportagem da RTP
As equipas de ajuda só conseguiram começar a chegar no domingo, 17, para se depararem com um cenário que, de acordo com a Cáritas Moçambique, pode ser a pior crise em várias décadas (num país que viveu uma guerra da independência entre 1964-1974 e uma guerra civil entre 1977-1992). A organização católica importou já 1500 toldos que seguirão para a região afectada. Mas as necessidades são imensas e básicas, a começar por alimentos e água potável. Mas também tendas, mantas térmicas e medicamentos.
Antonio Anosso, um dos responsáveis da Cáritas Moçambique, diz que ainda não é fácil obter informações “porque não há comunicação”, mas faltam essencialmente “comida, água e abrigo”. E acrescenta: “A nossa prioridade na zona do desastre é resgatar pessoas e acomodá-las, registando o grupo afetado. Mas as equipas não têm recursos para responder às necessidades de comida, água e abrigo. As necessidades urgentes são comida, mantas térmicas, água e limpeza, abrigo e sementes.”
Estas são as necessidades urgentes repetidas pela Cáritas Portuguesa, que já disponibilizou 25 mil euros para ajuda de emergência (além de outros cinco mil euros da Cruz Vermelha, como se pode verificar nesta reportagem da TVI). A partir de domingo, a instituição católica de solidariedade abrirá uma linha de apoio financeiro específico para acorrer à situação, disse ao 7MARGENS o presidente, Eugénio Fonseca (o facto de esta ser a Semana Cáritas, durante a qual decorre um peditório nacional cujo fruto reverte para a acção das Cáritas diocesanas, fez com que a instituição nacional decidisse por uma ajuda a dois tempos: os primeiros 25 mil euros destinam-se ao socorro inicial).
Ontem, dia 19, partiu para Moçambique uma missão de reconhecimento, no âmbito de um grupo interministerial criado pelo Governo português, e do qual a Cáritas também faz parte. Na missão, incluem-se elementos do INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica), ANPC (Autoridade Nacional de Protecção Civil) e Forças Armadas. “Só depois de fazer um primeiro levantamento se avaliará o que é preciso”, diz Eugénio Fonseca. A Cáritas, no entanto, está a concentrar esforços precisamente nas necessidades de água potável, cobertores térmicos e tendas.
Até ontem à tarde, estava, contabilizados 84 mortos em Moçambique, 98 no Zimbabwe (além de 217 desaparecidos) e 112 no Malawi. No Zimbabwe, o Governo declarou situação de desastre nacional, com militares, jovens e Protecção Civil a tentar chegar às aldeias isoladas e à cidade montanhosa de Chinamini, próxima da fronteira com Moçambique, isolada depois da queda de quatro pontes.
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