Mensagem do Papa Francisco para o 52º dia mundial de oração pelas vocações
Cidade do Vaticano, 14 de Abril de 2015 (Zenit.org)
Mensagem do Papa Francisco para o 52º dia mundial de oração pelas vocações
Tema: O êxodo, experiência fundamental da vocação
Amados irmãos e irmãs!
O IV Domingo de Páscoa apresenta-nos o ícone do Bom Pastor, que
conhece as suas ovelhas, chama-as, alimenta-as e condu-las. Há mais de
50 anos que, neste domingo, vivemos o Dia Mundial de Oração pelas
Vocações. Este dia sempre nos lembra a importância de rezar para que o
«dono da messe – como disse Jesus aos seus discípulos – mande
trabalhadores para a sua messe» (Lc 10, 2). Jesus dá esta ordem
no contexto dum envio missionário: além dos doze apóstolos, Ele chamou
mais setenta e dois discípulos, enviando-os em missão dois a dois (cf. Lc 10,1-16). Com efeito, se a Igreja «é, por sua natureza, missionária» (Conc. Ecum. Vat. II., Decr. Ad gentes,
2), a vocação cristã só pode nascer dentro duma experiência de missão.
Assim, ouvir e seguir a voz de Cristo Bom Pastor, deixando-se atrair e
conduzir por Ele e consagrando-Lhe a própria vida, significa permitir
que o Espírito Santo nos introduza neste dinamismo missionário,
suscitando em nós o desejo e a coragem jubilosa de oferecer a nossa vida
e gastá-la pela causa do Reino de Deus.
A oferta da própria vida nesta atitude missionária só é possível se
formos capazes de sair de nós mesmos. Por isso, neste 52º Dia Mundial de
Oração pelas Vocações, gostaria de reflectir precisamente sobre um
«êxodo» muito particular que é a vocação ou, melhor, a nossa resposta à
vocação que Deus nos dá. Quando ouvimos a palavra «êxodo», ao nosso
pensamento acodem imediatamente os inícios da maravilhosa história de
amor entre Deus e o povo dos seus filhos, uma história que passa através
dos dias dramáticos da escravidão no Egipto, a vocação de Moisés, a
libertação e o caminho para a Terra Prometida. O segundo livro da Bíblia
– o Êxodo – que narra esta história constitui uma parábola de toda a
história da salvação e também da dinâmica fundamental da fé cristã. Na
verdade, passar da escravidão do homem velho à vida nova em Cristo é a
obra redentora que se realiza em nós por meio da fé (Ef 4,
22-24). Esta passagem é um real e verdadeiro «êxodo», é o caminho da
alma cristã e da Igreja inteira, a orientação decisiva da existência
para o Pai.
Na raiz de cada vocação cristã, há este movimento fundamental da
experiência de fé: crer significa deixar-se a si mesmo, sair da
comodidade e rigidez do próprio eu para centrar a nossa vida em Jesus
Cristo; abandonar como Abraão a própria terra pondo-se confiadamente a
caminho, sabendo que Deus indicará a estrada para a nova terra. Esta
«saída» não deve ser entendida como um desprezo da própria vida, do
próprio sentir, da própria humanidade; pelo contrário, quem se põe a
caminho no seguimento de Cristo encontra a vida em abundância, colocando
tudo de si à disposição de Deus e do seu Reino. Como diz Jesus, «todo
aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou
campos por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e terá por herança
a vida eterna» (Mt 19, 29). Tudo isto tem a sua raiz mais
profunda no amor. De facto, a vocação cristã é, antes de mais nada, uma
chamada de amor que atrai e reenvia para além de si mesmo, descentraliza
a pessoa, provoca um «êxodo permanente do eu fechado em si mesmo para a
sua libertação no dom de si e, precisamente dessa forma, para o
reencontro de si mesmo, mais ainda para a descoberta de Deus» (Bento XVI, Carta enc. Deus caritas est, 6).
A experiência do êxodo é paradigma da vida cristã, particularmente de
quem abraça uma vocação de especial dedicação ao serviço do Evangelho.
Consiste numa atitude sempre renovada de conversão e transformação, em
permanecer sempre em caminho, em passar da morte à vida, como celebramos
em toda a liturgia: é o dinamismo pascal. Fundamentalmente, desde a
chamada de Abraão até à de Moisés, desde o caminho de Israel peregrino
no deserto até à conversão pregada pelos profetas, até à viagem
missionária de Jesus que culmina na sua morte e ressurreição, a vocação é
sempre aquela acção de Deus que nos faz sair da nossa situação inicial,
nos liberta de todas as formas de escravidão, nos arranca da rotina e
da indiferença e nos projecta para a alegria da comunhão com Deus e com
os irmãos. Por isso, responder à chamada de Deus é deixar que Ele nos
faça sair da nossa falsa estabilidade para nos pormos a caminho rumo a
Jesus Cristo, meta primeira e última da nossa vida e da nossa
felicidade.
Esta dinâmica do êxodo diz respeito não só à pessoa chamada, mas
também à actividade missionária e evangelizadora da Igreja inteira. Esta
é verdadeiramente fiel ao seu Mestre na medida em que é uma Igreja «em
saída», não preocupada consigo mesma, com as suas próprias estruturas e
conquistas, mas sim capaz de ir, de se mover, de encontrar os filhos de
Deus na sua situação real e compadecer-se das suas feridas. Deus sai de
Si mesmo numa dinâmica trinitária de amor, dá-Se conta da miséria do seu
povo e intervém para o libertar (Ex 3, 7). A este modo de ser e
de agir, é chamada também a Igreja: a Igreja que evangeliza sai ao
encontro do homem, anuncia a palavra libertadora do Evangelho, cuida as
feridas das almas e dos corpos com a graça de Deus, levanta os pobres e
os necessitados.
Amados irmãos e irmãs, este êxodo libertador rumo a Cristo e aos
irmãos constitui também o caminho para a plena compreensão do homem e
para o crescimento humano e social na história. Ouvir e receber a
chamada do Senhor não é uma questão privada e intimista que se possa
confundir com a emoção do momento; é um compromisso concreto, real e
total que abraça a nossa existência e a põe ao serviço da construção do
Reino de Deus na terra. Por isso, a vocação cristã, radicada na
contemplação do coração do Pai, impele simultaneamente para o
compromisso solidário a favor da libertação dos irmãos, sobretudo dos
mais pobres. O discípulo de Jesus tem o coração aberto ao seu horizonte
sem fim, e a sua intimidade com o Senhor nunca é uma fuga da vida e do
mundo, mas, pelo contrário, «reveste essencialmente a forma de comunhão
missionária» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 23).
Esta dinâmica de êxodo rumo a Deus e ao homem enche a vida de alegria
e significado. Gostaria de o dizer sobretudo aos mais jovens que,
inclusive pela sua idade e a visão do futuro que se abre diante dos seus
olhos, sabem ser disponíveis e generosos. Às vezes, as incógnitas e
preocupações pelo futuro e a incerteza que afecta o dia-a-dia encerram o
risco de paralisar estes seus impulsos, refrear os seus sonhos, a ponto
de pensar que não vale a pena comprometer-se e que o Deus da fé cristã
limita a sua liberdade. Ao invés, queridos jovens, não haja em vós o
medo de sair de vós mesmos e de vos pôr a caminho! O Evangelho é a
Palavra que liberta, transforma e torna mais bela a nossa vida. Como é
bom deixar-se surpreender pela chamada de Deus, acolher a sua Palavra,
pôr os passos da vossa vida nas pegadas de Jesus, na adoração do
mistério divino e na generosa dedicação aos outros! A vossa vida
tornar-se-á cada dia mais rica e feliz.
A Virgem Maria, modelo de toda a vocação, não teve medo de pronunciar o seu «fiat»
à chamada do Senhor. Ela acompanha-nos e guia-nos. Com a generosa
coragem da fé, Maria cantou a alegria de sair de Si mesma e confiar a
Deus os seus planos de vida. A Ela nos dirigimos pedindo para estarmos
plenamente disponíveis ao desígnio que Deus tem para cada um de nós;
para crescer em nós o desejo de sair e caminhar, com solicitude, ao
encontro dos outros (cf. Lc 1, 39). A Virgem Mãe nos proteja e interceda por todos nós.
Vaticano, 29 de Março – Domingo de Ramos – de 2015.
Franciscus PP.
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(14 de Abril de 2015) © Innovative Media Inc.
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